Lulu Santos desejava cumprir neste 2017 um retiro sabático. Vinha desde o lançamento do disco Luiz Maurício, em 2014, tocando sua coleção de hits pelo Brasil em sucessivas turnês. Mas bem no começo das férias, em janeiro, calhou de ler Rita Lee – Uma Autobiografia, livro em que a rainha do pop rock brasileiro narra sua faiscante trajetória.
A pausa durou apenas sete dias. Ao ponto final do volume, Lulu jogou-se ao projeto finalizado agora em outubro: Baby Baby!, álbum em que apresenta 12 releituras de canções de Rita. Mas a volta à estrada, garante ele, só em abril de 2018, com passagem por Porto Alegre prevista para junho.
– Eu precisava me reciclar, ver do que mais gostava na vida além de ser artista. E queria dedicar a energia de que preciso para o The Voice, que é um encargo de muita responsabilidade – diz Lulu a Zero Hora por telefone.
A transfusão musical fez faixas consagradas por Rita ganharem o tempero eletropop que tanto agrada a Lulu. O cantor, compositor e guitarrista convocou para auxiliá-lo na missão um time com veteranos DJs e produtores das praias disco e funk e também novos talentos da seara da música eletrônica.
A homenagem abarca de Fuga nº II, que Rita gravou com os Mutantes em 1969, a Paradise Brasil, do disco Reza, de 2012, seu último com inéditas, passando pelos sucessos que fizeram dela a maior vendedora de discos no Brasil: Ovelha Negra, Baila Comigo, Caso Sério, Mania de Você e ainda Alô! Alô! Marciano, que a cantora e seu marido e parceiro, Roberto de Carvalho, fizeram para Elis Regina consagrar em registro de 1980 - Rita gravou sua versão no disco Bossa'n'Roll, de 1991.
– Quando acabei de ler o livro, disse: "Tenho que fazer isso". A escolha do repertório foi a mais indolor possível. Fui guiado pelas lembranças da Rita e por minha memória afetiva. Fuga nº II foi a canção que me fez prestar atenção nela como uma entidade. A que abre o álbum, Disco Voador, não é das mais conhecidas, mas é do meu hit parade pessoal – explica Lulu.
Mamãe Natureza ganhou levada blues ("uma pororoca de Beatles e Rolling Stones dos anos 1960", segundo Lulu). Com a dupla Marcelinho da Lua e Márcio Menescal, Lulu embalou Alô! Alô! Marciano na batida drum'n'bass. O DJ Memê repaginou Paradise Brasil como house music.
– E o Pretinho da Serrinha colocou a autenticidade das escolas de samba no pedaço. É essa a bula – afirma Lulu. – Por mais que eu goste das canções da primeira fase solo da Rita, acho as gravações atropeladas, sobretudo ritmicamente, muita falta de chão. E música começa pelo chão. Quer gravar? Primeiro descobre o que o bumbo e caixa fazem. E, no meu léxico, música nunca não é pra dançar.
Compositor será homenageado por músicos do funk carioca
Rita gostou de Baby Baby!: "Delícia ouvir Lulu Santos me cantando... adorei Mania de Você numa levada à la Santana... Mamãe Natureza renasce muito mais rock do que jamais foi... Baila Comigo caliente y salerosa (...) todas com aquela pegada pop luxo que só Lulu tem... minha vontade é pegar esse menino no colo e encher de beijinhos e carinhos sem ter fim. Gracias muchissimas, mi amor", escreveu Rita em seu perfil no Facebook.
– Só levei o projeto adiante porque, logo depois de eu ficar excitado com a possibilidade e conversar com o Beto Lee (filho de Rita e Roberto), recebi uma mensagem do Roberto dizendo que eu era bem-vindo para fazer o que quiser – lembra Lulu. – É tudo de uma felicidade muito grande para mim e para o povo. A gente está precisando desse anestésico para tanta baixaria.
Depois de render homenagens a seus ídolos (em 2013, lançou Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo), chegou a vez de ele próprio ser celebrado:
– Tenho orgulho de anunciar que o DJ Sany Pitbull, maestro do funk carioca, já tem pronta para lançamento a coletânea O Funk Canta Lulu, com entre outros, Tati Quebra Barraco, Valeska Popozuda, Buchecha e MC Marcinho.
As músicas e as gravações originais
- Disco Voador, do disco Babilônia, 1978
- Baila Comigo, do disco Rita Lee, 1980
- Mamãe Natureza, do disco Atrás do Porto Tem uma Cidade, 1974
- Desculpe o Auê, do disco Bom Bom, 1983
- Ovelha Negra, do disco Fruto Proibido, 1975
- Fuga nº II, do disco Mutantes 2, 1969
- Agora só Falta Você, do disco Fruto Proibido, 1975
- Caso Sério, do disco Rita Lee, 1980
- Alô! Alô! Marciano, do disco Bossa'n'Roll, 1991 (Elis Regina gravou em 1980)
- Mania de Você, do disco Rita Lee, 1979
- Nem Luxo, nem Lixo, do disco Rita Lee, 1980
- Paradise Brasil, do disco Reza, 2012