Teve gente que pensou que ia começar uma vaneira, mas o rock seguiu em alta depois que o tecladista de Paul McCartney, Paul Wickens, entrou no palco com um vistoso acordeom de madeira negra a fole vermelho nesta sexta-feira, em Porto Alegre. Muito associado à música regional gaúcha, o instrumento é também um velho conhecido do beatle, embora nem sempre seja associado pelo público à música pop.
Antes dos Beatles mudarem o modo de fazer e ouvir canções ao redor do mundo, o acordeom era um dos principais instrumentos para iniciar crianças na música. Repleto de recursos sonoros, era uma opção barata e portátil para quem sonhava um dia tocar piano, por exemplo. Ao entrar na casa de uma família britânica antes dos anos 1960, havia grande possibilidade de encontrar uma gaita roncando diante do peito de alguma criança – há inclusive registros de que John Lennon brincava com o instrumento na infância. Foi só depois da explosão do rock que violões e guitarras começaram a ganhar a predileção dos jovens, deixando muitas gaitas esquecidas.
A ênfase maior do quarteto em guitarra, baixo e bateria não excluiu totalmente os instrumentos de fole das gravações. No entanto, a maior parte dos registros desse tipo de sonoridade nos álbuns dos Beatles não foi realizada com acordeões, mas com harmônios. Com teclado horizontal e fole geralmente controlado com o pé, o harmônio pode ser ouvido em faixas como We Can Work It Out, single lançado em 1965, que conta com John Lennon no instrumento. Já nos shows de Paul McCartney, a faixa é tocada com o tecladista Paul Wickens no acordeom.
– O som dos dois instrumentos é muito parecido – avalia Diego Dias, tecladista e acordeonista da banda Vera Loca.
Dias excursiona há três anos com o projeto The Beatles no Acordeon, no qual a gaita é a protagonista em um show que também conta com violão, baixo e bateria. Ele observa que, apesar de o instrumento ser o mesmo, os estilos de tocar acordeom dos gaúchos e dos europeus são distintos:
– Dificilmente um acordeonista do Rio Grande do Sul começa tocando algo diferente de música gaúcha. E a música gaúcha tem um balanço próprio. Já o músico europeu não cresce com esse balanço, mas consegue deixar a música com um charme especial.