Não são apenas os músicos e o público que sentem o impacto da interrupção do circuito de shows dos últimos dois meses. Com o apagar dos holofotes, toda uma cadeia produtiva que trabalhava atrás deles teve suas atividades subitamente interrompidas. A classe de trabalhadores formada por técnicos de som, luz e vídeo, carinhosamente chamada de “graxa” no meio musical, sofre agora com a falta de trabalho, sem perspectiva de retorno – a área de espetáculos deverá ser uma das últimas a realizar sua retomada após a pandemia de coronavírus.
Para minimizar as dificuldades enfrentadas, alguns colegas se organizaram para receber doações e doar cestas básicas aos mais necessitados.
– Eu e minha esposa trabalhamos em uma empresa que comercializa e exporta material para o setor, então por enquanto não precisamos de ajuda. Mas no final de março, não conseguíamos pegar no sono, lembrando dos colegas que já estavam há 15 dias parados. Muita gente trabalha de modo informal, e o desespero começou a bater. Foi nesse momento que nos organizamos – conta Mílton Koprosky, um dos criadores do grupo Graxa RS.
O grupo de Koprosky conta com 13 integrantes. Juntos, distribuem quinzenalmente cestas básicas para mais de 300 famílias em 42 cidades do Rio Grande do Sul. Neste domingo, a partir das 20h, a organização avança mais um passo importante, com a adesão de um grupo de artistas locais por meio da live coletiva Unidos Pela Graxa RS. O encontro virtual será realizado no canal do YouTube do violonista Marcello Caminha (bit.ly/graxalive), que convidará artistas de diferentes estilos e gerações a tocar com ele, a partir de bases gravadas especialmente para a noite. Quem assiste, poderá realizar doações e concorrer a brindes (bit.ly/doegraxa).
Entre os convidados confirmados, estão César Oliveira e Rogério Melo, Thedy Corrêa, Joca Martins, Erlon Péricles, Tonho Crocco, Ricardo Alvis, Ivan Therra, Lizzi Barbosa, Marcello Caminha Filho, Lucas Etcheverria, Rafa Muller e Yuriia Holub.
– A adesão dos artistas está sendo muito grande. Estamos todos sensibilizados com a situação dessa turma que está muito necessitada. É gente que trabalha duro. Começam cedo a montagem dos eventos, sem hora pra acabar – avalia a produtora Luci Caminha, esposa de Marcello, que está organizando a live em parceria com a Graxa RS.
O violonista afirma que a live Unidos Pela Graxa RS se tornará uma série mensal, envolvendo diferentes músicos a cada edição. O projeto deverá se estender até a retomada das atividades culturais presenciais.
– Cada um pode fazer o que está a seu alcance. Transmito lives há um bom tempo, tenho prática e acho que consigo fazer bem. E é algo de extrema importância nesse momento, porque o público pode participar sem sair de casa. A pessoa que quer ajudar, mas não sabe como, poderá participar e se sentir útil. Com uma doação de R$ 10, ela dá uma baita ajuda, já que com R$ 50 compramos uma cesta básica – afirma Marcello Caminha.
As cestas básicas oferecidas pelo projeto contêm itens básicos de alimentação e higiene: três quilos de arroz, três pacotes de macarrão, dois molhos prontos, duas latas de óleo, um quilo de café, dois pacotes de bolacha, um pacote de sal, um pacto de farinha de trigo, dois sacos de açúcar, dois sacos de feijão, um pacote de sal, um pacote de papel higiênico, um creme dental e um sabonete. É o suficiente para fazer algumas crianças saltarem de alegria quando veem os entregadores voluntários.
– É uma cesta simples, não há luxo algum. Mas muitas vezes é única coisa que uma família tem para se alimentar durante uma semana – resume Koprosky