Autor de composições que não apenas mudaram o panorama da música de concerto a partir da virada do século 18 para o 19 como entraram para o imaginário ocidental pela beleza de suas melodias, o alemão Ludwig van Beethoven (1770 – 1827) será homenageado com um concerto e uma série de recitais em Porto Alegre a partir desta sexta-feira (11/8). É o Festival Beethoven, realizado por meio de uma parceria entre a Universidade de Caxias do Sul (UCS), que comemora 50 anos, e o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No concerto de abertura – nesta sexta (11/8), às 20h30min, no Theatro São Pedro –, a Orquestra Sinfônica da UCS receberá o experiente pianista americano Victor Rosenbaum para tocar o Concerto para Piano e Orquestra nº 3. Sempre sob a batuta do maestro Manfredo Schmiedt, a orquestra também executará a célebre Sinfonia nº 5, conhecida pela melodia com quatro notas com as quais é iniciada. Dentro da programação do festival, Rosenbaum apresentará um recital solo no domingo (13/8) e participará de um trio na quarta-feira (16/8) com Felipe Avellar de Aquino (violoncelo) e Fredi Gerling (violino). Aquino, que estará em um recital neste sábado (12/8) com a pianista Cristina Capparelli, é outro convidado especial do evento – o músico tem formação na Universidade Federal da Paraíba e pós-graduação nos Estados Unidos.
Organizador do festival, Fredi Gerling explica que a vinda de Victor Rosenbaum representa a continuidade do ensino da música de Beethoven, compositor no qual o pianista americano é especialista. No final da década de 1970, Gerling e sua mulher, Cristina Capparelli, foram alunos de Rosenbaum no New England Conservatory, em Boston. Hoje, compartilham o conhecimento adquirido com seus alunos do Departamento de Música do Instituto de Artes da UFRGS. Diz Gerling:
– Para mim, é um momento especial, porque fui aluno dele e, agora, tocamos juntos. A música tem dessas coisas. Da mesma forma, o Manfredo (Schmiedt, maestro da Orquestra Sinfônica da UCS), que regerá o concerto de abertura, foi meu aluno de música de câmara, assim como eu fui aluno de música de câmara do Victor.
Gerling explica que Beethoven se tornou figura central na música ocidental especialmente graças a suas sinfonias: a primeira delas inspirou a formação básica do que hoje se conhece como orquestra sinfônica, com uma proporção específica entre os naipes dos instrumentos:
– Algumas das maiores salas de concerto do mundo têm nomes de grandes compositores inscritos no teto, e Beethoven normalmente está no centro deles.
Embora o compositor alemão tenha marcado a transição entre o chamado período clássico e o romântico, Gerling argumenta que esse tipo de análise está em desuso hoje por não dar conta da complexidade do fenômeno. O violinista e professor prefere chamar simplesmente de "período de Beethoven":
– Ele construiu uma música acessível na superfície, agradável de ouvir, mas, analisando bem, é complexa e erudita. Você pode simplesmente ouvir sem pensar muito, mas também pode ficar pensando uma vida inteira sobre isso.
O ano de 2017 marca os 190 anos de morte de Beethoven, mas o organizador do festival garante que a data nem sequer passou pela sua cabeça ao criar a homenagem:
– Não celebramos sua morte, mas a continuidade de sua música.
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ENTREVISTA: Victor Rosenbaum, pianista
Por que o senhor escolheu o Concerto nº 3 para tocar com a Orquestra da UCS no Festiva Beethoven?
Adoro todos os concertos de Beethoven para piano e orquestra, mas para mim este tem qualidades dramáticas e expressivas especiais – um poderoso primeiro movimento, com uma entrada de solo robusta, um segundo movimento intimista e lírico e um terceiro movimento de grande energia dançante. E pensei que cairia bem com a Quinta Sinfonia, no mesmo tom dramático de dó menor.
Na sua visão, por que Beethoven é um compositor tão popular depois de todos estes séculos? Sua música ainda é muito familiar ao público, não apenas entre fãs da música de concerto.
Beethoven fala pela humanidade, pela condição humana. Sua música expressa todo o espectro da emoção humana. Além disso, ele foi um grande inovador na composição, então sempre há coisas novas e interessantes para descobrir em sua música. Nunca nos cansamos de ouvir.
Como professor experiente, qual é o seu conselho para os jovens músicos que querem tocar Beethoven?
Sempre aconselho meus alunos a estudar a partitura cuidadosamente, como se se preparassem para tocar para o próprio compositor! Porque Beethoven era bastante exigente em sua notação musical e em suas demandas para o intérprete. Mas a a partitura nunca diz tudo. De fato, é apenas o início do processo, inspirando e alimentando as emoções e a imaginação. Então, você precisa estar disposto a arriscar todo o seu ser para tocar uma música com essa profundidade emocional.
Algumas orquestras no mundo estão fechando, e a indústria fonográfica da música clássica está em crise. O que o senhor espera do futuro da música de concerto?
Às vezes, ouvimos falar de orquestras em greve ou cancelando uma temporada ou, sim, até mesmo fechando. Mas isso é relativamente raro se comparado com as orquestras que estão prosperando e começando. Não sou realmente tão pessimista sobre o futuro da música de concerto. Há mais pessoas estudando e tocando música clássica no mundo do que em qualquer outro momento na história. Por meio da internet, a música está disponível para qualquer um, e há até formação – como master classes – no YouTube. Há um grande interesse em música clássica na Ásia, onde literalmente milhões de pessoas estão estudando, e conservatórios e salas de concerto estão sendo construídos, especialmente agora na China. A indústria fonográfica pode não ser o que costumava ser, mas há outras plataformas para levar a música ao público. Antes, se você não tivesse um contrato com um importante selo ou com um grande empresário, você não teria chance de ter uma carreira. Agora, todos podem fazer um site na rede e ter a sua música ouvida e divulgada por conta própria. E muitos compositores estão escrevendo novas músicas para salas de concerto em estilos acessíveis e adorados pelo público. Não são apenas os "clássicos" da música clássica! Como professor, vejo cada vez mais inscrições nos principais conservatórios todo ano, e a qualidade dos candidatos melhora a cada ano também. Então, há muitos motivos para ser otimista.
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FESTIVAL BEETHOVEN
Nesta sexta-feira (11/8)
Concerto da Orquestra Sinfônica da UCS com Victor Rosenbaum (piano). Às 20h30min, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), em Porto Alegre. Ingressos de R$ 20 a R$ 50. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
Neste sábado (12/8)
Recital com Felipe Avellar de Aquino (violoncelo) e Cristina Capparelli (piano). Às 16h30min no Auditorium Tasso Corrêa (Rua Senhor dos Passos, 248), em Porto Alegre. Entrada franca.
Domingo (13/8)
Recital de piano com Victor Rosenbaum. Às 16h30min, no Auditorium Tasso Corrêa. Entrada franca.
Quarta-feira (16/8)
Recital com Victor Rosenbaum (piano), Felipe Avellar de Aquino (violoncelo) e Fredi Gerling (violino). Às 19h30min, no Tasso Corrêa. Entrada franca.