Naquele início dezembro de 1977, o palco do antigo Cine Pampa acendia suas luzes para receber a sétima edição da Califórnia da Canção Nativa. O festival consolidava sua trajetória ascendente e seguia consagrando canções que se tornariam antológicas. Os autores da canção vencedora são dois dos maiores revelados naquele palco irradiante: o poeta Gilberto Carvalho e o compositor Airton Pimentel.
Gilberto, entusiasta de primeira hora do festival uruguaianense, foi divulgador, apresentador, cenógrafo, assistente de direção e a partir da terceira edição passou a concorrer, conquistando o troféu máximo por duas vezes consecutivas. Airton, um dos mais talentosos cancionistas já surgidos em solo rio-grandense, é autor de, entre tantas, Rancho da Estrada e Missal das Reses. A Calhandra de Ouro desta edição coube à canção Negro da Gaita imortalizada pelo genial César Passarinho, que se consagraria como uma das vozes mais importantes da história da Califórnia.
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Pela segunda vez consecutiva, interpretava a canção vencedora e também pela segunda vez receberia o troféu de melhor intérprete do festival (a primeira foi com a canção Ave Maria Pampiana, de Ubirajara Raffo Constant e Francisco Alves, na quarta edição). Passarinho até hoje é considerado por muitos como a voz mais marcante deste evento. Ainda venceria outras vezes o festival, e as canções que interpretou por certo haverão de constar nas melhores antologias da canção regional gaúcha.
A gaitinha de botão irrompe solitária subindo e descendo rapidamente a escala. Os violões respondem vivazes na respiração da milonga. O cantor não chega a completar a primeira linha da letra, e já se fazem ouvir efusivas as palmas de uma plateia arrebatada. Assim se pode descrever resumidamente os primeiros segundos da gravação original, pois a excelência do instante não caberia nesta página (e nem em muitas, desconfio).
As performances do letrista, do musicista, e do intérprete de Negro da Gaita, todas marcadas de poeira e pampa, abriram muito mais que um fole: em notas eternamente sentidas, ajudaram a escrever o livro infindável da cultura sul-rio-grandense.