Um dos mais celebrados festivais de música do Estado voltou à atividade no final de semana. O Musicanto, palco que já recebeu Mercedes Sosa e ajudou a renovar a música gaúcha, completou sua 27ª edição neste domingo (29), no Parque de Exposições de Santa Rosa. Pela primeira vez, o encontro fez parte da programação da Fenasoja, grande feira agrícola bianual da região noroeste. Desde 2012, o festival não ocorria como mostra competitiva – em 2015, houve mais uma edição, mas apenas celebratória.
Neste ano, foram mais de 700 inscritos, que passaram por uma triagem com os jurados Luiz Carlos Borges, Silvio Genro, Roger Lerina e Fernando Keiber. Os quatro selecionaram 24 canções e seis temas instrumentais para a disputa, realizada entre sexta (27) e domingo (29), com júri formado por Juarez Fonseca, Vinicius Brum, Antonio Ivan Capucho, Carlos Losekann e Maria Luiza Benitez.
O resultado foi um mosaico de gêneros da música latino-americana, com xote, choro, vaneira, chamamé, embolada, zamba entre outros. Não poderia ser diferente, já que o Musicanto sempre se caracterizou pela pluralidade de ritmos, buscando aproximar diferentes tradições culturais do continente. Desde Nelson Coelho de Castro a Lenine, o festival ajudou a revelar compositores que celebram o passado ao mesmo tempo em que projetam o futuro.
O grande vencedor da edição de 2018 foi o samba. Na linha livre, a principal da competição, O Mundo É um Samba (de Tiago Suman, Guilherme Suman e Adriano Sperandir) foi eleita a melhor música, além de ter levado troféus de melhor letra e melhor intérprete (para Adriele Sperandir).
– O Mundo É um Samba foi composta há algum tempo, mas o Rio Grande do Sul carece de festivais mais abertos, que aceitem gêneros mais diversos. Quando o Musicanto abriu inscrições, senti que era nossa oportunidade – disse o compositor Adriano Sperandir, logo depois de receber o prêmio.
Já Quando o Samba Chora (de Elias Barboza) foi a vencedora na categoria instrumental, melhor melodia e melhor arranjo. Depois do anúncio das ganhadoras, um pequeno grupo se manifestou com gritos contra a hegemonia do samba na decisão dos jurados, mas a vaia não se expandiu pelo público.
– Não ouvi essa vaia, pois estava tomado pela euforia de ter ganhado o prêmio. Mas esse tipo de reação contra o samba é comum no Rio Grande do Sul. Nesse sentido, o Musicanto é muito importante, pois promove a diversidade musical – avaliou Sperandir.
O público era pequeno para a arena montada no Parque. Na grande final, o espaço com cadeiras, para 1,2 mil pessoas, não ficou lotado, e eram raros os que assistiam de pé ao espetáculo. Parecia pouca gente, considerando que o auditório completo comportaria mais de 15 mil. Para as próximas edições, as dimensões precisam ser repensadas, já que a organização do evento julga que atrair público não deve ser prioridade.
– É claro que a gente gostaria que um número cada vez maior de gente assistisse ao festival, mas priorizamos a qualidade. Sabemos que sertanejo e gaitaço atrairia mais público, mas esta não é a proposta do Musicanto. Queremos preservar e ajudar a renovar a música latina, não necessariamente atrair bilheteria – conta Vitor de Conti, presidente Comissão de Cultura e Turismo da Fenasoja.
Depois de tentativas frustradas de viabilizar o Musicanto via lei de renúncia fiscal nos dois últimos anos, organizadores do festival e da Fenasoja começaram a discutir uma parceira. A disputa musical se tornaria uma atração cultural da feira agrícola. A Fenasoja assegurou R$ 105 mil para que o Musicanto se realizasse, caso não fosse captado pelo menos esse valor via LIC-RS. Foi aí que tudo mudou: o festival conseguiu captar na íntegra o orçamento de R$ 190 mil.
- O fato de unirmos as marcas fez com que os apoiadores se motivassem a apoiar as duas. Não apenas conseguimos captar tudo o que queríamos para o Musicanto como também a Fenasoja conseguiu fazer sua captação de forma mais rápida – explica Conti.
O músico Luiz Carlos Borges, criador e coordenador do festival em seus primeiros anos, conta que era um sonho antigo uni-lo à Fenasoja:
- A tentativa dessa junção começou há muito tempo. Lá pela sexta edição, tivemos algumas conversas, mas não foi adiante. Aplaudi muito essa união. Como todos os festivais, o Musicanto sofre altas e baixas, já a Fenasoja tem a solidez do mundo dos negócios, conta com alguns dos mais importantes homens de negócios agrícolas do país. É uma relação em que os dois lados ganham muito. O Musicanto preenche uma lacuna de programação qualificada que faltava desde o início na Fenasoja, e a Fenasoja dá suporte ao Musicanto.
Musicanto
Vencedores
- Melhor letra: O Mundo É um Samba, de Tiago Suman, Guilherme Suman e Adriano Sperandir (troféu + R$ 1 mil)
- Melhor melodia: Quando o Samba Chora, de Elias Barbosa (troféu + R$ 1 mil)
- Melhor arranjo: Quando o Samba Chora (troféu + R$ 1 mil)
- Melhor intérprete: Adriele Sperandir, por O Mundo É um Samba (troféu + R$ 1 mil)
- Melhor instrumentista: Miguel Tejera, por Dois Negros e Não me Venhas (troféu + R$ 1 mil)
- Música mais popular: Colibri, de Vinicius Ribeiro e Laerte Ribeiro (troféu + R$ 1 mil)
- Música instrumental: Quando o Samba Chora (troféu + R$ 8 mil)
- Linha livre:
- Primeiro lugar: O Mundo É um Samba (troféu + R$ 10 mil)
- Segundo lugar: Dois Negros, de Mimmo Ferreira e Alejandro Massiott (troféu + R$ 8 mil)
- Terceiro lugar: Colibri (troféu + R$ 6 mil)