Olhos e ouvidos mais atentos já perceberam um novo nome surgindo nas escalações dos festivais mais descolados do Estado, pintando na lista de mixtapes hypadas e aparecendo em importantes editais de incentivo à cultura. O nome é Saskia, artista porto-alegrense de apenas 22 anos que faz um dos sons mais criativos da produção recente gaúcha. Mais do que isso é difícil explicar sem propor que você abra seu navegador, apronte seus fones de ouvido e escute as profundas viagens sonoras eletrônicas promovidas por Saskia.
Com uma carreira que remonta a 2016, a cantora e compositora teve em 2018 o grande ano de sua trajetória. Tocou em festivais gigantes no cenário regional, como Meca, Kino Beat e Morrostock, foi nome obrigatório em eventos ligados a lutas raciais e feministas, como Festival Porongos e Girls to the Front, e tocou regularmente em noites que formam a base do cenário alternativo do Estado, como Lechiguana Festival, POA Indie Fest e Grita. Agora, terá seu primeiro disco, previsto para 2019, financiado pelo edital do projeto Natura Musical, ao lado de nomes como Supervão, Bloco da Laje e Cuscobayo.
– Acompanhávamos a Saskia havia um tempo, é um dos grandes nomes da música contemporânea feita no Rio Grande do Sul – derrete-se Paulo Zé Barcellos, organizador do Morrostock, evento realizado no início do mês, em Santa Maria. – Se deixarem-na seguir seu caminho, ela com certeza vai bombar. É muito marcante vê-la sozinha no palco, fazendo tudo na hora, aquela nova-MPB-black-power-experimental-eletrônica-ambiental-com-mensagem.
Além do talento, da voz, da performance e da postura no palco, as apresentações de Saskia partem de dois elementos centrais: um notebook e uma interface de áudio, bases de artistas solo, eletrônicos e independentes, como ela. Só que, até este ano, a cantora usava computadores e interfaces emprestadas, na maioria das vezes meio detonadas, para compor, gravar e apresentar suas músicas.
Computador comprado com vaquinha virtual
Em setembro, por meio de uma vaquinha online, Saskia conseguiu que 90 colaboradores doassem um total de R$ 4,7 mil (valor 20% acima do estipulado inicialmente) para que, enfim, conseguisse realizar o que chamou de “sonho do notebook próprio”. A história, de acordo com a produtora Daniele Rodrigues, responsável por organizar eventos culturais com cunho feminista e racial, tem tudo a ver com a trajetória de Saskia:
– A ascensão dela se confunde com o crescimento de rolês em que outras mulheres trabalham em conjunto para se fortalecer, fazer coisas juntas. É importante fazer um recorte racial nesta questão e deixar claro o quanto a mais mulheres negras precisam correr para ter seu trabalho evidenciado.
Para ouvir Saskia, há três vias principais: as plataformas Bandcamp (pelo link saskiapeter.bandcamp.com) e SoundCloud (soundcloud.com/salnasalada), além de seu canal no YouTube (youtube.com/user/salsaskia). Quatro vias, se levar-se em conta a mais interessante delas, o palco. É lá que Saskia traduz com força o que a jornalista e produtora Juli Baldi, que há dois anos faz parte da comissão julgadora do Natura Musical, tentou explicar à época do lançamento do edital:
– Buscamos projetos que, além de seguir os critérios de inovação e legado, sejam representativos. O Sul ainda carrega o estigma de bandas de rock com homens brancos e suas guitarras.
2019 promete ser um ano bom para Saskia.