O poeta e professor Diego Grando apresenta nesta quinta-feira (7), às 17h, na Sala Noé de Melo Freitas, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Rua dos Andradas, 1.223), uma edição especial do projeto Arejando o Cânone, um ciclo de palestras sobre autores clássicos que ele vem organizando na PUCRS desde o ano passado. Como parte de uma programação realizada em parceria entre a universidade e a Feira, Grando discutirá a poesia de João Cabral de Melo Neto, em um papo que pretende falar da poesia em tom passional intercalado com leituras de poemas selecionados.
Você vai falar de João Cabral em uma palestra intitulada Arejando o Cânone. Como se areja o cânone?
É um projeto que criei na PUCRS. A ideia é ter uma palestra mensal de forma bem simples, levando uma pessoa legal para falar de um poeta ou de uma obra legal. Usei as palavras “legal” repetidamente porque a ideia é que seja menos explicação de texto e mais uma fala descontraída, que convide as pessoas a voltarem para as obras. Costumo dizer que é um ciclo de palestras afetivas.
Criou-se em torno de João Cabral essa imagem de um poeta “cerebral”, seco. Como isso combina com uma leitura “afetiva”?
Quando se fala no Cabral, claro que a racionalidade e o cerebralismo estão lá. Em um de seus poemas mais conhecidos, A Educação pela Pedra, há vários mecanismos textuais que fogem de uma determinada tradição da lírica. Ele não tem ali nenhum verbo em primeira pessoa, por exemplo, uma recusa à subjetividade. Mas uma leitura que faço é que essa imagem cerebral foi criada por ele mesmo. Quando a gente coteja a vida dele com a obra, vê que ele tinha relações apaixonadas por Sevilha, por exemplo, e nos poemas sobre a cidade há imagens quentes, sensuais.
Passados 20 anos da morte de João Cabral, que papel ele ocupa na poesia brasileira?
Acho que o João Cabral persiste pelo lugar que inventou para si, de fazer uma poesia difícil mas não hermética. É diferente a dificuldade da obra do Cabral para a dos concretos, por exemplo. Na verdade, não me interessa detectar essa reverberação. Não fico preocupado que a falta dessa repercussão vá fazê-lo desaparecer. De algum modo ele volta. A poesia dele vai gerar novos poetas que não vão fazer a mesma coisa, mas que farão de novo esse caminho do rigor, da feitura pensada e refletida.