— Sabe onde você tá? É no Baile da Gaiola — disse Rennan da Penha, acompanhado por milhares de pessoas.
O DJ, expoente do funk 150 BPM, não estava no baile no qual fez fama, no Rio de Janeiro, e sim na Praça das Artes, no centro de São Paulo.
Ele subiu ao palco na noite desta sexta (17) com 20 minutos de atraso - o show começaria às 22h30min -, para uma multidão que parecia se multiplicar conforme o tempo passava.
A apresentação ocorreu quase dois meses depois que o funkeiro deixou a cadeia no Rio de Janeiro. No ano passado, ele ficou sete meses detido, após ser condenado a seis anos e oito meses por associação para o tráfico de drogas. Havia sido inocentado a princípio, mas a decisão foi revertida na segunda instância, e ele foi preso em abril.
O show de Rennan da Penha integra o festival Verão Sem Censura, lançado pela gestão Bruno Covas (PSDB) em reação a atitudes vistas como ataques à liberdade de expressão no Brasil. O evento conta com shows, peças de teatro, exposições e debates espalhados pela cidade até o dia 31.
O aquecimento já indicava o tom da apresentação, com um caminhão de funks paulistas. Carioca, Rennan começou tocando seu hit com um funkeiro paulista, Hoje Eu Vou Parar na Gaiola, com o MC Livinho.
Com o microfone em mãos e sempre em contato com o público, Rennan emendou um caminhão de hits. Do bregafunk Hit Contagiante, que sampleia Evoluiu, do MC Kevin o Chris, a Garupa 2, do DJ Henrique de Ferraz, febre em São Paulo.
— Nunca vão silenciar a favela — ele disse, em certa altura. Rennan da Penha virou símbolo do movimento #DJNãoÉBandido, contra a criminalização dos bailes de favela.
Além dos funks contemporâneos, Rennan puxou vários hits antigos, só que com mudanças no andamento. Cerol na Mão, do Bonde do Tigrão, e Atoladinha, do Bola de Fogo ganharam suas versões mais aceleradas, em 150 BPM, ritmo da vertente do funk pela qual ele é conhecido.
Se não tinha o clima hermético dos bailes de favela, o cenário também não deixou a desejar. O palco foi montado em frente à escadaria da Praça das Artes, com o público cercado pelas paredes altas de concreto da construção.
Em uma das paredes, cenas de filmes foram projetadas. Entre eles, Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, O Processo - sobre o impeachment de Dilma Rousseff -, de Maria Augusta Ramos, e Paraíso Perdido, de Monique Gardenberg.
— Cadê a minha rapaziadinha LGBT? — Rennan perguntou, chamando pessoas da plateia para dançar com ele no palco.
— Quando vão me chamar para fazer um evento LGBT aqui?
O DJ já realizou uma edição LGBT do Baile de Gaiola, que ele organizava no Rio.
— Muita gente acha que baile de comunidade é só arma e coisas erradas — ele disse, antes de encerrar o show com Sentadão, hit de Pedro Sampaio, do bregafunk, que deve ser trilha sonora do carnaval.
— Se 60% das pessoas que estão aqui pensaram que não tinham nada para comer, em entrar para o crime, e a música salvou, não é muita gente? Diga não ao preconceito contra o funk.
Em novembro, depois de sete meses preso, Rennan foi contemplado pela decisão do Supremo Tribunal Federal de que um condenado só pode ser encarcerado quando se esgotam todos os recursos (o chamado trânsito em julgado).
Ele angariou fama realizando e tocando no Baile da Penha, que reunia dezenas de milhares de pessoas, semanalmente, no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro.
Foi no Baile da Gaiola, e pelas mãos de Rennan, que o funk 150 BPM -vertente mais acelerada do ritmo- ganhou dimensões nacionais. Hits do MC Kevin O Chris, como Vamos Pra Gaiola e Tu tá Na Gaiola, citam o baile em seus refrões.
Enquanto esteve preso, o DJ de 26 anos ganhou duas categorias no Prêmio Multishow, canção do ano, com a música Hoje Eu Vou Parar na Gaiola, parceria com o MC Livinho, e produtor do ano.
Ele também concorreu a um prêmio de melhor videoclipe no último Grammy Latino. Rennan foi indicado à categoria com o vídeo de Me Solta, parceria com Nego do Borel.