David Gilmour, o guitarrista, cantor e compositor à frente da banda Pink Floyd, vai leiloar cerca de 120 das icônicas guitarras com que gravou discos da banda e solo e com que fez shows pelo mundo nos últimos 50 anos.
"Tudo tem de ir", disse Gilmour, bem-humorado, à revista americana Rolling Stone. "É a promoção de primavera", ele brincou, referindo-se à estação que, no hemisfério Norte, começa em março.
A lista de instrumentos que serão leiloados em bloco na sede da casa de leilões Christie, em Nova York, em junho, inclui muitos dos instrumentos mais conhecidos do músico.
Ele vai vender a guitarra modelo Fender Stratocaster de cor preta, por exemplo, com que gravou sucessos da banda inglesa, como Money, Shine On You Crazy Diamond e Comfortably Numb.
A lista inclui ainda o violão de 12 cordas da marca Martin com que Gilmour registrou Wish You Were Here e um violão da marca Ovation que ele usou em quase todas as apresentações ao vivo que fez desde os anos 1980.
"Essas guitarras foram muito boas para mim", disse Gilmour à Rolling Stone ao telefone, falando de sua casa na Inglaterra. "Elas são minhas amigas. Me deram muitas músicas. Apenas acho que passou da hora de elas servirem a outra pessoa. Tive meu tempo com elas. E o dinheiro que elas vão gerar vai fazer muitas coisas boas ao mundo."
Os recursos oriundos do leilão vão beneficiar a instituição de caridade fundada por Gilmour há décadas. "O dinheiro vai servir a demandas de pessoas famintas, sem-teto ou vítimas de migrações forçadas em todo o mundo", disse Gilmour, segundo quem não serão fomentadas só programas no Reino Unido.
Mas, para além da caridade, Gilmour vê na venda das guitarras uma forma de abrir espaço em casa. Segundo o músico, essa é uma ideia que adiou por falta de tempo desde 1987, quando o Pink Floyd lançou o disco A Momentary Lapse of Reason, o primeiro álbum da banda desde a saída de Roger Waters.
"Estou ao mesmo tempo triste por perder alguns de meus instrumentos e aliviado por tocar adiante esse projeto. Se eu precisar de uma guitarra específica, vou à loja e compro outra. Guitarras são minha ferramenta de trabalho; elas me deram músicas, mas, no fim das contas, são apenas isso, ferramentas."
Segundo o músico, mesmo vendendo 120 guitarras, ainda vão sobrar cerca de 20 instrumentos em sua coleção. Já a primeira guitarra de sua coleção, uma Fender modelo Telecaster que Gilmour ganhou dos pais quando fez 21 anos, não estará no leilão; o músico a despachou em um voo da TWA de Londres para os Estados Unidos, em 1968, e a antiga companhia aérea perdeu o instrumento.
"Tive muita sorte na vida. Fui bem-sucedido artisticamente e financeiramente. Eu já sentia muitos, muitos anos atrás que deveria fazer algo para melhorar um pouco o mundo. Esse vai ser um grande impulso para a capacidade (da fundação)", diz Gilmour.
O músico afirmou ainda que não se preocupou em calcular o total de dinheiro que o leilão vai levantar nem leva em consideração eventuais especulações de que, ao vender suas guitarras, ele estaria sinalizando uma aposentadoria. "Eu não tenho que me aposentar. Não preciso dizer essas palavras. Se eu parar, vai ser um processo quieto e desapercebido. Mas não agora."