A escritora Claudia Tajes assina nesta segunda-feira (6/11), às 17h30min, na Praça de Autógrafos da 63º Feira do Livro de Porto Alegre, os exemplares do livro Dez (Quase) Amores + 10 (Belas Letras, 200 páginas, R$ 39,90), que conta com o volume original, publicado no ano 2000, com capítulos inéditos que revelam uma nova fase na vida da personagem Maria Ana.
Leia, a seguir, a entrevista concedida pela autora por e-mail:
Maria Ana escreve no início do livro: "Algo me diz que amadureci". Na sua visão, em que sentido ela amadureceu e como isso se reflete na forma como ela lida com seus relacionamentos hoje?
Esse livro, do jeito como pensei nele, é mais sobre o relacionamento da personagem com ela mesma. Acho que, aos 43 anos, qualquer pessoa, mulher ou homem, já perdeu todas as certezas – e, junto, as ilusões. Já sabe que, se não estiver minimamente valorizada pelo que faz, seja lá o que for, não vai encontrar sossego. Fora tudo de ruim que anda acontecendo nesses nossos dias. Amor faz muito bem, mas não resolve a vida de ninguém. Talvez o amadurecimento seja uma mudança de perspectivas e prioridades. Foi o que tentei escrever.
Maria Ana agora está na era dos aplicativos de relacionamento. Seria desejável que os homens também melhorassem com a tecnologia?
Ela faz uma tentativa porque é muito fácil baixar um aplicativo e encarar um romance virtual que vai terminar em algumas horas – principalmente se você estiver sem Netflix ou sem um bom livro em casa. Eu sou old school, sigo gostando dos homens da vida real e vendo neles grandes parceiros para tudo. Agora, se desse para usar a tecnologia e melhorar alguém, preferia que fosse 99,9% dos políticos.
Nesses 17 anos desde a primeira edição, muita coisa aconteceu no mundo. Uma delas foi a divulgação cada vez maior das questões relativas ao politicamente correto. Maria Ana diz, por exemplo, que agora toma mais cuidado com a língua. Em que sentido ela mudou?
É mais no sentido de não ofender ninguém com um deboche, uma palavra grosseira, um comentário desrespeitoso. Não acho que o mundo ficou mais chato por causa do politicamente correto, acho que ficou menos bárbaro. Sobre os pretendentes, ou os que ela pretende, continua tudo igual. A Maria Ana se diverte quando tem que se divertir e, se está mal (o que é bem frequente), dá seus jeitos. Entendeu que o "para sempre", muitas vezes, pode ser uma chatice.
Agora falando de Claudia Tajes: ao reler o livro e acrescentar novas histórias, como você se sente em relação à sua prosa? Você se reconheceu naquele estilo praticado na primeira edição do livro?
Eu me reconheci. O Dez (Quase) Amores foi uma aposta do Ivan Pinheiro Machado, o editor da L&PM, para quem eu vou agradecer sempre. Foi o livro que me apresentou a essas pessoas generosas chamadas leitores. Eu ainda sou aquela do primeiro livro, mas 17 anos mudam qualquer um. Sou bem menos inconsequente hoje. E, sem jamais deixar de lado o humor, agora tenho a pretensão de falar também das coisas feias, sujas e malvadas que estamos sendo obrigados a viver.
Agora a pergunta que deveria ter sido feita no início: como surgiu a ideia de republicar o livro incluindo novas histórias?
A ideia foi da editora Belas Letras, um convite muito simpático que me pegou de surpresa. Estava no meio de outra história, trabalhosa, complicada, sofrendo para terminar cada página. Daí eu pensei: por que não? A vida tem sido pegada nesses últimos tempos, vou me divertir um pouco.