A Companhia das Letras lançou o livro Letras (1961 – 1974), que reúne traduções de canções de Bob Dylan para o português. Saiba mais, abaixo, sobre dois títulos escritos por Dylan que voltam às livrarias brasileiras:
CRÔNICAS – VOLUME UM
Lançado originalmente em 2004, Crônicas – Volume Um foi editado no Brasil no ano seguinte, mas estava há algum tempo fora de catálogo. Agora, o livro volta às livrarias brasileiras. Na nova capa, há um retrato desfocado de Bob Dylan. Não poderia ser mais adequado. O livro é um relato autobiográfico do compositor a partir de sua chegada a Nova York em 1961, depois de ter saído do interior do Minnesota e passado algum tempo em Minneapolis, maior cidade do estado. No texto, Bob Dylan não se preocupa com a precisão de datas ou com a sequência exata dos acontecimentos. É um texto errático, que vai e volta no tempo, tem claros pendores ficcionais e ignora períodos da vida do autor que são caros aos fãs. Como em uma crônica medieval, o compositor elabora sua narrativa citando referências do passado e personagens que o acompanharam em sua jornada – neste caso, pelo mundo da canção. O tom é muitas vezes de gratidão e encantamento, mas há também ironia e humor. Do mesmo modo que a foto da capa, Bob Dylan não ajusta o foco sobre si, mas é sua imagem que emerge com força e profundidade ao longo das páginas.
Crônicas – Volume Um foi apresentado como o primeiro volume de uma série autobiográfica de Dylan, mas jamais teve continuidade. Além da capa, não há modificações substanciais desta edição brasileira em relação à anterior – o posfácio de Eduardo Bueno, o Peninha, e a tradução de Lúcia Brito seguem os mesmos, embora atualizados para a nova ortografia.
Crônicas – Volume Um
De Bob Dylan
Biografia, Planeta, 326 páginas, R$ 41,90.
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TARÂNTULA
Em 1966, a editora Macmillan recebeu a curiosa visita de um astro da música pop. Bob Dylan levava até os editores o manuscrito do que viria a ser Tarântula, um livro no qual ainda estava trabalhando. Mistura de diálogos non sense, narrativas imaginativas e poemas, o texto deixou a companhia confusa, mas não havia dúvida de que deveria ser publicado logo: o compositor era então o nome mais badalado da música jovem americana, o que asseguraria boas vendas de qualquer coisa assinada por ele. Dylan ficou de continuar o trabalho, sofreu um acidente de moto e se tornou ainda mais recluso.
Os fãs não souberam lidar com o silêncio. Exemplares com o texto provisório, distribuídos para a imprensa, começaram a circular em cópias piratas. Estimulada pela movimentação, em 1971, a editora finalmente lançou Tarântula. Prosa poética com fluxos de livre associação de referências, o livro aprofunda experimentações que Dylan trabalhava em suas músicas, conciliando fatos saídos de notícias de jornal com descrições oníricas e surrealistas. Como define o português Valter Hugo Mãe na edição recém-lançada pelo selo Tusquets, da editora Planeta, a obra é um "urgente exercício de vanguarda". Além do texto de Hugo Mãe, o volume conta com uma nova tradução, de Rogério Galindo. A edição anterior, lançada em 1986 pela extinta Brasiliense, tinha tradução de Paulo Henriques Britto e estava esgotada há anos – raros exemplares em sebos poderiam custar cerca de R$ 150.
Tarântula
De Bob Dylan
Prosa poética, Tusquets, 136 páginas, R$ 36,90.