Se há uma sonoridade representativa da música típica do Rio Grande do Sul, é o choro da gaita. Chamado por uns de acordeom e por outros, mais ao Norte, de sanfona, o instrumento é a base de grande parte das bandas tradicionalistas e faz parte do DNA da cultura gaúcha.
Mas, há 20 anos, um grupo de cinco músicos apaixonados pelo instrumento revoluciona o que o acordeom representa no Estado. É o Quinteto Persch, único grupo de música erudita no Brasil com uma formação de cinco gaiteiros, que comemora duas décadas com uma apresentação especial neste sábado (20), às 21h, no Parangolé Bar (Rua Lima e Silva, 240).
Formado por Adriano Persch, André Machado, Daniel Castilhos, Ezequiel de Toni e Rodrigo Persch, o grupo vai de Johann Sebastian Bach, Aram Khatchaturian e Astor Piazzolla a autores brasileiros como Radamés Gnattali, Ernesto Nazareth e Toninho Ferragutti. O nível de excelência que os cinco instrumentistas alcançaram ficou claro na recente entrega do Prêmio Açorianos de Música: além da indicação a melhor disco erudito, por Chiquinho & Radamés (CD-livro lançado em parceria com Arthur de Faria, que celebra o encontro do maestro Radamés Gnattali com o instrumentista Chiquinho do Acordeon), o grupo emplacou cinco indicações ao troféu de instrumentista — ou seja, a lista era composta exclusivamente por membros do Quinteto Persch, com todos eles indicados. E o prêmio acabou sendo entregue para todo o grupo.
— Para nós também foi uma surpresa. Nunca tinha visto acontecer — diz Adriano Persch, o criador do grupo: — Surgimos com o intuito de propagar o acordeom na música de câmara instrumental, de chegar a lugares onde o instrumento tem dificuldade de acesso. Temos excelentes acordeonistas no Estado, mas todos com enfoque na música regional.
A iniciativa do Quinteto é realmente peculiar: se não há projeto parecido no Rio Grande do Sul, no Brasil e na América Latina também não são muitos os que se encontram pelo mundo. O acordeom como instrumento erudito é mais presente em países como a Rússia, lembra o músico e parceiro regular Arthur de Faria, um apaixonado pelo quinteto.
— Conheço eles há alguns anos, e é algo impressionante. Primeira coisa que eu pensei foi: “Justamente no Rio Grande do Sul, esta terra de gaudérios, cinco gaiteiros vão se juntar para tocar vanerão, e não música erudita. Eles chegam a um nível de realização, de capricho, que é inacreditável — derrete-se o músico, que fez o trabalho de pesquisa sobre Radamés Gnattali e Chiquinho do Acordeon lançado junto com o disco do grupo e atualmente trabalha em um concerto para o quinteto, para ser tocado ao lado de uma orquestra.
Projeto ousado, que ainda não tem data para estrear.
Distância entre os músicos não impede ensaios do grupo
Se Adriano mora em Bom Princípio, os outros membros do Quinteto vivem em Bento Gonçalves, Barão, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Semanalmente, saem cada um de se sua cidade e se encontram na casa de Adriano para ensaiar. Esforço que não tira do grupo o ímpeto de seguir com a carreira. Todos trabalham como professores em suas cidades. É claro que, em algum momento, todos tocaram gaita em grupos, digamos, de apelo mais popular – Adriano tocou por muito tempo com Leonardo, compositor e intérprete de Céu, Sol, Sul, entre outras.
Neste sábado, o repertório apresentado pelo grupo mostrará não só o valor da intepretação do Quinteto Persch para composições eruditas, mas também o trabalho extenso e importante de pesquisa que os instrumentistas promovem: como o grupo segue a formação de uma orquestra de câmara, as cinco gaitas fazem os papéis dos primeiros e segundos violinos, das violas, dos violoncelos e dos contrabaixos. Para isso, é preciso que as partituras sejam adaptadas, num trabalho braçal e raro.
— Tudo isso é pelo amor à música — resume Adriano.
Quinteto persch (Sábado, às 21h, no Parangolé Bar — Rua Lima e Silva, 240, com cobrança de couvert artístico de R$ 15)