Marcada por sua capacidade de fazer o público rir, mesmo falando de tragédias pessoais, Clarice Falcão está chegando aos 30 anos com outra “vibe”. A luta contra a depressão, que acompanha a sua vida desde os 16 anos, é o assunto que ganhou atenção no terceiro disco de sua carreira, Tem Conserto, às vésperas do seu aniversário em outubro. Ao contrário de seus álbuns anteriores (Problema Meu e Monomania), Clarice fala sobre um dos males do século 21 de forma muito sincera.
A batalha que é sair da cama e as reflexões que a sua cabeça faz, agravando um quadro de insônia, são alguns dos pontos que a artista retrata em suas nove faixas. Para quem escuta Tem Conserto, lançado em junho, a sensação é de entrar em uma sessão de terapia.
— No disco, busquei ir do ponto mais triste ao pico de felicidade. A depressão, de alguma forma, já estava presente em discos anteriores e acredito que a temática vai voltar em outros trabalhos. É muito a minha vida. É algo que tenho que conviver para sempre. Aprendi a viver de uma forma mais pacífica, está sempre ali — explica Clarice, em entrevista ao GaúchaZH por telefone.
Nas primeiras faixas, abrindo com Minha Cabeça (e seus trechos como “Minha cabeça não quer / Calar a boca / Sequer, por um segundo / Pra eu ouvir os outros”), a artista visita seus piores momentos – é quase um fundo do poço. A partir da sexta faixa, Clarice parece virar o jogo. Em Dia D, ela fala sobre um dos dramas da juventude, o sexo (“Não tem como dar errado / É a minha hora de brilhar”), uma paixão de uma noite só por um DJ em CDJ e reflete sobre a ansiedade de se fazer saídas com amigos em Só +6.
O grande resumo para essa crise existencial é Tem Conserto, faixa-título que fecha o álbum. Nela, Clarice garante que tenta encontrar o equilíbrio e ser honesta consigo mesma (“Vai que eu sou o meu conserto / Dia desses eu me conserto”). Muito desse processo foi feito em reflexão diante da chegada dos 30 anos, a se completarem em outubro:
— Jamais faria esse disco com 25 anos e outra idade. Ele fala totalmente sobre essa mudança, é um disco mais autobiográfico olhando para dentro. Os anteriores eram muito sobre o outro. Foi de fato minha reação aos 30.
Vulnerabilidade
Quem acompanha a carreira de Clarice desde o começo, quando atuou em novelas da Globo até sua entrada para a trupe Porta dos Fundos, sabe que o humor sempre foi a sua saída para lidar com situações embaraçosas. Rir da própria “tragédia” é uma de suas marcas registradas, o que foi deixado um pouco de lado em Tem Conserto.
— Leveza sempre me ajuda e foi algo que usei, não só musicalmente, mas na vida. Se começo a me levar muito a sério, eu entro num vórtex de tristeza e drama, que não me faz bem. Aprendi com a minha mãe (a roteirista Adriana Falcão) a fazer piada das próprias mazelas — explica.
Além de preparar seu novo disco, em junho, Clarice também estrelou a série Shippados, disponibilizada no Globoplay. Na produção estrelada por Tatá Werneck e Edu Sterblitch, a atriz vive Brita, namorada do colega de quarto de Enzo (Sterblitch), que é adepta do naturismo e aparece sem roupas em praticamente todas as cenas.
Para Clarice, foi um desafio pessoal e que ganhou um grande significado: a concepção do que é ser artista em sua vida, algo que também foi visto em seu novo álbum. Foram de três a quatro meses gravando sem nada no corpo.
— Para mim, parte de ser artista é sair da zona de conforto. Gosto de ver o artista vulnerável, é assim que ele emociona e a gente se identifica. Tanto no Tem Conserto como no Shippados, optei em seguir pelo mais livre, que é o lado mais bonito da vida — finaliza.
CLARICE FALCÃO - TEM CONSERTO
- Sexta-feira, às 21h, no Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
- Abertura da casa: 19h30min.
- Classificação etária: 14 anos.
- Ingressos: R$ 100 (inteira),R$ 44 (ingresso solidário),R$ 50 (meia-entrada).
- Vendas c/taxa: online (http://www.sympla.com.br/opiniao)