Em seu terceiro disco, Gisele De Santi empreende uma viagem tão íntima em busca da alma que os arranjos "crus" ou "nus", em suas palavras, se assemelham a canções de ninar. Casa traz a cantora e compositora de voz delicadamente intensa acompanhada por Luiz Mauro Filho ao piano e Vagner Cunha nas cordas. Foi Vagner, produtor do trabalho, quem sugeriu esse formato ainda em 2010, quando Gisele gravava seu primeiro lançamento. Na época, ela julgou ousada a ideia – que descartou e decidiu resgatar apenas recentemente. Grávida de sete meses de Francisco, ela queria produzir um novo trabalho porque entendeu que depois do nascimento seria mais difícil.
Casa foi uma espécie de segunda gestação, só que mais breve: da ideia à gravação foram só três meses. As sessões ocuparam duas diárias no Recanto Maestro, em São João do Polêsine, próximo a Santa Maria. O pequeno Chico acompanhou tudo lá de dentro, mexendo-se ao sabor da música e chutando quando a mãe atingia os agudos. Não deixou de ser um retorno para Gisele, porto-alegrense de 30 anos radicada há cinco em São Paulo – mas registrou seus três discos em terra gaúcha, que considera sua casa.
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O lançamento em Porto Alegre será marcado com um show hoje, às 21h, no Theatro São Pedro. Sim, ela precisou de seis anos para amadurecer o projeto de um álbum cru, mas a seu ver a ideia segue ousada como sempre:
– Não pense que não vou tremer na base na hora do show, que será de muita emoção. A voz estará ali nua com piano e violino, dizendo coisas que acho importantes de serem ditas.
Maternidade é um dos temas de "casa"
Não apenas o disco é dedicado a Chico, hoje com um ano de idade, como diversas canções poetizam a experiência da maternidade. É o caso da faixa-título, com música de Rodrigo Panassolo, seu marido, e letra de Gisele a partir da perspectiva do filho ("Ventre que aquece/ Nunca esquece/ De quando eu morava ali"). Ou de Bem-vindo, que encerra o disco, uma canção composta por Yamandu Costa para o primeiro filho e que agora ganha letra da cantora e compositora ("É tarde, apaga o medo/ Ainda é cedo pra crescer"). Embora o álbum claramente espelhe um momento íntimo, ela entende que cada ouvinte poderá tecer diferentes leituras:
– Nem todas as músicas falam sobre maternidade. Tratam de um estágio letárgico no qual o relógio não importa. O que importa é o que dizemos para nós mesmos. A maternidade me proporcionou um momento de reflexão, mas para os ouvintes o disco poderá evocar outras situações, como o término ou o início de um relacionamento ou até mesmo a perda de um ente querido.
Casa resulta também de um debruçar de Gisele sobre sua história. Sete mil vezes, de Caetano, é uma música que ela canta desde adolescente (hoje tem 30 anos) e está presente em seu disco preferido do mestre baiano, Cores, nomes (1982). Quando eu sonhei e A lua vagarosa são versões de poemas do repertório que ela interpretava durante o bacharelado em canto no Instituto de Artes da UFRGS. Para Gisele, a palavra "casa" remete à moradia interna de cada um:
– É a busca por uma conexão consigo mesmo. Para mim, isso tem a ver com a alma ou com a essência, se quisermos chamar assim. A casa é isso: é poder abrigar nossa alma de forma coerente, em paz, de forma amorosa.
E será que ela conseguiu encontrar a própria alma?
– Estou em busca, mas acho que ela está andando junto comigo. A gente conversa bastante, eu e ela (risos). Se o resultado do disco foi bom ou não, isso não importa. Se vai fazer sucesso ou não, tampouco. Para mim, já fez sucesso porque me sinto feliz com esse trabalho e isso é o auge do sucesso.
Gisele De Santi – Casa
Quarta-feira, 10/8, às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 10 (galerias), R$ 20 (camarote lateral), R$ 30 (camarote central) e R$ 40 (plateia e cadeira extra). À venda na bilheteria do local, das 13h até a hora da sessão.
O show: Gisele De Santi cantará o repertório do disco Casa acompanhada por Vagner Cunha (violino e direção musical) e Luiz Mauro Filho (piano).
O disco: lançado pela gravadora Bell’Anima, tem 13 faixas e está à venda por R$ 29,90 na Livraria Cultura e na Saraiva (na quarta à noite, no Theatro São Pedro, poderá ser comprado por R$ 25). Pode ser ouvido nas plataformas digitais, incluindo o YouTube.