Nada mais apropriado que um projeto cujo mote em 2016 foi a sentença "sobre a palavra futuro" despeça-se com a cantora do milênio. Elza Soares volta a Porto Alegre nesta quinta para fechar o Unimúsica, às 20h, no Salão de Atos da UFRGS – a retirada de ingressos começa nesta segunda, a partir das 9h. Na temporada em que completa 35 anos, a iniciativa do Departamento de Difusão Cultural da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS programou seis shows musicais protagonizados por mulheres – a série iniciou-se em junho com outra diva da canção: Maria Bethânia.
Eleita em 1999 pela rádio londrina BBC como a cantora brasileira do milênio, Elza vive aos 79 anos sua fase mais consagradora desde que lançou no ano passado o sensacional álbum A mulher do fim do mundo. O 34º disco da veterana artista, o primeiro só com músicas inéditas, foi escolhido como o melhor do ano pelo Prêmio APCA, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e pelo Prêmio da Música Brasileira.
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O trabalho reuniu alguns dos mais inventivos músicos em atividade em São Paulo: Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Felipe Roseno e a banda Bixiga 70, além dos diretores artísticos Celso Sim e Romulo Fróes. A esse núcleo criativo, somaram-se os incensados compositores da pauliceia José Miguel Wisnik, Cacá Machado, Douglas Germano e Alice Coutinho. As 11 canções têm letras que abordam temas contemporâneos como a vida na cidade grande, o preconceito racial, a violência doméstica e social contra a mulher, a dependência de drogas, o sexo e a morte.
Sentada em um trono metálico cercado por sacos plásticos de lixo, a rainha do fim do mundo mostrará músicas do novo álbum como a faixa-título, Coração do mar e Benedita, além de sucessos de sua carreira. O retorno do espetáculo já apresentado com êxito na Capital em abril coincide com o lançamento em vinil de A mulher do fim do mundo e precede uma turnê europeia de Elza, que vai passar em novembro por Berlim, Amsterdã, Londres, Porto, Aveiro e Lisboa.
– O show é alegre, bonito, feliz. Tenho toda a plateia do meu lado. Vejo muitos jovens no show, que querem saber quem é Elza. Eles gritam "Elza é nossa, Elza é nossa!". Estou embriagada com esse público. Acredito que é o melhor momento da minha carreira – disse em entrevista a Zero Hora a cantora que completou 60 anos de trajetória.
Elas cantaram sobre a palavra futuro
Espécie de contraponto à série irreverentes, de 2015, que contou só com homens na programação, os shows deste ano do Unimúsica foram todos liderados por mulheres.
– Futuro é conversar sobre gênero e etnia – justificou Lígia Petrucci, coordenadora e curadora do projeto.
Maria Bethânia (2 de junho)
Acompanhada do violonista Paulinho Dafilin e do percussionista Carlos Cesar, a cantora baiana mostrou no espetáculo Bethânia e as palavras a especial relação que mantém com a literatura dizendo poemas e textos selecionados por ela, mesclados a músicas pouco usuais em seu repertório.
Juçara Marçal (7 de julho)
Figura de destaque da nova cena musical paulistana, a cantora e compositora carioca fez uma apresentação visceral de seu primeiro disco solo, o urbano Encarnado, marcada pelo peso das guitarras distorcidas e rascantes de Kiko Dinucci.
Marlui Miranda (4 de agosto)
Referência em pesquisa da música indígena brasileira, a cantora, compositora e arranjadora transportou o público para o meio da floresta com seu belo show, harmonizando canto e sons da natureza com o jazz do quarteto de feras formado por Rodolfo Stroeter (contrabaixo), Paulo Bellinati (violão), Caíto Marcondes (percussão) e Ricardo Mosca (bateria).
Karina Buhr (1º de setembro)
A passagem pelo Salão de Atos da UFRGS da cantora, compositora e escritora foi uma autêntica celebração catártica, com a direito a garotas com os seios à mostra subindo da plateia para o palco. A selvática Karina defendeu seu rock de temática feminista ao lado de uma superbanda que incluía os guitarristas Edgard Scandurra e Fernando Catatau.
Carina Levitan, Gisele de Santi, Gutcha Ramil e Vanessa Longoni (6 de outubro)
As quatro jovens cantoras, compositoras e instrumentistas gaúchas criaram um show especialmente para o Unimúsica, em que apresentaram temas próprios e de diversos autores acompanhados por projeções de imagens em vídeo.