Foram mais de 17 anos de estrada, sete discos lançados e uma trajetória marcada por hits radiofônicos, mas esta história precisava de uma virada. Em outubro do ano passado, a banda Vera Loca anunciou uma pausa para os integrantes poderem se dedicar a projetos pessoais e profissionais. Um dos mais intensos e aguardados é o disco Fabrício Beck e Bando Alabama, do vocalista do grupo formado em Santa Maria, que ganha seu lançamento oficial nesta quinta-feira (14), no bar Sargent Peppers, em Porto Alegre. O álbum foi liberado no fim de novembro nas plataformas de streaming e em cópias físicas.
Nesse novo caminho, o blues se apresentou como uma libertação para Fabrício. Para ele, foi a hora de abrir as gavetas e apresentar ao mundo composições que sempre "quis passar para a frente", com 100% de seu sentimento e expressão artística. Ou seja, não havia a preocupação de entrar em sintonia com outros integrantes de uma banda, como na produção das canções e álbuns do Vera Loca. O álbum também deu ao artista espaço para falar de amor:
— Não falávamos abertamente sobre amor (na Vera Loca). Eu nunca deixei de escrever sobre ele. É claro que gosto de falar sobre cotidiano, contar histórias, mas o tema amor e relacionamentos tem tudo a ver com o blues. É o amor sendo mostrado de maneira leve, bacana — explica Beck.
As composições tiram inspiração de grandes storytellers da forma canção, como Bob Dylan, retratando situações do dia a dia, em que as letras "se parecem com um filme, em que você lê e viaja".
— Aqui do Brasil, composições de artistas como Cazuza e Humberto Gessinger também me ajudaram, são meus ídolos neste quesito. Isso sem falar na minha paixão por Vinícius de Moraes e Tom Jobim — lista.
Além de grandes nomes da música mundial, um importante nome para a concepção do material é Toyo Bagoso, idealizador do Mississipi Delta Blues Festival, considerado o maior festival de blues da América Latina.
— Ele sempre achou legal como escrevíamos o blues em português no Vera Loca, e dizia que deveríamos continuar investindo nisso. Ele cobrava isso de nós, até que esse dia chegou. Não tive a preocupação de fazer um disco totalmente desse estilo, mas foi algo verdadeiro mesmo — acredita Fabrício, que divide o palco com Sergio Selbach no contrabaixo, Alexandre França na guitarra solo e Clark Carballo na bateria no evento de lançamento.
Entre as 10 canções de seu material solo, Beck fala sobre o amor, relacionamentos e idas e voltas em romances. Tudo com uma atmosfera carregada — mas nem por isso depressiva. Muitas das letras falam sobre situações vividas pelo próprio artista e de sua relação com outras bandas que influenciaram seus pensamentos e formação musical.
Um deles é o trabalho do Garotos da Rua e de Bebeco Garcia, descritos principalmente na faixa Tudo É Passageiro, com uma narrativa passada em uma estação de trem.
_Quando se falou em produzir um disco de blues, nunca imaginei algo mais blues do que eles. Nunca me importei com julgamentos, mas sempre achei bacana a maneira como eles faziam o blues rock. Lembra muito a nossa fase de quando chegamos em Porto Alegre 17 anos atrás e saíamos para ver Bebeco e seus shows — recorda Beck.
Rosas para Maria Helena
Em Ambiente Familiar, o artista lembra do período em que o bluesman Toyo Bagoso abriu o bar Mississipi Delta Blues, em Caxias do Sul, e que ele queria que o ambiente fosse totalmente livre de cigarros — dez anos atrás, quando não existia ainda este tipo de proibição:
— Tenho pavor de fumo, mas quando fui pensar na nossa amizade, lembrei desta história. Passaram anos e comecei a fazer um filme na cabeça: da fila do banheiro, da banda, dos lugares e das pessoas correndo para o caixa. Me lembrei disso do bar, que ele iria abrir totalmente em um espírito familiar. Virou música mesmo e nem imaginava que iria virar lei — diverte-se.
No entanto, uma das canções de maior significado para o artista é As Rosas Não Falam. Releitura do samba de Cartola, de 1974, e que ganhou fama com a gravação de Beth Carvalho em 1976. Beck confidencia que a música fez parte de sua infância: ele cresceu em uma casa que tinha uma "academia de música", com a mãe Maria Helena sendo professora de piano e inserindo-o no contato com o chorinho e a bossa nova. Ela morreu dois anos atrás.
_ É uma canção que canto desde criança na versão original, e quando eu pensei em fazer uma releitura de algo, logo me veio em mente. Minha mãe sempre me acompanhava no piano e, como ela partiu, não deixa de ser uma homenagem.
SHOW FABRÍCIO BECK E BANDO ALABAMA
- Quando: nesta quinta-feira, a partir das 21h, no Sgt. Peppers (Rua Quintino Bocaiva, 256).
- Ingressos: R$ 30 (antecipado) e R$ 40 (na hora).
- Vendas online: http://bit.ly/showfabricio
- Classificação indicativa: 18 anos