Os Paralamas do Sucesso é exemplo de muita coisa: longevidade, qualidade, coerência artística, fidelidade. Com o recém-lançado Sinais do Sim, 13º disco em 35 anos de estrada, a banda pode acrescentar outro atributo à lista: otimismo. Nas 11 faixas do novo trabalho de estúdio, que sucede Brasil Afora (2009), Herbert Vianna (voz e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) espanam os tempos sombrios que vivemos com versos como os da faixa-título: "Ver o nascer de um novo dia / Não parece tão ruim / Há pouco tempo só se via / Na poeira da dor / Os sinais do sim". O alto astral não se restringe às letras: o álbum talvez seja o mais rock'n'roll da história do trio, evocando em apenas 36 minutos de duração a objetividade despojada do pós-punk da virada dos anos 1970 para os 1980 e a energia juvenil dos tempos de Cinema Mudo (1983) – estreia discográfica que incluía hits empolgantes como Patrulha Noturna, Vital e Sua Moto e Química.
A produção de Sinais do Sim é de Mario Caldato Jr., que já trabalhou com Marisa Monte, Nação Zumbi e Beastie Boys. Pela primeira vez produzindo os Paralamas, Caldato preferiu não mexer muito no material bruto e investir na potência do power trio, apenas acrescentando sonoridades e vocais e mantendo algumas imperfeições e dissonâncias como as falhas na voz de Herbert. Já o soul suingado de Itaquaquecetuba revive a formação que se tornou característica do grupo na década de 1990, com os metais de Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (saxofone) e os teclados de João Fera.
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Tema de 2007 da rapper portuguesa Capicua em parceria com o compositor João Ruas, Medo do Medo ganhou uma versão roqueira cuja aceleração final – que lembra Burn the Witch, do Radiohead – ressalta a urgência de sua mensagem: "Ouve o que te digo / Vou te contar um segredo / É muito lucrativo / Que o mundo tenha medo". Conjunto com a qual os Paralamas sempre se identificaram e de quem gravaram anteriormente De Música Ligera em português, o argentino Soda Stereo é novamente revisitado pelos brasileiros em Cuando Pase el Temblor – a cover em espanhol homenageia ainda o vocalista e guitarrista Gustavo Cerati, morto em 2014. Não Posso Mais (música de Nando Reis), Teu Olhar e Contraste abordam o amor e suas dinâmicas contemporâneas – temática constante em toda a trajetória da banda. Antes de fechar o CD com Sempre Assim na levada do reggae – outra marca registrada paralâmica –, Herbert, Bi e Barone citam o poema Ó Sino da Minha Aldeia, de Fernando Pessoa, em Olha a Gente Aí, canção cuja letra sinaliza a vontade de enfrentar o que der e vier: "Sob o sol e ao brilho da lua / Num salão refinado ou na rua / Ao sabor do vento que soprar / Olha a gente aí!".
Entrevista com o baixista Bi Ribeiro
Você concorda que Sinais do Sim é um dos discos mais roqueiros dos Paralamas do Sucesso?
A gente teve sempre esse lado, mas exercemos ele pouco. Quase todos os nossos discos nascem assim, no estúdio do João Barone, aqui no Rio, com nós três tocando e criando os arranjos. Talvez tenha a ver com o projeto que estávamos fazendo até o ano passado de fazer shows como trio, que pode ter deixado o som agora mais pesado.
Por que vocês demoraram oito anos para lançar um novo disco?
A gente sempre tem vontade de estar vivo na raia. Depois de Brasil Afora, vimos que bandas como Barão Vermelho, Titãs e Kid Abelha estavam comemorando 30 anos. Achamos então que seria uma boa oportunidade para o Paralamas também celebrar essa data, até porque não sabíamos se teríamos outra chance de fazer uma comemoração assim (risos). Acabamos fazendo o melhor show da história do Paralamas, contando a nossa história em uma hora e meia, só com músicas que todo mundo queria ouvir. Foi só nos últimos dois anos que paramos para pensar no disco novo.
Como foi trabalhar com o produtor Mario Caldato Jr.?
A ideia veio de sair do nosso normal, que era trabalhar com Liminha ou o Carlo Bartolini, que são próximos, amigos. Queríamos chamar alguém de fora para trazer um sopro novo, arejar. Foi o João quem teve a ideia de chamar o Mario. Quando ele chegou, o disco já estava muito andado, em termos de arranjos e de ideia geral. O que ele fez foi respeitar um pouco a sujeira, deixou rastros de desafinações, o que achei interessante. Foi muito bom trabalhar com o Mario, a gente lhe deu carta branca. Ele interferiu menos do que a gente imaginava. O Mario quis manter a nossa espontaneidade.
Você acha que ainda há espaço para o rock no mercado atual?
O Roger Daltrey (vocalista da banda inglesa The Who) falou outro dia que o rock se esgotou, porque todo mundo já fez tudo possível, mas, ao mesmo tempo, ele não se acaba. Ele comparou com o o jazz, que sempre tem gente que gosta. A diferença é que, antes, na época em que estouramos, o rock era a música que fazia sucesso, ia até você. Hoje, você tem que ir atrás dele. O rock voltou a ser uma música de nicho, como já foi antigamente, aliás.
SINAIS DO SIM
Os Paralamas do Sucesso
Universal, CD com 11 faixas, R$ 21,90.
Disponível nas plataformas digitais.
Cotação: bom