Se a bossa nova é um dos símbolos da cultura brasileira — principalmente no Exterior —, o grande responsável por isso é o músico João Gilberto. Ao longo de sua carreira, ele ajudou a conceber e foi responsável pelos pilares do gênero musical que revolucionou a cultura nacional entre as décadas de 1950 e 1960.
Morto no dia 6 de julho de 2019, o cantor, compositor e violonista baiano completaria 90 anos nesta quinta-feira (10). Nascido em Juazeiro, em 1931, mudou-se para Salvador em 1949, onde iniciou sua carreira profissional integrando o cast de artistas da Rádio Sociedade da Bahia.
Já em 1950, partiu para o Rio de Janeiro, onde integrou o conjunto Garotos da Lua como crooner. Em 1955, residiu por um período em Porto Alegre, instalando-se no Hotel Majestic.
A estreia oficial em disco ocorreu em 1959, com Chega de Saudade, que traz a composição homônima, de Tom Jobim (1927—1994) e Vinicius de Moraes, que havia sido gravada por Elizeth Cardoso em 1958. Junto aos álbuns seguintes, O Amor, o Sorriso e a Flor (1960) e João Gilberto (1961), o disco ajudou a criar, popularizar e internacionalizar a bossa nova.
Nos anos seguintes, o músico seria reconhecido internacionalmente e se tornaria uma estrela, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Em 1962, já se apresentava no Carnegie Hall, em Nova York, em evento patrocinado pelo Itamaraty para disseminar a bossa nova internacionalmente.
Em 1963, lançaria Getz/Gilberto, ao lado do saxofonista norte-americano Stan Getz. O lançamento foi um sucesso, rendendo quatro troféus no Grammy do ano seguinte, incluindo Álbum do Ano. O disco conta com a participação da cantora Astrud Gilberto na faixa The Girl From Ipanema, que tornou-se um dos hits do ano. Até hoje, é considerada a música brasileira mais conhecida no mundo.
Devido ao grande sucesso do álbum, João Gilberto seguiu com agenda nos Estados Unidos e na Europa, principalmente na Itália e na Alemanha. No Brasil, era tratado como estrela internacional em programas de TV como O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina. Nessa época, começou a se relacionar com novos nomes da música nacional, como Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil.
Em 1973, lançou seu conhecido Álbum Branco — oficialmente intitulado João Gilberto —, que reforça o protagonismo do violão e da voz do artista em suas músicas. Com Amoroso (1977), foi novamente indicado ao Grammy na categoria Melhor Performance Vocal de Jazz. No final da década, o músico voltou a viver definitivamente no Brasil, o que rendeu especiais para a TV e o disco Brasil, com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, que o tratam como espécie de guru.
Em 1992, já com a produção em discos mais tímida, reencontrou-se com Tom Jobim em dois shows patrocinados pela cerveja Brahma. Ao longo da década de 1990, fez uma série de shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em 2000, lançou João Voz e Violão, que mostra composições e interpretações suas em formato ainda mais cru do que os registros anteriores. O trabalho recebeu o Grammy na categoria Best World Music Album.
Após 14 anos de ausência dos palcos cariocas, apresentau-se no Theatro Municipal do Rio, em 2008, celebrando os 50 anos da bossa nova.
Na última década de vida, João Gilberto estava recluso em sua casa, no Rio de Janeiro. Nesse período, enfrentou um longo e árduo processo contra a gravadora Universal Music, acusada de esvaziar o patrimônio da EMI justamente para não lhe pagar os devidos créditos. Também havia sido interditado e estava sob a tutela provisória da filha Bebel Gilberto.