Em seu disco de estreia, Monomania (2013), Clarice Falcão incorporava uma personagem obcecada pelo amor. "Quem vai comprar esse CD sobre uma pessoa só?", questionava ironicamente a cantora.
A resposta veio com um séquito de fãs e boas críticas. Neste sábado, Clarice volta multifacetada a Porto Alegre, com a turnê de seu segundo registro, Problema meu, lançado em fevereiro deste ano. Com auxílio do produtor Kassin, ela explora diferentes estilos musicais no álbum.
– O primeiro disco tinha só um eu lírico, um assunto: falava de obsessão. Então era um álbum mais obsessivo mesmo. Sempre quis que o segundo fosse completamente diferente. Procurei o Kassin justamente porque ele tem esse talento de transitar por gêneros distintos – conta a cantora, em entrevista por e-mail a Zero Hora.
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Em Problema meu, o folk de Monomania dá espaço para ritmos como a marchinha de Carnaval (Irônico), o pop rock (A volta do mecenas) e o brega (Banho de piscina). Também há espaço para um cover inusitado de I'll fly with you, de Gigi D'Agostino, hit das pistas de dança no final dos anos 1990. Na voz de Clarice, a música ganhou contorno intimista.
– Eu tinha 11 anos quando ela foi lançada e ficava esperando tocar no rádio, plantada ao lado do microsystem – lembra.
O sarcasmo do primeiro disco continua presente em algumas letras (Clarice), mas também há histórias cotidianas para serem contadas, como Marta – faixa em que a cantora conversa com uma mulher que tem o número de telefone parecido com o seu e, por isso, vive recebendo as ligações dela –, que é baseada em fatos reais:
– Faz mais de quatro anos que recebo SMS's e ligações para uma Marta Helena. E parece que ela está com problemas de dinheiro.
O feminismo também marca presença. Eu sou problema meu é o grito de independência de uma mulher. Vagabunda transmite uma ideia de sororidade.
– Sempre convivi com mulheres muito fortes, então essa ideia de empoderamento feminino sempre foi muito presente na minha vida de alguma forma. Gosto de contar histórias de mulheres – relata.
Em 2015, a cantora lançou a sua versão de Survivor, hit do Destiny’s Child, que foi acompanhada de um vídeo com uma mensagem feminista. No entanto, alguns comentários nas redes sociais criticaram a falta de representatividade no vídeo, além de apontarem um "feminismo branco". Clarice afirma que concordou com vários pontos das críticas e aprendeu muito com o debate:
– Acho muito importante reconhecer os próprios privilégios. Mas acho também que o clipe foi uma obra que fiz a partir da minha perspectiva e história de vida, que são de uma menina branca. A proposta não era fazer um manifesto feminista, era fazer um clipe com mulheres da minha vida que admiro.
Para focar em sua carreira musical, Clarice anunciou a sua saída do grupo Porta dos Fundos em novembro de 2015. Porém, a sua faceta de atriz pode voltar a ser vista em breve:
– Eu me entedio fácil quando passo muito tempo fazendo a mesma coisa. Já estou com saudades de atuar.
CLARICE FALCÃO
Sábado, às 20h, no Opinião (José do Patrocínio, 834). Ingressos esgotados.