Se o show tem de continuar, como diz o bordão, em tempos de pandemia é preciso saber como. A apresentação do músico Nando Reis ao lado do filho Sebastião, neste sábado (28), no Auditório Araújo Vianna, foi uma experiência que pode trazer respostas à essa questão no momento.
Primeira atividade oficial na casa de espetáculos e em Porto Alegre desde março, o show apresentou-se não apenas como alternativa de entretenimento em meio às incertezas causadas pela covid-19, mas também como teste para avaliar o funcionamento do setor de eventos enquanto o novo coronavírus for uma ameaça.
Além de um repertório de clássicos da carreira do ex-Titãs, o público estimado em cerca de 650 pessoas, conforme a organização, presenciou também uma série de protocolos para minimizar a possibilidade de contágio. Tudo para ficar em dia com o aval dado pelo Comitê Temporário de Enfrentamento ao Coronavírus (CTECOV).
Entre as medidas, além da redução de público — limitado a 30% (1.258) da capacidade total (4.245) — , estiveram entradas e saídas feitas em grupos guiados por uma equipe da casa, chão adesivado para reforçar o distanciamento nas filas de banheiro ou bar, totens com álcool gel 70% em pontos estratégicos e portas laterais abertas durante o show para permitir circulação enquanto o ar-condicionado esteve desligado.
Também houve cuidado com distanciamento interpessoal, obrigatoriedade de máscara, verificação da temperatura, demarcação de assentos e a sanitização do ambiente.
Na entrada não ouve aglomeração, e o fluxo de pessoas seguiu sem transtornos. Por vezes, grupos chegavam ao mesmo tempo, mas eram rapidamente encaminhados. No portão principal, que liga o auditório ao Parque Farroupilha, cada pessoa era direcionada para um corredor que levava ao setor indicado no ingresso.
Em um segundo acesso, profissionais devidamente paramentados com máscara e protetores de rosto recolhiam os bilhetes e aferiam a temperatura. Em alguns momentos, formavam-se pequenas filas (entre três e cinco pessoas, em média), mas o distanciamento era mantido e o público liberado com agilidade.
Parte dos que chegavam não participavam de um evento cultural desde o início das restrições. É o caso da bioquímica Denise Stürmer, 63 anos.
— Acho que vai ser um grande show. O diferencial vai ser um público menor. Quando tem mais gente, há mais calor humano. Mas a expectativa é grande — relatou.
A dentista Bibiana Simionatto, 46 anos, disse que o maior receio era servir de vetor para o vírus.
— Como eu trabalhei durante esse tempo (de pandemia), com todos os cuidados, claro, não tenho medo. Meu temor é contagiar algum pessoa próxima — revelou.
— Como a situação está piorando, nosso receio é contaminar algum familiar, alguém mais de idade — complementou o administrador Helio Bard, 44 anos, marido de Bibiana.
Dentro do Araújo Vianna, uma gravação anunciava os cuidados implementados para a segurança.
A comerciária Ionice Medeiros, aguardava sentada e ansiosa o início do show.
— Ao mesmo tempo que a gente quer estar aqui, fica ansiosa. Mas está tudo bem organizado — avaliou, ao lado da irmã, a assistente de atendimento Michele Joni da Silva.
O show
O espetáculo musical foi em formato violão e voz. Nando subiu ao palco por volta das 21h10min (a previsão era 21h), onde sentou-se rodeado por três violões além do que tinha em punho.
— Reitero que todos tomemos os cuidados recomendados. Só assim conseguiremos atravessar tudo isso e ter esses pequenos alentos que lembram o que um dia foi a vida que conhecemos — pontuou o músico após tocar as duas primeiras canções.
Na primeira parte do show Nando esteve sozinho em cena, privilegiando composições de sua trajetória solo, como Mantra e Rock’ N’ Roll. Na segunda hora, ganhou a companhia do filho Sebastião, homenageado no hit O Mundo é Bão Sebastião, que ficou de fora do repertório na Capital. A dupla dividiu a execução de temas como Eles Sabem, Os Cegos do Castelo e All Star.
Durante as cerca de duas horas de apresentação, o público, majoritariamente de meia-idade, ficou sentado. A reportagem não presenciou aglomerações, nem nos bares, tampouco nos banheiros. Algumas poucas pessoas eram vistas sem máscara quando não estavam consumindo comida ou bebida.
Ao fim do show, a saída principal e as quatro das 10 laterais foram usadas para saída escalonada, com o intuito de promover fluidez sem aglomeração. Mesmo assim, o movimento de saída fez com que as pessoas se deslocassem com certa proximidade, já na parte de fora do Auditório.
O próprio Nando Reis avisou sobre as saídas laterais antes da última música, Marvin, clássico dos Titãs.
— O pessoal da plateia alta sai por cima (entrada principal), e da baixa pelos lados. Obrigado a todos!