Antonio Candido de Mello e Souza (1918–2017) foi, e talvez continue sendo, o maior crítico literário do Brasil. Sociólogo, foi um dos pensadores mais argutos sobre a formação da literatura no Brasil, tema e título de um de seus livros, clássico inescapável. Neste mês em que se completam cem anos do nascimento de Candido (centenário que ele quase comemorou em vida, já que morreu, em 2017, às vésperas de fazer 99 anos), um encontro marcado para a tarde desta segunda-feira (16), na Livraria Baleia, no espaço multicultural Aldeia, vai reunir os professores Guto Leite (UFRGS) e Moema Vilela (PUCRS) e o coordenador da FestiPoa Literária, Fernando Ramos, para debater O Direito à Literatura, um de seus textos que, escrito há décadas, parece ter sido finalizado ontem.
O Direito à Literatura é um artigo publicado por Antonio Candido em 1988 e mais tarde compilado em edições ampliadas de seu volume de ensaios Vários Escritos. No texto, Candido faz uma série de reflexões sobre o papel da literatura e da arte de modo mais geral como parte dos direitos humanos.
Conforme Candido debate em seu texto, a fruição da arte deveria ser, embora nem sempre fosse, considerada um direito básico: “Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade”. Ao mesmo tempo, segundo o autor, a literatura pode ser “um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles”.
— É um texto que está fazendo 30 anos, e foi escrito em uma época em que, com a abertura, a Constituinte, os direitos humanos eram uma pauta forte de reivindicação, e ele, com sua visão humanista, contribui no debate afirmando que a literatura, a arte, o acesso à cultura de maneira geral também é um item indispensável na construção desses direitos humanos —comenta Ramos, que será o mediador do debate.
A leitura como um ato de resistência
Os debatedores serão Guto Leite, poeta, compositor e professor de Literatura Brasileira da UFRGS, e Moema Vilela, professora da PUCRS e escritora, autora do recém-lançado A Dupla Vida de Dadá (Editora Penalux). O encontro será um misto de sarau e seminário, com os participantes lendo e debatendo trechos da obra. Este é apenas o primeiro de uma série de cinco Encontros de Leitura planejados para ocorrerem até o fim do ano. De acordo com a curadora da proposta, Nanni Rios, uma das sócias da livraria Baleia, manter a obra de Candido lida e discutida é, mais do que uma atividade cultural, um ato de resistência.
— O surpreendente na obra do Candido é que muito dela ainda se encaixa como uma luva em vários dos problemas contemporâneos. Muitas das questões que ele desenvolveu em seu trabalho, de modo límpido, sem ser panfletário, volta depois de passados anos e ainda se encaixa. Ele é genial – afirma Nanni.
O centenário de Candido é também o tema de uma exposição abrangente que ocupa até 12 de agosto as instalações do Itaú Cultural de São Paulo. A mostra reúne documentos, originais e depoimentos em vídeo sobre aspectos diversos da vida de Candido: escritores e ex-alunos falam sobre o legado de seu trabalho como crítico e professor.
Encontro de leitura:
O Direito à Literatura, de Antonio Candido
Debate com Guto Leite e Moema Vilela, mediação de Fernando Ramos
Segunda-feira (16), a partir das 19h
Livraria Baleia (Rua Santana, 252), em Porto Alegre
Entrada franca