Durante um show no Festival de Inverno de Garanhuns, a cantora Daniela Mercury protestou contra o cancelamento da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que seria apresentado no mesmo evento. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
— Me choca profundamente que os políticos desse país censurem uma peça de teatro, que censurem uma exposição de arte de grandes artistas. É de uma petulância absurda — desabafou Daniela.
Logo que subiu no palco, a baiana dedicou o show à atriz travesti Renata Carvalho, que interpreta Jesus no espetáculo. Daniela contou que falou com a atriz pelo telefone, antes da apresentação: — Arte é para incomodar, é para fazer pensar, é para refletir, para libertar a cabeça de merda.
Prosseguindo com a indignação, Daniela disse que sentia vergonha pelos políticos e afirmou ser absurdo censurar uma peça por convenções religiosas:
— Então não me venham agora com ignorância querer conceituar o que é arte e o que não é. É ignorância absurda. O ministro [do STF aposentado] Carlos Ayres Brito disse que a gente estava na idade da mídia, mas parece que estamos na Idade Média. Censurar uma peça de teatro por convicções religiosas é um absurdo. Isso não pode ser permitido. A nossa Constituição não deixa isso. A nossa Constituição não é a Bíblia — desabafou.
Outras manifestações da cantora ainda ocorreram durante o show. Antes de tocar um trecho da música Bichos Escrotos, do Titãs, Daniela ressaltou que era desumanidade retirar o espetáculo da programação oficial: — Ela [Renata] é Jesus Cristo, sim. Eu estou aqui. Eu sou gay. Eu sou lésbica e daí? — questionou. Em seguida, ela cantou Tempo Perdido, de Renato Russo: — Meu amigo Renato Russo era gay, muito bicha, muito veado sim.
O cancelamento da apresentação de Renata Carvalho aconteceu após pressão do prefeito de Garanhuns, Izaías Régis (PTB), e do bispo dom Paulo Jacson Nóbrega, sobre o governador de Pernambuco. A justificativa foi não querer estimular cultura de ódio e do preconceito.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (23), a Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) afirmaram que não censuraram a apresentação.
"Tampouco, a não inclusão da peça na programação oficial se deu por preconceito ou discriminação da parte do Governo, mas tão somente para garantir a realização do FIG e o próprio espaço que o festival fomenta de luta pela liberdade."