Mahmundi, nome artístico de Marcela Vale, decidiu quebrar o silêncio. A “produtora musical que canta”, como frisou em conversa com GaúchaZH, promete celebrar em comunhão com os porto-alegrenses nesta sexta-feira (25) — assim como fazia na infância e na adolescência, quando se apresentava na igreja — a indicação para o Grammy Latino na categoria álbum pop contemporâneo com Para Dias Ruins, lançado no ano passado.
— Vi toda a minha vida passando. Porque o Grammy, para mim, que adoro indústria, que adoro gravadora, foi uma celebração. Fiquei em silêncio pensando em toda a minha trajetória, desde ficar pedindo para o meu pai comprar um teclado, desde ir para a igreja e passar a tarde lá com um biscoito e um refrigerante, desde ser indicada aos prêmios no Brasil. É uma felicidade porque poucas pessoas conseguem chegar a esses lugares. E não é fácil — declara a carioca.
O momento vivido pela artista de 33 anos, que no mês passado se apresentou no Rock in Rio, reflete suas conquistas após lançar o seu primeiro disco, homônimo, em 2016, quando passou a viajar pelo país com o seu pop nostálgico que remete à década de 1980, fruto de sua pesquisa do estilo musical lo-fi, e passou a “entender como as coisas funcionam”.
— Sou uma mulher negra, periférica, bissexual, do subúrbio do Rio. Vim de uma família com mulheres domésticas, muito trabalhadoras, que me fizeram ver a vida de uma forma melhor. Sou filha adotiva. Tem vários aspectos assim que atravessam histórias. Cada vez que viajo pelo Brasil, encontro várias meninas periféricas, negras, lésbicas, bi, héteros, gordas, brancas, magras, mulheres diferentes... São as histórias de brasileiras que passam por uns percalços, por umas coisas muito desnecessárias — afirma Mahmundi, que há dois meses mora em São Paulo.
A artista destaca que esses últimos anos foram muito importantes em seu “processo de se empoderar”:
— Acho que, quando consegui ver essas coisas, minha caminhada ficou mais esclarecida, porque é muito cansativo viver à margem.
Mahmundi começou a produzir música em 2003, frequentando lan houses e usando o equipamento dos outros — só comprou o seu primeiro computador em 2014 —, e quer estar mais dentro do estúdio, “tocando com outras pessoas”.
— É uma experiência muito curiosa, porque o computador era mais por não ter como fazer com outras pessoas, por conta de grana. E hoje eu volto mais para as minhas origens — destaca, ao relembrar os tempos de igreja, “um lugar onde podia tocar meus instrumentos”.
— A coisa das religiões tem muito isso de trazer as pessoas para um momento mais de comunhão. A igreja era um lugar em que eu tocava, cantava, me sentia parte de uma comunidade. Tem muito essa coisa do servir, do trabalhar em prol de coisas maiores. Trago até hoje esse desprendimento de mim mesma para fazer canção, para fazer música para as pessoas. E, quando faço para elas, me alimento disso também.
A troca com o público na Capital se dará no Agulha, onde a cantora faz show no formato guitarra e violão ao lado do músico Filipe Coimbra. Ela promete um set mais acústico, “tirar um pouco essa coisa do eletrônico, do elétrico”, que a consagrou:
— Cantar também é bom.
Mahmundi
- Sexta-feira (25), às 22h
- Agulha (Rua Conselheiro Camargo, 300)
- Classificação: 16 anos
- Ingressos: de R$ 50 a R$ 100 em bit.ly/MahmundiPortoAlegre ou no local