Grande expoente da música instrumental brasileira, o grupo paulista Trio Corrente volta nesta sexta-feira a Porto Alegre para sua primeira apresentação no Café Fon Fon (Rua Vieira de Castro, 22). É uma oportunidade para os aficionados por jazz, Bossa Nova e MPB conferirem de perto a banda em ação, em um show intimista, já que a casa comporta até 70 pessoas. Para acomodar todo o público, o café organizou três apresentações: sexta e sábado, às 21h30min; e domingo, às 20h30min – os ingressos custam R$ 105 (antecipado) e R$ 120 (na hora).
O trio gravou seu sexto álbum, o ainda inédito Tem que Ser Azul, em Milão, na Itália. A data de lançamento ainda não foi definida, mas algumas novidades já estarão no palco da Capital.
– Tocamos muito na Europa. Em uma dessas jornadas, um produtor italiano gostou do nosso trabalho e nos convidou para gravar e lançar um disco pelo selo dele, especializado em jazz. Estamos organizando datas para uma turnê de lançamento lá – explica o baixista Paulo Paulelli.
Com 18 anos de estrada, o trio formado por Paulelli, Fabio Torres (piano) e Edu Ribeiro (bateria), consolidou sua carreira internacional em 2014, com a conquista do Grammy de melhor álbum de jazz latino por Song for Maura, gravado em parceria com o cubano Paquito D’Rivera. Pelo mesmo trabalho, também venceram, na mesma categoria, o Latin Grammy. Com tanto tempo de convivência, os músicos se sentem à vontade para subir ao palco sem um setlist rígido.
– A gente costuma fazer o setlist no camarim, pouco antes do show. Mas tudo pode mudar, conforme a reação do público e nosso desejo de tocar. Se der vontade de trocar uma música por outra, a gente troca na hora – afirma Paulelli.
Apesar de assegurar que o repertório não é fixo, o baixista prevê que a canção Amor Até o Fim, de Gilberto Gil, deve estar presente nas três apresentações.
A interpretação do tema sintetiza o estilo do grupo, que mescla virtuosismo com momentos de harmonias mais sutis, sempre partindo da música brasileira. A faixa já foi gravada pela banda no disco Volume 2, e ganhará um novo registro em Tem que Ser Azul.
– É curioso tocar Amor Até o Fim, porque é comum que músicos nos procurem depois do show pedindo nossa partitura, por terem gostado do arranjo. Mas a gente toca sem arranjo, de improviso. Isso é uma coisa bonita do trio. Por conta da nossa convivência, cada um sabe o que fazer, é só um olhar para o outro. E a cada vez ela é tocada de um modo diferente.
Mais uma música que deve se destacar do novo álbum é a faixa-título. Tem que Ser Azul já foi gravada por Claudette Soares e Agnaldo Rayol, e foi composta por uma das maiores influências de Paulelli, o guitarrista Messias Santos Jr. (1941-1985). Exímio instrumentista, companheiro de palco de Elis Regina e arranjador de algumas gravações de João Gilberto, Messias era tio de Paulelli, e presenteou o sobrinho com seu primeiro disco de jazz, aos 10 anos. Era o álbum Jazz Cello, do baixista americano Ray Brown (1926-2002).
– Era um músico de uma sensibilidade muito grande. Acabou morrendo muito cedo, em um acidente de carro, mas pude ter essa convivência com ele na infância. E ele já dizia para minha mãe: “Esse menino vai ser músico” – recorda Paulelli.
Acostumado a tocar para entusiastas do jazz fora do Brasil, Paulelli avalia que a cena nacional do gênero passa por um bom momento:
– O cenário mudou um pouco, algumas casas fecharam, mas outras abriram. Fico muito contente com a consolidação de casas como o Fon Fon, por exemplo, em que é possível tocar perto do público. Isso gera uma interação muito bacana dos músicos com quem está assistindo. Esses espaços acabam formando uma plateia, que confia na sua programação. Além disso, o Brasil tem um cena crescente de festivais de jazz, muito positiva para os músicos.
Trio Corrente
Sexta e sábado, às 21h30min; e domingo, às 20h30min.
Café Fon Fon (Rua Vieira de Castro, 22).
Ingressos a R$ 105 (antecipado, pelo aplicativo do Café Fon Fon, disponível para Android e iPhone) e R$ 120 (na hora).