Um dos ícones da contracultura gay do Rio Grande do Sul pretende provar que um novo pop é possível. É o objetivo do cantor e compositor gaúcho Madblush, que lança seu disco de estreia nesta quinta-feira (6) no Teatro do Centro Histórico Cultural Santa Casa. Intitulado Cactus, o álbum reúne 21 faixas que misturam o pop com ritmos como eletrônica, funk carioca, trap, rap, entre outros. Somando canções inéditas com músicas já lançadas em singles e EPs, o disco foi produzido ao longo dos últimos dois anos.
– As coisas foram sendo adiadas porque comecei a criar mais e meu trabalho passou a crescer muito, tendo que fazer muitas apresentações fora de Porto Alegre, com shows em São Paulo e Montevidéu, no Uruguai. Como eu estava expandindo mais para fora, dei uma pausa para amadurecer o disco. Foi um ótimo período para poder aprimorar as misturas sonoras que eu queria fazer no álbum, além de melhorar a questão técnica – explica Madblush, nome artístico de Rodolfo Mello, 40 anos.
Produtor de festas e DJ conhecido na cena alternativa da Capital, Rodolfo resolveu se aventurar como cantor em 2007. Com seu visual andrógino, que brinca com os estereótipos de feminino e masculino, o artista adotou o nome Madblush em 2010. Até então, usava apenas Blush, herdado de seu trabalho como drag queen.
Cantando em inglês, ele lançaria em 2012 seu single mais visualizado até hoje no YouTube (159 mil visualizações), Blush in the Face. O cantor viveria em São Paulo por um tempo, entre 2013 e 2014, onde compôs as letras de seu primeiro EP, Intenso Cru (2013). Foi na capital paulista que Madblush passou a cantar em português em vez de inglês. Aliás, a língua não seria o único elemento brasileiro presente no disco de estreia.
– O que entrou muito nos dois anos de realização do disco foi a questão da brasilidade. Consegui colocar elementos percussivos no álbum, algo que sempre curti. É só o início: quero criar uma produção mais abrasileirada com o tempo. Cactus é o primeiro passo dessa mistura – destaca.
Letras falam de política e questões de gênero
Uma amostra dessa sonoridade com direcionamento tupiniquim pode ser conferida em Brasil, que expressa sua insatisfação política e traz referências a um clássico da Legião Urbana (Que país é esse?). O funk carioca se soma ao electro em faixas como Kiss, 4.7.8.24., Homophobic, Bati Kuku e Bitch and Rat. Nas letras, aparecem temas como sentimentos, sexualidade e liberdade, além de questões políticas e de gênero. Em Não Me Diga O Que Fazer!, seu primeiro rap como compositor, Madblush defende a liberdade de seguir aquilo que ambicionar (“Não me diga o que fazer / Não me diga o que pensar / Eu sou livre pra dançar/ Eu sou livre pra amar”).
– É sobre ouvir constantemente o que tenho que fazer. Pode ser sobre o mercado fonográfico, que mesmo que tenha uma abertura para estilos diferentes, ainda pede que o som esteja em determinado formato: “Agora tem que produzir o que está na moda. O que vende é isto”. Tem relação também com a imagem artística, que discuto um pouco. Esse protesto vem em forma de letra. Falo sobre a caretice que voltou nesses anos em que lutamos tanto pela liberdade. Acho que até o politicamente correto tem uma coisa que rotula demais as pessoas – reflete.
Com a produção do músico e multi-instrumentista Otávio Mastroberti, o Ota, Cactus é um disco de pop dançante em sua essência, mas que visa uma versatilidade ao ser mesclado com gêneros diferentes. Segundo Madblush, ele procurou fugir do pop convencional.
– Eu quero que o álbum alcance mais pessoas. Minha intenção era deixá-lo comercial, mas sem torná-lo bobo. Trazer um novo pop, fugindo um pouco do que vejo como uma mesmice do mercado. Sempre mais ou menos falam sobre as mesmas coisas. Na minha leitura, acho que dá para tratar de assuntos diferentes – afirma.
Madblush - Cactus
- Quinta-feira (6), às 20h.
- Teatro do Centro Histórico Cultural Santa Casa (Av. Independência, 75)
- Ingressos: R$ 40 — antecipados pelo site entreatosdivulga.com.br.