Ainda que a combinação "roda de amigos + violão" não costume dar muito certo, é assim que Milton Nascimento se refere a um dos maiores acontecimentos da música brasileira. Para ele, o Clube da Esquina foi um singelo "encontro de amigos". A turma formada na década de 1960 em Belo Horizonte incluía Lô Borges, Wagner Tiso, Fernando Brant, Beto Guedes e Flávio Venturini, entre outros grandes nomes.
– Só poderia ter acontecido com a nossa turma mesmo, desde meu começo junto com Wagner Tiso ainda lá em Três Pontas (MG), até minha chegada em BH. Sem a amizade, não teria nada – reflete Milton, em entrevista concedida por e-mail.
Esse é o clima do show que o compositor traz nesta sexta-feira a Porto Alegre, em homenagem aos dois discos homônimos de 1972 e 1978. Aliás, o cantor garante que nunca esteve "tão feliz fazendo uma turnê". O projeto estreou em março e foi o primeiro dedicado aos dois álbuns do Clube. A ideia foi do filho, Augusto, que assina a direção artística dos shows. Wilson Lopes, que toca guitarra e violão, ficou responsável por montar a banda, quer dizer, chamar os amigos: Widor Santiago (metais), Lincoln Cheib (bateria), Alexandre Ito (baixo), José Ibarra (vocais), Ronaldo Silva (percussão) e Ademir Fox (piano).
No Auditório Araújo Vianna, esse grupo tocará clássicos da MPB, priorizando os discos Clube da Esquina e também os álbuns Minas (1975) e Geraes (1976). O repertório deve contar com Tudo que Você Podia Ser; O Trem Azul; Cravo e Canela; Maria, Maria; Nada Será Como Antes e Para Lennon e McCartney, entre outras canções.
Saudoso, Milton relembra o clima informal das gravações do primeiro disco:
– Pouco antes de gravar, a gente foi morar em Niterói (RJ), na Praia de Piratininga. Primeiro foram Lô, Beto Guedes e eu, depois foram chegando todos os amigos, família e agregados. E a casa ficava sempre cheia, nunca vazia, e nesse clima fizemos praticamente o disco inteiro. E quando chegamos no estúdio já tínhamos a coisa toda meio que encaminhada. E as mesmas pessoas que frequentaram a casa também estão do disco.
O show ocorre na véspera do aniversário de 77 anos de Milton. Mas apesar de feliz com a turnê, o músico está desencantado com o momento atual do país.
– Não é que eu esteja triste com a vida, mas com a situação mesmo em geral. Tá tudo muito esquisito... – escreveu a ZH.
O compositor evita falar sobre política, mas nesta semana ficou sabendo que a música Coração de Estudante (sua e de Wagner Tiso) estava sendo usada em um vídeo do deputado estadual Coronel Henrique (PSL/MG). Divulgou uma nota de repúdio pelo uso não autorizado da canção. Questionado, apenas comentou que "as pessoas precisam respeitar os direitos do outro, sempre".
Em sua declaração mais polêmica, dada em setembro à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Milton disse que "a música brasileira está uma merda". O problema? "Não se canta mais sobre a amizade, apenas sobre traição". Sobre isso, também foi sintético:
– Acho que cada pessoa tem o direito de gostar daquilo que quiser. E não só na música, mas em tudo, né?
Na noite desta sexta-feira, Milton faz o que gosta: volta a celebrar a amizade.
Milton Nascimento – Clube da Esquina
- Sexta-feira, às 21h
- Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685)
- Ingressos: R$ 160 (plateia alta central) e R$ 180 (plateia baixa lateral), à venda em uhuu.com, na bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, nº 80, 2º andar) e no local, a partir das 16h.
- Há desconto de 10% para sócios do Clube do Assinante.