O conceito de zona autônoma temporária proposto pelo escritor norte-americano que atende pelo pseudônimo de Hakim Bey descreve aglomerações sociais espontâneas e sem hierarquia que, por durarem um espaço curtíssimo de tempo e serem formadas por pessoas mais ou menos parecidas, geram espécies de sociedades alternativas efêmeras.
Carlinhos Carneiro gosta de descrever a Império da Lã não como uma banda ou projeto musical, mas um “juntêdo”. São músicos (ou não) gaúchos (ou não) que se reúnem periodicamente (ou não) para tocar músicas (ou não) suas (ou não) — uma espécie de zona autônoma temporária musical, portanto. Criado em 2007 pelo líder da Bidê ou Balde, o projeto já contou com mais de cem integrantes entre suas incontáveis formações e chega a 2019 já distante da ideia inicial de “projeto paralelo”: acaba de lançar Tôco Maravilhoso, seu segundo álbum oficial, completa cinco anos de saídas de seu bloco de Carnaval na festa porto-alegrense e, nesta quinta-feira (6), retoma o projeto Império da Lã Novelas, com show no Ocidente (Av. Osvaldo Aranha, 960).
Sucessor de Só no Pallets (2007) e do EP Saudades de Beber (2014), Tôco Maravilhoso também parte de um título criado em meio a piadas internas — superficialmente abordadas em áudios de WhatsApp reproduzidos na penúltima faixa do disco —, mas é o registro mais bem acabado da Império da Lã até agora. Com participação de 23 instrumentistas, advindos de bandas como Dingo Bells, Cartolas, Pública, Ultramen, além de artistas como Fabão, Adriana Deffenti e Eduardo Pitta e o já famigerado Homem da Sunga (confira a lista completa abaixo, na arte estilo Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band criada pelo fotógrafo Fábio Alt para o lançamento do álbum), o disco vai da latinidade de Louca pra Ir pra Praia ao hino pop à desobediência civil dançante Dançando no Giroflex, passando por experimentações eletrônicas como Meia Parcela (Seu Governador), recado ao ex-chefe do Executivo estadual José Ivo Sartori, e a psicodélica Lucina, versão de uma das primeiras músicas da extinta banda gaúcha Superguidis. A maior parte das composições surge de brincadeiras entre os membros, estimuladas pelo imperador Carneiro.
— São todas da galera, algumas feitas no palco, na hora do show. Esse é o primeiro disco que soa exatamente como essa ideia original da Império, que é um grupo sem estilo fixo, sem repertório, sem formato. Tem a ver com o mundo de hoje, é um canal formado para reunir toda essa galera para fazer coisas coletivas, plurais e efêmeras — filosofa o imperador.
Show de trilhas de novela é mais uma faceta imperial
Amanhã, Carlinhos Carneiro une-se a Pedro Petracco, Chico Bretanha, Cristiano Sassá, Chico Paixão, Leonardo Boff e Marcelo Granja para mais uma edição do projeto Império da Lã Novelas — em que o grupo toca só canções que fizeram parte de trilhas famosas. Desta vez, o grupo inclui músicas internacionais e chama Adriana Deffenti e Gaby Ferreira para os vocais femininos. Mais uma das facetas que o juntêdo pode assumir.
— Esse show é completamente outra pilha. Diferente do bloco de Carnaval e diferente do disco. Cada coisa ter uma pilha diferente é exatamente a pilha da Império da Lã — explica Carlinhos, que deve ser menos crooner e mais mestre de cerimônias.
Na lógica imperial, não é improvável, portanto, que tocar trilhas de novela leve a composições que podem estar em um um terceiro disco. A ver.
Quem é quem
Sem formação definida, a Império da Lã angaria membros de diversas bandas — e mesmo amigos que não exatamente músicos — para suas apresentações e shows. A maquete, produzida pelo fotógrafo Fábio Alt, mostra os 23 membros imperiais que participaram da gravação de Tôco Maravilhoso. Acima, cada um está identificado com um número referente à legenda abaixo. Confira os 23 músicos (ou não) que participaram da gravação:
- Carlinhos Carneiro
- Chico Bretanha
- Marcelo Granja
- O Cara da Sunga
- Vicente Guedes
- Felipe Kautz
- Colibri Voador
- Marcelo Brack
- Jojô Lalá
- Pedro Petracco
- Adriana Deffenti
- Gabriel Carabala
- Cristiano Sassá
- Eduardo Pitta
- Guri Assis Brasil
- Tiago Guerra
- Fabão
- Lipe Albuquerque
- Rodrigo Fischmann
- Gilberto Junin
- Gui Almeida
- Gabriel Guedes
- Maurício Nader