Por algum tempo, o local mais pulsante da cena cultural de Porto Alegre foi debaixo de uma ponte. Nos últimos anos, as festas realizadas embaixo do viaduto Imperatriz Dona Leopoldina, na Avenida João Pessoa, conhecido como viaduto do Brooklyn, foram as que reuniram o público mais atualizado, as bandas mais criativas e os discursos mais conectados com as tendências recentes.
Muito disso se deu por competência do Espaço Cultural Lechiguana, localizado no prédio que ladeia o viaduto, que promoveu shows, discotecagens e eventos musicais diversos no local – até precisar sair dali, por conta de reclamações de vizinhos, e se mudar para a Rua da República, onde está instalado há menos de dois meses. Foram rodas de samba, reuniões de forró, apresentações de hip-hop, shows de reggae e rodas punk memoráveis. Neste fim de semana, o espírito desses últimos anos deve estar resumido no palco do Galpão do IBGE (Av. Augusto de Carvalho, 1.225), onde será realizada a terceira edição do Lechiguana Festival.
No line-up, um resumo fiel como poucas vezes se viu da atual cena musical gaúcha: da psicodelia vaporwave da Supervão ao eletrônico indie de Saskia, passando por Mulamba, Musa Híbrida, Negra Jaque, Zudizilla e Kiai Grupo, entre outros (leia o line-up no quadro ao lado).
Espaço cultural virou ponto de encontro
– Há algum tempo, as bandas começaram a se organizar em coletivos e selos, porque perceberam que não tinham espaço nos lugares tradicionais. Isso começou a gerar uma troca entre os artistas, a formar uma rede de comunicação e a estimular eventos independentes. Até por conta da crise, ninguém quer arriscar fazer uma noite com uma banda desconhecida, sem público certo. É aí que o Lechiguana entra, tentando oferecer esse espaço – conta Márcio Andrei, produtor de 31 anos à frente do Lechiguana há cinco anos, desde quando o espaço instalava-se em Gravataí.
Na base da insistência, Andrei acabou formando em seu entorno uma órbita que reúne nomes cada vez mais importantes na música feita no Estado – que veem no jovem produtor uma espécie de figura agregadora em uma cena que por vezes carece de unidade: vindos de diferentes cidades, tocando diferentes gêneros e com públicos distantes, artistas não raramente se viram tocando em minieventos de sonoridade, público e ambiente plurais. Uma característica fundamental desta nova cena.
– O Lechiguana é uma força maravilhosa para a música e para a existência de Porto Alegre neste momento, por oferecer essa energia aglutinadora para muitos sons que tocam em rolês independentes. As cenas têm acontecido muito mais em função do modo de fazer e da atitude da galera envolvida do que baseada em estilos musicais, e isso o Lechiguana entendeu como poucos – ressalta Mario Arruda, um dos membros da Supervão.
Não à toa, grande parte dos artistas escalados para os shows deste sábado (14) – que devem começar às 14h e ir até a madrugada – são jovens, independentes e têm poucos (ou nenhum) trabalhos lançados. Para Saskia, não passa de uma ligação natural entre músicos de uma geração que só agora está amadurecendo e um espaço que entendeu isso.
– Tenho a impressão de que as cenas começam a se formar quando as pessoas chegam perto dos 20 anos. A minha geração fez 20 anos em 2010 e, desde lá, começou a usar as tecnologias que tinha para criar uma cena com as suas características. As pessoas não participam mais de um só movimento, não ouvem só um gênero, transitam por tudo, se unem para curtir em conjunto, frequentam vários tipos de lugares. Isso se reflete na minha música e, de certa forma, no espírito do Lechiguana.
LECHIGUANA FESTIVAL
Dia 14 de julho, a partir das 14h.
Galpão do IBGE (Avenida Augusto de Carvalho, 1.225), em Porto Alegre.
Classificação: 18 anos.
Ingressos: R$ 25 (meia-entrada), R$ 30 (promocional, com doação de 1kg de alimento não perecível) e R$ 50 (inteiro).
Pontos de venda: online (clique aqui para comprar) e no local, mediante disponibilidade.
OS SHOWS
-16h20min: Sintonize
-17h10min: Descartes
-18h: Maquinário Sabiá
-18h50min: GiraCeleste
-19h40min: Supervão
-20h30min: Maestro Sujo
-21h20min: Os Vespas
-22h10min: Pônei Xamânico
-23h: Mulamba
-00h20min: Suerte
-01h10min: Saskia
-01h40: Negra Jaque
-02h20min: Butia Dub
-03h: Musa Híbrida
-03h40min: Zudizilla & Kiai Grupo