Conta-se nos dedos a quantidade de oportunidades que o público porto-alegrense tem para prestigiar uma estrela do gabarito de Mischa Maisky. O violoncelista, que grava pelo selo Deutsche Grammophon, estará no palco do Teatro do Sesi nesta terça (20), às 21h, acompanhado dos filhos Lily (piano) e Sascha (violino).
Nascido na Letônia, Maisky viveu na União Soviética, onde estudou com os mestres Mstislav Rostropovich e Gregor Piatigorsky. Depois de passar 18 meses em um campo de trabalhos por negociar um gravador no mercado negro (teria sido uma repreensão das autoridades por acreditarem que desejava emigrar), estabeleceu-se em Israel em 1973. O concerto de hoje integra os 70 anos do país, fundado em 1948, mesmo ano de nascimento do músico.
Leia, a seguir, a entrevista que Maisky concedeu por e-mail a GaúchaZH.
O senhor se apresentará em Porto Alegre com seu trio. Como é tocar com seus filhos, Lily e Sascha? E como vocês trabalham juntos?
Como sempre digo, é verdadeiramente um sonho realizado. Sempre desejei tocar com a minha família e me sinto extremamente sortudo que deu certo no final. Trabalhamos juntos de maneira bastante harmoniosa, na verdade. Cada um de nós tem diferentes forças e fraquezas, e acho que a combinação funciona bem.
O programa em Porto Alegre contará com partituras para trio de importantes compositores russos, Rachmaninoff e Shostakovich, uma tradição que o senhor conheceu na União Soviética, durante seus anos de formação. Como descreve sua admiração por esses compositores?
Precisamos sempre colocar muita reflexão e presciência ao desenvolver novos programas. Os trios russos para piano são de grande significância para o repertório, e 2018 é o aniversário de 145 anos de nascimento e 75 de morte de Rachmaninoff. Este é um programa extremamente carregado emocionalmente e diverso, e adoramos compartilhá-lo com as plateias ao redor do mundo nesta temporada.
Durante seus anos de aprendizado, o senhor estudou com duas lendas do violoncelo: Piatigorsky e Rostropovich. Poderia compartilhar as lições que absorveu desses mestres?
Obviamente é muito desafiador e virtualmente impossível resumir em poucas palavras o que aprendi com meus dois grandes professores. Diria que a lição mais importante e valiosa que ambos me transmitiram é primeiramente ter grande respeito pela música que você toca e pelo público para o qual você se apresenta.
A música de concerto tem o desafio de conquistar novas plateias, especialmente entre jovens ouvintes. O senhor acredita que a música de concerto está vencendo este desafio?
Hoje em dia é um tempo desafiador de tantas formas... Acho que a indústria da música clássica percebeu que precisa se adaptar para acompanhar os novos tempos, e vejo muitos sinais encorajadores de que as coisas estão andando em uma direção geralmente positiva. Na verdade, não devemos subestimar a quantidade de jovens na plateia. Em muitos países que visitamos, há muitas crianças e jovens adultos no nosso público.
O senhor viveu na União Soviética antes de emigrar para Israel. Nos últimos tempos, vemos a ascensão de regimes autoritários no mundo. Qual é o papel da arte e da música neste contexto?
Procuro manter certa distância da política. Entretanto, é realmente muito assustadora a direção para a qual o mundo parece estar indo. Acho que a arte e a música podem nos unir apesar de nossas diferenças, e seu poder não deve ser subestimado.
O senhor está familiarizado com a música e a cultura brasileiras? Que compositores e artistas mais admira?
Não posso dizer que sou um grande conhecedor da música e da cultura brasileiras. Entretanto, tudo que encontrei até agora sempre admirei e aproveitei. Amo a música de Villa-Lobos, em particular as belas Bachianas Brasileiras, uma das quais até gravei recentemente. Claro que também aprecio muitos outros gêneros da música com a qual o Brasil contribuiu, como a bossa nova, notadamente João Gilberto e Antônio Carlos Jobim. Também tenho que citar que um dos meus pianistas preferidos é o grande Nelson Freire.
Programa do concerto:
- Suíte para Violoncelo Solo nº 1, de J. S. Bach
- Sonata para Violoncelo e Piano ("Arpeggione"), de Schubert
- Trio Elégiaque nº 1, de Rachmaninoff
- Trio nº 2, Op. 67, de Shostakovich
MAISKY TRIO
Nesta terça-feira (20), às 21h.
Teatro do Sesi (Av. Assis Brasil, 8.787), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 260 (mezanino) e R$ 380 (plateias baixa e alta). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante. À venda nas lojas Multisom do Centro (Rua dos Andradas, 1.001) e dos shoppings Bourbon Ipiranga, Praia de Belas, Iguatemi e BarraShoppingSul ou no site blueticket.com.br (com taxa).