Depois dos discos Sonata (2003) e Reminiscências (2006), nos quais registrou obras do repertório de concerto, o violonista gaúcho Thiago Colombo lança seu primeiro trabalho como compositor. Gravado pelo selo indie inglês TRL, criado neste ano, Latin Guitar Connections marca também um novo momento na carreira de Colombo, no qual desafia a fronteira entre a música erudita e popular.
Gravado nos estúdios da Bath Spa University, no Reino Unido, o álbum terá recital gratuito de lançamento nesta quinta-feira (28), às 20h, no Instituto Goethe de Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112), dentro do projeto Quintas Musicais. A distribuição de senhas começa às 19h15min.
Latin Guitar Connections estará à venda em CD por R$ 30 na hora da apresentação e também pode ser ouvido em plataformas digitais como Spotify, Deezer, Amazon e Tidal. Leia, a seguir, a entrevista concedida por Colombo a Zero Hora por e-mail.
Como surgiu a inspiração para gravar este primeiro disco inteiramente como compositor? E quais compositores o influenciaram?
A lista de compositores que me influenciaram é imensa e vai da música mais simplória que tu puderes imaginar até a mais rebuscada, vai de Teixeirinha a Stravinsky em segundos (risos). Nesse sentido, a minha música é muito complexa e não digo isso com vaidade, mas sim constatando que é construída a partir de um mosaico enorme e muito variado. Sou músico desde quando me conheço por gente, e nesta caminhada passei por muitos gêneros diferentes. Acho que todos estão, de certa forma, inseridos nas minhas composições.
Neste disco, você buscou um registro entre a música de concerto e a música popular, uma fronteira cada vez mais borrada na música contemporânea. Como foi trabalhar nesse limite tênue?
Considero que tive a sorte de aprender a ouvir música baseado unicamente pelo critério do gosto. Foi ao longo da adolescência que fui passando a me preocupar mais com os marcadores sociais da música. O meu primeiro disco, de 2003, é claramente uma manifestação do que eu considerava importante naquela época e é um disco plenamente alinhado com o que se chama de música erudita. O segundo disco, de 2006, é uma tentativa de híbrido ainda muito discreta, muito amarrada aos preceitos de alta cultura musical que aprendi a respeitar, talvez demasiadamente, durante a minha formação acadêmica. Foi justamente em 2007 que voltei a compor, depois de 11 anos. Minhas últimas peças anteriores a isso são de quando tinha 15 anos. Foi aí que eu aceitei que podia, ou devia, levar para a minha música toda a experiência musical que tive acesso ao longo da vida, independentemente das classificações.
Os apreciadores da minha música são poucos, ninguém me conhece passando na rua, mas ao mesmo tempo são muitos ao redor do mundo
Thiago Colombo
Violonista e compositor
O disco conta com uma música "de protesto", Requiem for a MinC. De que forma você traduziu em música a crítica ao fechamento do Ministério da Cultura, em 2016, depois restabelecido?
Requim for a MinC tem um subtítulo: "Estudo-Protesto". Como gênero, é um estudo de mão esquerda, de ligados, e compus exatamente no dia do fechamento do MinC. Fazia uns meses que eu tinha voltado para o Brasil – estava morando na Itália em 2015 – e fiquei arrepiado com os rumos que as coisas estavam tomando. O tempo foi passando, e eu fui ficando ainda mais arrepiado (risos). Enfim, o Requiem explora ritmos como coco e baião, em uma menção às culturas nordestinas e àquela vocação de manutenção do patrimônio imaterial que me parecia o principal foco do ministério. No fim, o MinC renasceu, mas, na minha opinião, renasceu morto, o que, infelizmente, tem se mostrado verdade.
O fato de o disco ter sido gravado pelo selo TRL significa que você pretende alcançar o mercado internacional?
Calhou de eu gravar na Inglaterra por este selo. Acho que esse nicho da música onde eu me encontro é pequeno, por isso a tendência é sempre procurar um mercado internacional. É como dizer: somos poucos em cada lugar, mas somos muitos no mundo inteiro. Os apreciadores da minha música são poucos, ninguém me conhece passando na rua, mas ao mesmo tempo são muitos ao redor do mundo. Por exemplo: eu disponibilizei a partitura de um arranjo meu na plataforma academia.edu e, um mês depois, tinha uns cem downloads. Não é pouco nem muito, mas vinham de uns 15 países diferentes.