Nas semanas que antecederam o lançamento de seu novo disco – nesta sexta-feira (26), nas plataformas digitais –, o Quarto Sensorial divulgou no YouTube os clipes de O Escapista e Restaurante Dançante para dar um gostinho do que vinha por aí. Foi a primeira vez que o trio instrumental gaúcho trabalhou com singles, e é o mais perto que eles conseguem estar do que poderia ser chamado de establishment. Porque Escapista, o disco (escreve-se sem o artigo do título da música), é um manual sobre como não se adequar a regras.
A referência vem de um documentário sobre o célebre ilusionista Harry Houdini (1874-1926). Enquanto assistia, o guitarrista Carlos Ferreira pensava sobre a forma como as pessoas se desdobram para sair de determinadas situações e também sobre como a banda que ele mantém há 12 anos com o baixista Bruno Vargas e o baterista Martin Estevez é, ela mesma, uma escapista:
— Estamos há cinco anos sem lançar nada. Temos uma coisa anti-establishment, uma falta de necessidade de nos expor o tempo inteiro, caçando likes. Ficou sincero, artisticamente falando.
Com 12 faixas, este é o primeiro álbum do Quarto Sensorial depois de Halteroniilismo (2014), sem contar Frankenstein (2018), trilha sonora para o clássico do cinema de 1931 composta em parceria com Fu_k the Zeitgeist — codinome do músico Valmor Pedretti Jr., que participa do novo trabalho, assim como o saxofonista Ronaldo Pereira e o artista Diego Medina, responsável pela capa e pelos clipes.
Em contraste com o trabalho de cinco anos atrás, Escapista é dotado de um senso de urgência, com músicas curtas, em sua maioria. Algumas não chegam a um minuto, e uma delas, Guanabara '04, tem 24 segundos. O cerne do trabalho é o que eles chamam de "Suíte Desgraceira", sequência de composições breves que vai da quinta, Restaurante Dançante, até a 11ª, Admirável Mudo Novo, tocadas sem pausa nos shows. É o que o público poderá conferir nesta sexta, às 22h, no lançamento do disco no Agulha, em Porto Alegre.
Produzido por Ferreira, Escapista é tudo que os ouvintes do Quarto Sensorial poderiam esperar: uma fusão de gêneros que passa por rock, free jazz, frevo e surf music. Mas não é mais do mesmo. É agressivo, direto e concentrado, o mais próximo que eles acreditam já ter chegado em estúdio da experiência de ouvi-los ao vivo.
— Gravamos e tocamos de um jeito diferente – diz Bruno Vargas. – Até Halteroniilismo, eu ficava preocupado demais com os aspectos técnicos. Desta vez, foi mais natural, chegamos determinados a tocar forte. O Martin usou um kit de bateria menor, e o Carlos dobrou as guitarras (técnica de gravação que soa como se houvessem dois guitarristas).
O hiato de cinco anos entre Halteroniilismo e Escapista não foi planejado. Estevez passou um tempo estudando fora, e os demais se envolveram com outros projetos. Todas essas experiências contribuíram para um crescimento musical e pessoal. Com idades entre 32 e 34 anos, eles já identificam uma nova geração de músicos na cidade, na faixa dos 20, com os quais pretendem interagir, como diz Ferreira:
— Estou curioso para ver como será esse diálogo. Acho que vai ter gente que não conhecemos indo nas apresentações.
Por trás do som instrumental, Vargas acredita que o trabalho chega com algo a dizer:
— Tem muitas coisas absurdas rolando diariamente, então não me vejo confortável no papel de falar que as coisas estão bem. Como artistas, nosso papel em 2019 é gritar, botar pra fora.
O lançamento de Escapista nesta sexta, com distribuição da Tratore, será seguido pela entrada de toda a discografia nos serviços de streaming — até agora, estava disponível no Bandcamp e no YouTube. Não há previsão de lançamento de mídia física.
Quarto Sensorial – "Escapista"
Nesta sexta-feira (26), às 22h. Abertura do bar: 19h. Show de abertura: Fu_k the Zeitgeist.
Agulha (Rua Conselheiro Camargo, 300), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 25 (1º lote solidário, com a doação de 1kg de alimento não perecível ou item de higiene pessoal, entregue na entrada) e R$ 50 (inteira), à venda no Sympla. Na hora, a R$ 30 e R$ 60, respectivamente.