A gurizada não para de rondar, desde o começo do mês, o imóvel localizado no número 203 da Rua José Guimarães, no centro de Esteio. É que ali, em breve, será inaugurada a primeira Casa da Cultura Hip Hop do Estado – o grande chamariz para a garotada é a promessa da construção de uma pista de skate no pátio do sobrado com área de mais de mil metros quadrados.
O projeto é um sonho antigo do grupo Rafuagi, referência do rap no Estado, e da Associação da Cultura Hip Hop de Esteio, que há quatro anos e meio lutam por um espaço para oferecer gratuitamente cursos aos jovens da comunidade. O plano finalmente saiu do papel no último dia 3, quando foi assinado um contrato de comodato com Flora Pigatto Acadorli, 78 anos – a dona Flora –, proprietária do imóvel. Após a morte do marido, Gesuino Acadorli, aos 91 anos, em janeiro do ano passado, ela não conseguia mais cuidar do espaço, que foi invadido e vandalizado.
Leia mais:
Rappers gaúchos buscam visibilidade em tempo de efervescência do hip hop no país
Emoção marca álbum póstumo de Sabotage, assassinado em 2003
"The get down", série da Netflix, acompanha o surgimento do hip hop nos EUA
"A periferia se calou, e isso tem um preço", afirma rapper Ice Blue, integrante dos Racionais MC's
– Me senti muito pequena. Alugar, vender... Achei que não ia dar. Roubaram os fios (da rede elétrica), as pias, tiraram as tomadas – recorda a enfermeira aposentada, que, para se livrar do incômodo, resolveu fazer uma boa ação. Cedeu o local por cinco anos para as atividades do centro comunitário, mesmo após muitos familiares se manifestarem contra a iniciativa.
– Na frente da casa, vai estar o nome do Gesuino e o meu. Vai ficar para o resto da vida – empolga-se dona Flora, que admite não conhecer o gênero musical que nasceu na década de 1970 na cidade de Nova York. – Não imaginava o que era esse tal de hip hop. Mas fiquei orgulhosa por ser a primeira casa do Estado.
Voluntários e familiares fazem mutirão para organizar a casa
A ideia é que as atividades no espaço já comecem no mês de março. Para isso, cerca de 35 voluntários trabalham para deixar o local apto para que no futuro possa receber oficinas de mixagem – para formar futuros DJs –, técnicas de rima e composição de letras de rap e tudo mais que envolva as atividades de um MC, grafitagem e dança breaking.
– Partindo dos elementos do hip hop, a gente começa a atuar em outras frentes, como cinema e teatro. Vai ter uma sala do conhecimento, a nossa biblioteca, além de uma horta, para fazer a comunidade participar do projeto. No futuro, queremos oferecer quadra poliesportiva e pista de skate – conta Rafa, integrante do Rafuagi e coordenador de autogestão e sustentabilidade da Associação da Cultura Hip Hop de Esteio. – O que está erguido é a estrutura. Mas a gente sabe que implantar o pedagógico aqui dentro e o sistema de logística de funcionamento será uma batalha árdua. Estamos na disposição e temos parceiros para que isso aconteça.
O rapper faz questão de agradecer os familiares dos voluntários no projeto. A mãe de um deles, por exemplo, doou 500 tijolos, que serão usados para isolar a área do estúdio público. Outro emprestou a churrasqueira, utilizada para fazer a refeição no dia do mutirão de limpeza na casa, realizado no último dia 11.
– São pequenos detalhes que fazem toda a diferença no processo – atesta Rafa. – Todo mundo que sabe fazer alguma coisa e que acha que pode fazer algo, entre em contato. Pode ser com ajuda financeira, mão de obra, ideias: o que vier para somar estamos abraçando.
Entre os parceiros da empreitada está o Banrisul, que, por meio do Departamento de Juventude do Estado do Rio Grande do Sul, doou 35 computadores, além de mesas e cadeiras. Quem quiser acompanhar o processo de reforma do espaço até o lançamento, além de saber como contribuir, pode acessar a página no Facebook da Associação da Cultura Hip Hop de Esteio. No próximo dia 3, a entidade abrirá as portas da casa para que os moradores conheçam o espaço.
CASA DA CULTURA HIP HOP DE ESTEIO
Rua José Guimarães, 203, Esteio
Contato para doação: (51) 984776911