A evolução pessoal vivida por Filipe Ret fica clara em sua produção musical: seu terceiro disco, Audaz, lançado no final do ano passado, marca não só uma nova etapa na maturidade artística do rapper, mas também em sua abordagem pessoal – o disco já está disponível nas plataformas digitais com 13 faixas. Parte final da trinca que começou com Vivaz (2012) e teve sequência em Revel (2015), o álbum é o retrato de um Filipe Ret pai de uma criança prestes a completar dois anos.
Não à toa, consegue ser, ao mesmo tempo, seu disco mais maduro e mais ousado – Ret chegou a sentar ao lado dos produtores para preparar os próprios beats, algo que nunca tinha feito. O show será apresentado neste sábado, às 23h, no Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
Recentemente, o rapper explicou em entrevista o significado dos três discos: "São minhas três personalidades", resumiu. Espírito, cérebro e corpo; feminino, bi e masculino; direito, esquerdo e esférico – 33 faixas que mostram os três lados em três discos. Loucura.
É claro que hits dos álbuns anteriores, como Vivendo Avançado, Neurótico de Guerra e Invicto, devem dividir espaço com as recentes Retiavéliko, A Libertina e Santo Forte. Mas o Ret do palco deve ser, inevitavelmente, o novo Ret. Os ingressos em primeiro lote já estão esgotados, e os do segundo lote custam R$ 55 em valor promocional, mediante doação de alimento.
Você se envolveu na produção deste disco também. Como foi isso? Pensou nos beats e tudo?
Sim. Eu dirigi mais a produção, quis mostrar mais minha visão musical nesse projeto. Sempre escolho os beats, mas nesse eu interferi muito mais neles. Foi o disco em que eu comecei a gostar de estúdio, diferentemente dos anteriores, em que eu só entrava no estúdio para colocar voz.
Teu filho é bem pequeno, né? Foi o primeiro disco depois do nascimento dele? Como essa vida em família mudou tua arte?
A vida ficou muito mais corrida, sem dúvida. Ainda mais que eu tive que me mudar do lugar onde morava para um lugar um pouco maior. Então foi mudança, bebê e disco, tudo ao mesmo tempo. Theo veio injetando adrenalina e desafio na minha vida, e eu estou muito feliz e disposto a trabalhar mais e enfrentar mais desafios. O disco consequentemente saiu mais maduro sonoramente, foi instinto paterno (risos).
Como você escolheu as participações especiais?
Escolhi as pessoas com que eu sempre quis fazer um som: Marcelo D2, Flora Matos e BK. E no funk, MC Deise e TH. Sou fã de todos eles. Foi divertido demais ter eles nesse projeto.
O Brasil tá passando por uma série de mudanças, que incluem Bolsonaro na Presidência. Qual é o papel do rapper neste momento?
O papel do rapper é fazer pensar, fazer os jovens usarem mais as palavras do que a violência. Estimular os jovens a argumentar, ampliar o vocabulário, expressar sua atitude em relação a tudo que nos incomoda. E é extremamente prejudicial ter um presidente que não se atualizou em relação ao mundo, que ainda não reconhece a importância de pautas como racismo, homofobia, feminicídio, desarmamento etc. Não defendo o governo anterior jamais, não sou petista nem comunista. Mas é preciso estar do lado do povo. Temos que colaborar para reduzir o abismo das diferenças de oportunidades que esse país tem.