Por Olinda Allessandrini*
Desde a Antiguidade, quando nas arenas gregas eram apresentadas peças teatrais, ou nos circos romanos as lutas de gladiadores, sempre houve o fascínio pela admiração das multidões. Modernamente, são frequentes os espetáculos gigantescos como no Central Park, em Nova York; no Waldbühne, em Berlim; ou nas Arenas de Verona e Taormina, na Itália. Isto sem falar no grande Festival de Woodstock em 1969, onde se estimou que mais de 400 mil pessoas tenham assistido aos grandes nomes da música do seu tempo.
O avanço da tecnologia permite a rápida adequação de grandes palcos, imagens em telões e infra-estrutura adequada. Toneladas de som são distribuídos em imensas caixas acústicas e chegam aos ouvidos de dezenas de milhares de pessoas. A mídia e a imediata comunicação pelas redes sociais fazem com que este número inacreditável de pessoas saiam de suas casas em uma noite com chuva torrencial e, abrigados apenas por suas capinhas de plástico (guarda-chuvas e sombrinhas proibidos), acomodem-se para assistir ao grande ídolo Andrea Bocelli.
Bocelli tornou-se um mito, unindo ao seu talento a tenacidade e a determinação. No caminho do sucesso estiveram sua aproximação com o grande Pavarotti e com as divas Céline Dion e Sarah Brightman. Suas escolhas de repertório definem a opção de mesclar o popular e o erudito como forma de tornar mais acessível o mundo da ópera. Também seu visual sempre perfeito, além do comportamento reservado e elegante, foram os ingredientes que geraram respeito e entusiasmo no mundo todo. Salientamos sua afinação, expressividade e os seus inúmeros "dós de peito", notas muito agudas que ele ataca com perfeição, vigor e beleza. E que esbanjou durante o espetáculo no Beira-Rio neste domingo (23).
Sem dúvida, é o grande astro, secundado por orquestra, cantores, instrumentistas convidados e dançarinos, cativando assim também os olhares da platéia atenta e receptiva, que não poupou seu vibrante aplauso desde sua entrada silenciosa até o final, com os extras Nessun Dorma, da ópera Turandot, de Puccini, e a sempre presente romanza Con te Partirò, de autoria de Sartori e Quarantotto.
Neste domingo, em seu espetáculo no Beira-Rio, conseguiu que o público ficasse absolutamente envolvido com suas escolhas entre as óperas italianas. Sucederam-se árias e duetos escolhidos a dedo, como La Donna È Mobile, do Rigoletto, de Verdi. Sucederam-se duetos como Brindisi, de La Traviata, de Verdi, e O Soave Fanciulla, da ópera La Bohème, de Puccini, estes em parceria com a soprano Larisa Martinez, belíssima voz e excelente presença em cena. Emocionaram o público com o longo dueto Bimba Dagli Occhi Pieni di Malia, da ópera Madame Butterfly, de Puccini, secundado por imagens em vídeo de momentos de encenação no palco, tornando assim o público imerso em relação ao drama.
Na segunda parte, a música popular tomou conta. Clássicos como Mamma; Funiculi, Funiculà, Granada e Amapola sucederam-se em interpretações que sempre cativam. A convidada especial, "nossa" Maria Rita, foi recebida com um enorme aplauso, e apresentou Me Deixas Louca, além da belíssima Tristeza, de Haroldo Lobo e Niltinho, em duo com Bocelli. Salientamos também o duo CARisMA de violões, em um arranjo de Libertango, de PiazzolLa, coreografado.
Aplausos para o Coral da Gente, do Instituto Baccarelli de São Paulo, com especial destaque em Feste e Pane, da ópera La Gioconda, de Ponchielli. A Orquestra Sinfônica Jovem de Heliópolis, regida pelo maestro convidado Eugene Kohn, recebeu um elogio público do cantor: "Com eles, o futuro da música no Brasil está assegurado". A orquestra acompanhou todo o espetáculo, e salientou-se com um arranjo de hits da bossa nova, demonstrando sua versatilidade.
Um imenso telão no fundo do palco apresentou durante todo o espetáculo imagens do interior de teatros, de cenas de ópera, de paisagens, e eventualmente juntava-se aos dois outros telões laterais com imagens de Bocelli, do maestro, dos músicos. Poderia ter sido incluído o título de cada obra apresentada, para o enriquecimento do público.
Quase ao final, um momento emocionante quando Bocelli compartilhou com o público momentos em família, ao som da inspirada canção If Only, vídeo que já atingiu mais de 600 mil visualizações no YouTube.
E, celebrando seu aniversário de 60 anos, o concerto encerrou com orquestra, coral e público calorosamente cantando Parabéns a Você!
* Pianista