A polêmica envolvendo os comentários de J.K. Rowling contra pessoas trans acaba de ganhar mais um capítulo. Seguindo seus colegas britânicos, 1.200 escritores dos Estados Unidos e Canadá assinaram uma carta aberta em apoio à população de gênero trans e não binário, conforme informações do The Guardian.
Incluindo nomes como Stephen King, Margaret Atwood, Roxane Gay, Neil Gaiman, John Green, NK Jemisin e Angie Thomas, o manifesto não cita a autora de Harry Potter diretamente, mas contraria suas falas de que o gênero estaria atrelado ao sexo de nascimento.
“Acreditamos no poder das palavras. Queremos fazer nossa parte para ajudar a moldar a curva da história em direção à justiça e imparcialidade”, escrevem eles. “Para esse fim, dizemos: pessoas não binárias são não binárias, mulheres trans são mulheres, homens trans são homens, direitos trans são direitos humanos. Seus pronomes são importantes. Você importa. Você é amado."
Os signatários também criticam a transfobia no discurso editorial. A autora Maureen Johnson, que inicia o texto, diz que embora “a carta não conserte as coisas”, ela é “destinada a a) mostrar apoio e b) trazer consciência para a transfobia no discurso editorial e na comunidade ”.
J.K. Rowling e a transfobia
Desde o ano passado, Rowling tem feito publicações no Twitter em apoio à concepção de gênero como biológica. A discussão, no entanto, ganhou força em junho deste ano ano, após a escritora afirmar que "se o sexo não é real, a realidade vivida das mulheres em todo o mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos discutirem significativamente suas vidas".
Desde então, diversos escritores e atores têm se manifestado contrários às declarações de Rowling, inclusive pessoas que trabalharam com ela. Daniel Radcliffe e Emma Watson, que interpretaram os personagens de Harry Potter nos cinemas, reforçaram publicamente o movimento "Mulheres trans são mulheres", que se iniciou após as declarações da escritora.
As críticas vieram novamente quando J.K. anunciou seu novo romance policial, Troubled Blood, sobre um assassino em série que ocasionalmente veste roupas de mulher para atrair suas vítimas. Segundo ativistas trans, o livro reforça a visão da autora por reforçar o estereótipo de transição de gênero enquanto algo esporádico, além de perigoso para a sociedade.
Em resposta, mais de 200 escritores britânicos e irlandeses, incluindo Jeanette Winterson e Malorie Blackman, se manifestaram em apoio à comunidade trans e não binária, afirmando que "vidas não binárias são válidas, mulheres trans são mulheres, homens trans são homens, direitos trans são direitos humanos”.
Vale destacar que, desde junho de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a transexualidade da lista de doenças mentais, afirmando que a situação é resultado apenas de um desacordo entre o gênero de nascimento e aquele com o qual a pessoa se identifica. Ou seja, alguém cresce sabendo que é de outro gênero, mas preso ao corpo errado. Estas pessoas têm o direito de mudar de sexo e obter uma nova identidade, de acordo com sua realidade.
Até o momento, a criadora de Harry Potter não se retratou pelo caso, mas publicou um artigo em seu site em que busca explicar a origem de sua visão. Rowling revelou ter sido vítima de abuso doméstico e agressão sexual no texto. "Estou mencionando essas coisas agora, não em uma tentativa de obter simpatia, mas por solidariedade com o grande número de mulheres que têm histórias como a minha, que foram criticadas por serem fanáticas por se preocuparem com espaços de sexo único", declarou.