Com poucos cliques no celular, é possível iniciar a árdua tarefa de encontrar um companheiro. Em tempos de aplicativos de relacionamento e de uma geração que se vê mais confortável em conversar por smartphones do que pelo clássico olho no olho, Shippados debate a busca pela alma gêmea de forma despretensiosa e divertida.
Estrelada por Eduardo Sterblitch e Tatá Werneck, a série lançada em 7 de junho pelo Globoplay tem como personagens centrais Enzo (Sterblitch), nerd com mania de limpeza, com poucos amigos e que enfrenta seus primeiros dias em uma empresa de TI frustrado com uma série de encontros que não deram certo, e Rita (Tatá), atendente de um supermercado infeliz, convicta de que sua cara-metade não existe e que vê a tecnologia como a saída para tudo. Com o sonho de conhecer o próprio pai, que tem a identidade escondida pela mãe, a jovem relata todos os momentos de sua vida em um canal no YouTube.
Enzo e Rita, é claro, acabam se cruzando após encontros que não deram certo. A cada capítulo, eles se aproximam mais e precisam conviver com as maluquices dos roomates de Enzo – o casal Valdir (Luis Lobianco) e Brita (Clarice Falcão), praticantes do nudismo - e os colegas de trabalho Hélio (Rafael Queiroga) e Suzete (Júlia Rabello).
Gente como a gente
Uma das grandes sacadas de Shippados é dar liberdade para Eduardo Sterblitch e Tata Werneck cometerem exageros em cena. Os dois vivem jovens confusos e com muita vontade de experimentar o amor – mesmo sabendo que não são bem-resolvidos consigo mesmos. Em algumas cenas, atropelam as falas, o que dá naturalidade às interpretações. A série remete a um grande stand-up sobre o amor.
Além disso, outro exagero (real) sobre a geração ultraconectada é a necessidade de se checar comportamentos. Em seus primeiros encontros, os dois usam a lista de um site com 10 itens que indicam que estão apaixonados. Quando concretizam o primeiro beijo, fazem um vídeo para falar sobre a sensação aos seguidores de Rita. Ou seja, a internet se reafirma como a casa desses jovens.
Além disso, falar sobre amor em tempos de redes sociais é uma temática necessária. Quais são os limites e até quando o virtual deve se sobrepor ao real? A inteligência do texto de Alexandre Machado e Fernanda Young (do sucesso Os Normais) responde a pergunta em meio aos 12 episódios do seriado. Com direção artística e geral de Patrícia Pedrosa (de Cine Holliúdy), Shippados é uma das boas surpresas do streaming em 2019 e, sem dúvida, merece uma segunda temporada. Até mesmo porque a química de Eduardo Sterblitch e Tatá Werneck é algo raro de se ver hoje em dia.