O desenhista argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, mais conhecido como Quino, morreu nesta quarta-feira (30). Mundialmente famoso pela tira da Mafalda, ele tinha 88 anos.
A morte de Quino foi anunciada pelo seu editor, Daniel Divinsky, acrescentando que "todas as pessoas boas do país e do mundo vão chorar por isso". Segundo informações do jornal Clarín, o desenhista havia sofrido um AVC nos últimos dias e seu estado piorou. Já o La Nación destaca que o artista morreu por "condições próprias de sua idade".
A comoção tomou conta das redes sociais, e cartunistas de todo o mundo lamentaram a perda de Quino. Mauricio de Sousa, o criador da Turma da Mônica, disse que o argentino "está agora desenhando pelo universo com aqueles traços lindos e com um humor certeiro como sempre fez". Já Carlos Latuff publicou um cartum com a legenda: "Quino nos deixou hoje, mas sua filha Mafalda segue com a luta!".
Nos últimos tempos, Quino se locomovia por meio de cadeira de rodas por causa de um problema circulatório que tinha em suas pernas, além de sofrer de glaucoma, o que afetou seriamente sua visão. De acordo com o La Nación, o artista mantinha o bom humor nos últimos meses.
Filho de imigrantes espanhóis, ele nasceu em Mendonza, na região montanhosa da Argentina, em 17 de julho de 1932. Foi na mesma cidade onde também morreu: ele voltou a morar lá em 2017, após a morte de sua mulher, Alicia Colombo – sua companheira desde os anos 1960. O casal não teve filhos.
Desde o seu nascimento, era chamado de Quino para ser distinguido de seu tio Joaquín Tejón. Aos três anos já descobriu sua vocação para o desenho, tanto que aos 13 se matriculou em uma escola de artes. Em 1949, ele decidiu que trabalharia com as suas maiores aspirações: cartum e humor.
Quino se mudou para Buenos Aires aos 18 anos para tentar a sorte. Porém, passaria três anos enfrentando dificuldades econômicas até conseguir realizar seu sonho. "O dia que publiquei minha primeira página (no semanário Esto es, em 1954) foi o momento mais feliz de minha vida", disse o desenhista conforme publicação em seu site oficial. A partir daí, Quino passou a desenhar ininterruptamente para diversos jornais e revistas da América Latina e Europa.
Ele criou Mafalda em um trabalho como desenhista publicitário para uma agência. A garotinha seria personagem de uma peça de propaganda, que conteria tirinhas para o lançamento de produtos de eletrodomésticos chamados Mansfield, razão pela qual alguns dos personagens deveriam começar com a letra "M", como Mafalda.
A campanha não foi para a frente, mas a personagem ganharia vida. Mafalda surgiu oficialmente em 29 de setembro de 1964, data em que foi publicada pela primeira vez em uma tira no semanário Primera Plana. Mais tarde, a personagem seria traduzida para mais de 30 idiomas.
Quino sempre seria associado ao nome de Mafalda, a menininha progressista e questionadora de seis anos, sempre preocupada em combater os problemas sociais.
Ele desistiu de publicá-la em 1973, após quase duas mil tirinhas (1.928, no total). Mafalda já não era alvo do afeto de seu criador: "Acabou se tornando um personagem opressivo, um obrigação, e então deixou de ser divertido, fiquei cansado", disse Quino à jornalista espanhola Maruja Torres, em uma entrevista inclusa na coletânea Toda Mafalda, da Martins Fontes, que reúne todas as tiras da personagem.
Durante a ditadura argentina, o governo do país queria utilizar Mafalda em uma campanha na imprensa. Quino recusou. Dias depois, um grupo armado invadiu o departamento onde trabalhava. Ele e Alicia buscaram exílio em Milão, na Itália. O casal viveu entre Madri e Mendonza de 2009 até 2017.
Pós-Mafalda
O seu trabalho pós-Mafalda, embora não seja tão amplamente conhecido, destacou Quino como um dos mais brilhantes artistas gráficos em uma nação repleta de outros mestres do traço, como Fontanarrosa ou Mordillo.
Quino continuou trabalhando com o humor que já vinha fazendo 13 anos antes de criar a Mafalda: cartuns e historietas que, com poucas palavras ou mesmo nenhuma, conseguem desconcertar, fazer rir e provocar comoção no leitor pelo que têm de complexo e de singelo ao mesmo tempo. É claro, mantendo o tom político, abordando questões como opressão e desigualdade social.
De qualquer maneira, o interesse pela Mafalda se manteve inalterado: coletâneas de tiras seguem reimpressas em livros. Ela permaneceu atual a ponto de cativar a geração das redes sociais, nas quais tiras da menina são alvo de compartilhamento constante. A personagem continuou sendo incluída em campanhas sociais – como da Unicef, Cruz Vermelha da Espanha, Ministério de Relações Exteriores da Argentina, entre outras.
Última homenagem
Para celebrar os 88 anos de Quino em julho, o Ministério de Cultura e Turismo de Mendonza lançou um especial multimídia chamado Quinopedia. O projeto contou tanto com uma plataforma digital – onde fãs puderam mandar "abraços virtuais" ao artista, com desenhos, vídeos, fotos e mensagens –, quanto com um documentário que integrou o primeiro episódio do programa Los Mapas del Arte. A iniciativa busca destacar o trabalho de realizadores da província.