No fim da manhã deste sábado (23), o DJ Rennan da Penha foi liberado do presídio Bangu 9, na zona oeste do Rio de Janeiro, após receber um alvará de soltura da Vara de Execuções Penais do Rio. Segundo o advogado do artista, Allan Caetano Ramos, ele já se encontra com a família.
Em sua conta no Twitter, o funkeiro agradeceu aos fãs pelo apoio e postou uma foto ao lado da mãe e da mulher.
Um dos protagonistas da cena funkeira atual, ele ficou sete meses detido, após ser condenado a seis anos e oito meses por associação para o tráfico de drogas. Havia sido inocentado a princípio, mas a decisão foi revertida na segunda instância, e ele foi preso em abril.
Rennan acabou contemplado pela mesma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que beneficiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — a de que um condenado só pode ser encarcerado quando se esgotam todos os recursos (o chamado trânsito em julgado).
Entenda o caso
A prisão do jovem de 25 anos mobilizou a campanha #DJNãoÉBandido. A Promotoria, ao contestar a inocência garantida a Rennan em primeira instância, sustentou que, segundo testemunhas, ele era olheiro de traficantes e "divulgava música para o tráfico local".
Na época, Rennan afirmou que era comum, numa comunidade, que moradores se falassem caso avistassem uma operação policial. A polícia teria entendido erroneamente que fazia isso a serviço do tráfico, disse.
Uma foto que o DJ postou em redes sociais, com uma arma na mão, também foi usada contra ele. Sua defesa rebateu: era de brinquedo, produzida para o Carnaval e feita de madeira e fita isolante.
A investigação também apresentou um vídeo em que o DJ conversa com traficantes armados e chega a beijar a mão de um deles.
Amigos questionaram. Quem cresce em favela, disseram, conhece bandidos e pode, inclusive, ter crescido com pessoas que depois enveredaram para o crime. Mas isso não faz de alguém um deles.
Na ocasião, a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) repudiou a decisão da Justiça, dizendo que se tratava de uma tentativa de "criminalização da arte popular".
O pedido por sua liberdade foi endossado por artistas, ativistas e políticos, entre eles a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), para quem um "sistema racista e elitista" vitimou o criador do Baile da Gaiola — festa no Complexo da Penha que virou referência entre funkeiros e ponto de encontro de famosos como o jogador Adriano Imperador, que lá tomava uísque com guaraná.
Diversos nomes do funk e da música também manifestaram pedidos de liberdade para o DJ. Um deles aconteceu no Prêmio Multishow, do qual ele ganhou a categoria canção do ano, com a música Hoje Eu Vou Parar na Gaiola, uma parceria com o MC Livinho.
Um dos precursores do funk 150 BPM (mais acelerado) — nacionalmente conhecido pelas músicas "da Gaiola", na voz do MC Kevin O Chris —, o funkeiro também concorreu a um prêmio de melhor videoclipe no último Grammy Latino. Ele foi indicado à categoria com o vídeo de Me Solta, parceria com Nego do Borel.
Segundo Billi Barreto, um dos seus empresários, Rennan pretende ficar com a família e "recluso nos primeiros momentos". Depois, decidirá como retomar a agenda de shows, o que acontecerá "com certeza absoluta", diz. Com a prisão, ele acabou suspendendo turnês marcadas no meio do ano para Europa e Estados Unidos.
Na prisão, recebia a visita da mulher e da mãe, que às vezes levava seus dois filhos, Bryan, de quatro anos, e Rennan Felipe, com dois anos (as crianças têm mães diferentes). Sentia sobretudo saudades de ir à praia.
No dia 24 de agosto, sua equipe compartilhou a reprodução de uma carta que o DJ escreveu na cadeia. Completava, então, quatro meses preso. "Pode parecer pouco para as pessoas aí neste mundão, mas para mim parece uma eternidade."
Em breve, disse Rennan, "estarei nos palcos da vida fazendo vocês dançar muito rsrs". Três meses depois, deixou enfim o presídio.