150 escritores, ativistas e acadêmicos assinaram um texto contra a "cultura do cancelamento", presente com força nas redes sociais. A carta aberta, intitulada A Letter on Justice and Open Debate ("Uma Carta sobre Justiça e Debate Aberto", em tradução literal), foi publicada na revista Harper's.
Entre os apoiadores da ideia, estão as escritoras Margaret Atwood (O Conto da Aia) e J.K. Rowling, justamente em um momento em que a autora da saga Harry Potter vem sendo bombardeada na internet com acusações de transfobia por conta de suas declarações polêmicas.
O texto publicado defende que o silenciamento não pode derrotar ideias ruins, e propõe o diálogo como alternativa. De acordo com o grupo de escritores, o debate de ideias e a troca de informações têm sido barrados por pessoas intolerantes e até governos, como "uma moda de humilhação pública e ostracismo, e a tendência de dissolver questões políticas complexas com uma certeza moral", diz parte da carta aberta, que segue:
"Como escritores precisamos de uma cultura que nos dê espaço para experimentações, chances de tomar riscos e até cometer erros. Precisamos preservar a possibilidade de uma discordância de boa-fé, sem consequências profissionais terríveis". A íntegra da publicação, em inglês, pode ser lida aqui.
A última onda de críticas a Rowling teve início após um comentário no Twitter no início de junho. Ela compartilhou o artigo opinativo Creating a more equal post-COVID-19 world for people who menstruate ("Criando um mundo pós-COVID-19 mais igual para as pessoas que menstruam") com a irônica nota: "‘Pessoas que menstruam.’ Eu tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude. Wumben? Wimpund? Woomud?" (em referência à palavra "women", mulheres, em inglês).
A ironia não foi gratuita, uma vez que, em seguida, a escritora fez questão de destacar sua visão sobre gênero, que não aceita mulheres trans como "verdadeiras mulheres". Rowling escreveu: "Se o sexo não é real, a realidade vivida pelas mulheres em todo o mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos discutirem significativamente suas vidas".
Os comentários repercutiram negativamente nas redes sociais, atingindo fãs e colegas de trabalho da autora. Quatro escritores que eram representados pela mesma agência literária que J.K. Rowling decidiram deixar a companhia após as afirmações transfóbicas.