Gênero que se tornou compreensivelmente mais presente na literatura nacional, a distopia pós-apocalíptica muitas vezes discute, por meio de uma história no futuro, questões abrangentes do presente. A Morte e o Meteoro, novo romance do escritor Joca Reiners Terron, não é uma distopia pós-apocalíptica strictu sensu, está mais para uma nota de rodapé pré-apocalíptica, mas também faz uso do mesmo recurso, colocando em pauta em sua ficção um dos temas mais urgentes (e, não por acaso, mais negados por conveniência política) do país hoje: a ameaça sempre presente de um genocídio definitivo da nossa população indígena.
A Morte e o Meteoro se passa em algum tempo indefinido no futuro em que o atual rumo das coisas não só seguiu firme como se intensificou. A mudança climática provocou desastres ambientais que levaram o Chile a desaparecer no mar. As queimadas e o avanço sobre a Amazônia transformaram a floresta em um deserto, o que leva a última tribo ainda isolada e não aculturada, os kaajapukugi, ao limite da extinção. A tribo não tem mais mulheres e restam apenas 50 homens, a maioria já em idade avançada.
Assim, o protagonista, um funcionário do governo federal mexicano, recebe a incumbência de negociar e tornar possível um pedido de asilo político dos kaajapukugi junto aos mazatecas de Oaxaca, no México, onde uma política indigenista diversa do simples assassinato adotado no Brasil ainda preserva os povos nativos.
Lidando com as consequências de um luto recente, o protagonista tem como ligação com os kaajapukugi um mítico sertanista chamado Boaventura, e essa tarefa o levará a desvendar uma trama que começa com um futurismo incômodo de tão real e termina como uma alegoria delirante da humanidade futura.
É um livro curto, urgente, brutal, mais direto e menos elíptico do que o caudaloso romance anterior, Noite Dentro da Noite. Ao mesmo tempo em que foi claramente escrito como uma reação ao agora, elementos fantásticos semeados aqui e ali pelo autor e concentrados no final impactante parecem acenar ao primeiro livro de Terron, Não Há Nada Lá.
- A Morte e o Meteoro, de Joca Reiners Terron. Romance. Todavia, 120 páginas, R$ 49,90 (papel) e R$ 29,90 (e-book)
Prateleira
Berço de Judas
De Jéferson Assumção
Romance cuja produção o autor Jéferson Assumção já vinha anunciando desde 2015. Na trama, Iuri, um escritor medíocre e intelectual em crise, decide fazer do próprio corpo e da violência um elemento de virada em sua vida e passa a frequentar academias e a mergulhar no submundo participando de lutas livres clandestinas e sem regras.
- Lançamento no próximo dia 14, às 19h, na Livraria Taverna (Rua Fernando Machado, 370), em Porto Alegre.
- Editora Taverna, 240 páginas, R$ 54,90.
Compras do Mês
De Gonçalo Ferraz
Biólogo nascido em Lisboa e radicado em Porto Alegre, Gonçalo Ferraz tem se dedicado, em sua poesia, a cruzar limites entre a palavra escrita, cantada e declamada.
É o que ele faz neste segundo livro, em que poemas são organizados como compras em uma sacola e que tem uma versão áudio disponível no SoundCloud.
- Lançamento amanhã, às 18h, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Engº Luiz Englert, 333), como parte da programação do Dia da Cultura da UFRGS.
- Libretos, 108 páginas, R$ 29.
Nova Carne para Moer
De Cristiano Bastos
Cristiano Bastos reúne neste volume textos produzidos ao longo de duas décadas de trabalho jornalístico. O livro agrega material publicado em veículos como a extinta revista Rolling Stone e o jornal O Estado de S.Paulo. São grandes reportagens, artigos, ensaios, perfis de gente como Nelson Gonçalves e João Donato e entrevistas com nomes como Caetano Veloso, Zé Ramalho, Glauco Mattoso e Tariq Ali.
- Editora Zouk, 260 páginas. Em pré-venda até janeiro, com desconto, por R$ 44,80, no site editorazouk.com.br.
Magrafo
De Diego Lops
Luis Fernando Verissimo escreveu um texto famoso no qual usa a esmo palavras empregadas não pelo seu sentido literal, mas pela impressão criada pela sua sonoridade. É nessa linha que transita este livro de Diego Lops, com o subtítulo Dicionário de Palavras Inexistentes.
O autor apresenta um glossário de palavras inventadas ou reelaboradas para nominar situações e estados subjetivos ou imprecisos. Ilustrações de Chris Tragante.
- Tomo Editorial, 88 páginas, R$ 30.