O que esperar de um menino cuja primeira palavra foi "música", e não "mamãe"? Mais do que um possível frequentador de consultórios de psicanálise, espere um compositor. E um pouco desse resultado poderá ser visto hoje, a partir das 21h, no Theatro São Pedro, na apresentação da banda O Terno.
A canção está no DNA de Martim Bernardes, e não poderia ser diferente. Filho de Mauricio Pereira – que junto a André Abujamra e um par de chapéus-coco de palha criou a banda Os Mulheres Negras – Tim cresceu rodeado de influências fortes: misturas sonoras que iam de lambada a bossa nova, além de letras irreverentes criadas em cima de bases eletrônicas.
Com tanto background de berço, não é de se estranhar que Tim tenha dado os primeiros passos no mundo do rock ainda na escola, em uma banda com amigos. Logo viu sua aventura adolescente ganhar fôlego e composições próprias tomarem o lugar dos covers de Beatles e Mutantes. Foi assim que nasceu o "power trio paulistano de canção rock'n'roll pop-experimental" O Terno. Se o roteiro lembra o de tantos sonhos indies, o que se viu, na verdade, foi a ascensão de um fenômeno pop no melhor sentido da palavra: acessível sem ser simplista.
– Estávamos cansados dos padrões que rolavam nas rádios dos anos 2000. Buscamos timbres malucos, mas conectados ao indie atual, para criar um som que consideramos relevante de ser executado no Brasil, no ano de 2017 – diz Tim.
É justamente a profunda conexão com seu lugar no tempo-espaço que coloca O Terno como uma das bandas mais promissoras dos anos 2010. Não há hoje no Brasil muitos artistas capazes de fazerem algo do tipo. Se o mercado da música acomodou-se na segurança dos nichos, esses garotos de São Paulo correm a passos largos para longe. Ganham amplitude na simplicidade dos temas. Transformam o cotidiano em uma sinfonia solar e vibrante, embalada por sopros de metais e harmonias nada óbvias.
Não é à toa que as canções de Tim Bernardes (voz e guitarra), Guilherme d'Almeida (baixo) e Biel Basile (bateria) têm aparecido nas playlists dos bons entenderos de música desde 2012, ano de sua estreia com o álbum 66.
– O primeiro disco é sobre tentativas, experimentações. Ainda assim, já identifico coisas interessantes nele, especialmente a música e o clipe de 66, que sintetizam nossa identidade estética e musical – relembra Tim.
Mistura de referências é marca da banda
Identidade essa trabalhada com dedicação. Por mais que o visual sessentista dos meninos sugira uma persona rock'n'roll, o que vemos na prática é uma mistura pouco homogênea de referências que vão de filmes de Antonioni a clipes da banda MGMT, com pinceladas de virais brasileiros do Youtube. Para entender, basta assistir ao clipe de Não Espero Mais, um resumo bem-humorado da internet na última década. Sobra n'O Terno muito mais humor do que uma rebeldia mod. São bons garotos, no final das contas.
Desembarcando em Porto Alegre hoje para apresentar as canções de Melhor do que Parece (2016), a banda promete entregar uma experiência diferente no palco do Theatro São Pedro. Dessa vez, um naipe de metais acompanha os rapazes. No repertório, canções que ecoam temas fundamentais, como o hit Culpa, faixa que abre o disco: "parece que eu fico o tempo todo culpado / com culpa eu não sei do quê". Nada pode ser mais universal do que o sentimento de estar em falta com alguma coisa, seja ela o que for.
Enquanto a banda se desafia a flanar entre o experimental e o sentimental, uma característica se destaca acima das outras: mesmo que ali ninguém passe dos 28 anos, é notável o comprometimento com a cena independente e o senso de gestão de carreira. Afinados com a evolução sonora de sua geração, O Terno mostra que conhece alguns atalhos para o labirinto que se tornou o mercado da música em tempos de internet:
– Começamos em uma época onde as pessoas estavam aprendendo a consumir música na web. Hoje, seguimos em movimento, mas de forma mais consolidada, com bandas que conseguem erguer a carreira de forma independente. Mas fazer algo rentável e viver de música ainda é difícil. Sinto que canções bem produzidas, interessantes e diferentes vão tornar esse mercado cada vez mais sustentável. Porque o público está ali, buscando e consumindo.
Agora, da internet O Terno subirá em um grande palco: foi anunciado como uma das atrações no Lollapalooza, que será realizado entre os dias 23 e 25 de março de 2018, em São Paulo.
O Terno e trio de metais tocam "Melhor Do Que Parece"
Quinta-feira (28/09), às 21h
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº, Centro Histórico)
Ingressos: de R$ 50 a R$ 90 pelo site do Theatro São Pedro ou na bilheteria do espaço (das 13h até o horário de início do espetáculo)