— Eu vim para uma festa no mato. Essa festa é com vocês — avisou Gal Costa para a plateia que sequer tinha nascido quando ela despontava nas rádios brasileiras.
A cantora foi a principal atração do Meca, festival que realizou no sábado (12) sua última edição em Maquiné, no Litoral Norte, encerrando um ciclo que começou em 2010 no mesmo local, a Fazenda Pontal. Desde então, o evento ganhou edições em várias cidades brasileiras e aqui no Estado consolidou sua proposta de unir natureza e música alternativa.
Ao contrário das outras edições, em que o destaque era alguma banda estrangeira, como Vampire Weekend ou Warpaint, o evento de 2019 foi dominado por mulheres brasileiras — além de Gal, o palco principal contou com Tulipa Ruiz e MC Tha.
Aos 74 anos, Gal encantou o público composto principalmente de jovens na casa dos 20 anos já na abertura do show, fazendo boa parte deles cantarem junto Dê um Rolê, hino ao amor escrito por Moraes Moreira e Luiz Galvão e imortalizada no disco Fa-Tal - Gal a Todo Vapor, em 1971. Seguiram-se clássicos indiscutíveis, como Vaca Profana, London, London e As Curvas da Estrada de Santos.
O vocal da cantora ganhou uma carga extra de emoção com Motor, hipnotizando o público, que oscilava junto de um lado para o outro. A canção é um cover da banda Maglore gravado no elogiado álbum A Pele do Futuro (2018), bastante influenciado pela música disco. No palco, Gal cantou diante de um enorme globo de espelhos usando uma túnica rosa, colar brilhante e cabelão armado músicas que parecem vir direto dos anos 1970, como Sublime e Cuidando de Longe. No bis, o show virou Carnaval, com a sequência de Brasil, Bloco do Prazer, Balancê e Massa Real. Empolgou tanto que dois fãs chegaram a escalar a estrutura do palco para ver a cantora mais de perto. Para muitos, ali era a primeira vez vendo Gal.
— Já cantava as músicas dela no karaokê, mas nunca tinha visto ao vivo. É um mulherão — comentou a cabeleireira Danila Peres, 33 anos.
— Conhecia a Gal porque meu pai ouvia, mas nunca tinha visto ao vivo — disse a modista Laíssa Zenker, 25 anos.
Atmosfera do evento
A cantora e compositora paulista Tulipa Ruiz teve a difícil tarefa de suceder Gal no palco principal do Meca. Cumpriu a missão com louvor. Com a banda Pipoco das Galáxias, que conta com um baixista, um guitarrista e um baterista, ela apresentou um show dançante e teatral. O hit Pedrinho foi um desfile de técnicas vocais: em certo momento, Tulipa até aperta os lábios com os dedos para criar efeitos na voz. Ao cantar Banho, composição sua gravada por Elza Soares, enrolou uma bandeira de arco-íris no pescoço. Usando um vestido transparente, deu um show também de atuação, movendo-se por todo o palco e soltando gritos como se estivesse tomando parte de um ritual demoníaco. Arrebatou fãs como o estudante de teatro Ricardo Meine, 21 anos:
— Ela tem uma performance maravilhosa, domina o palco em todos os sentidos.
Outra atração muito esperada era MC Tha, que ganhou fama no circuito alternativo por um funk que incorpora outros ritmos brasileiros, especialmente o batuque da umbanda e do candomblé. Ao lado de uma DJ/multi-instrumentista e uma percussionista, a cantora paulista mostrou as músicas do seu álbum de estreia, Rito de Passá, empolgando especialmente com Clima Quente, Abram os Caminhos e Comigo Ninguém Pode. Arriscou também covers de Cartola (Preciso me Encontrar) e Jorge Ben (Jorge da Capadócia).
Entretanto, é preciso dizer que, para muita gente, o grande atrativo do Meca não está no palco principal. Casas espalhadas pela Fazenda Pontal concentram grupos animadíssimos ao redor de DJs tocando desde música eletrônica até funk carioca. Quem queria só descanso sentava em torno de uma fogueira ou perto de um dos lagos da propriedade. Por isso, não faltaram pessoas para quem o motivo de estar ali não era ver um show ou outro, mas simplesmente curtir a atmosfera criada pelo festival, povoado por gente jovem e cheia de estilo.
— A gente veio para ser feliz mesmo — disse, sem rodeios, a dentista Francine Monteiro, 24 anos, enrolada em um cordão de luzinhas de led.