Leonardo Sakamoto conquistou milhares de leitores com textões – artigos sobre política e direitos humanos que ultrapassam 10 parágrafos. O jornalista e professor da PUC-SP conta hoje com mais de 400 mil curtidas em seu perfil no Facebook. Ao mesmo tempo, angariou uma multidão de detratores. No livro O que aprendi sendo xingado na internet, o autor conta como é ser amado e odiado em tempos de ânimos acirrados.
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A internet tornou-se um ambiente agressivo?
Acompanhei o desenvolvimento do jornalismo da internet no Brasil, pois trabalho escrevendo para a internet desde 2001, e meu blog completará 10 anos no dia 26. Nesse primeiro ano, a presença de redes sociais no país era incipiente. Nos últimos 10 anos, as pessoas começaram a participar mais dos debates. Elas se deram conta de que não tinham apenas o poder, mas também o direito de interagir e discutir. Muita gente começou a fazer parte do debate público, e isso foi enriquecedor. Por outro lado, ao dar voz a todos indiscriminadamente, a internet também deu oportunidade para quem não foi educado para se expressar na esfera pública. Há quem não entenda que opiniões divergentes não só podem como devem conviver. Mas essa não é apenas uma questão de internet: os brasileiros, como um todo, não são acostumados com o debate público.
Como qualificar o debate nas redes?
Acredito na educação para os direitos humanos e para as diferenças, desde cedo nas escolas. E na educação para a mídia, para separar o joio do trigo, para que as pessoas entendam que uma reportagem com apuração bem feita tem mais qualidade do que um meme qualquer. Além disso, nós, como jornalistas, também deveríamos monitorar as redes, dialogando com nossos leitores para demonstrar o que não é verdade, o que é mentira, o que é exagero. Devemos ajudar a qualificar o debate público.
O senhor acredita que é um precursor dos textões?
Não sei (risos). Sinceramente, quando o pessoal começou a falar em textão, demorei a entender sobre o que estavam falando.
O tom no qual você escreve no blog é adotado por muita gente que começou a frequentar as redes e escrever sobre temas parecidos.
Tem gente que se sente irritado com isso. Não entendo. Dou o maior apoio para quem faz textão no Facebook. Se te irritar o texto comprido, não leia. Agora, se a pessoa quiser expor o pensamento inteiro dela, e alguém responder com outro texto grande, estão dialogando em maior profundidade Se alguém reclamar que estão dizendo um monte de groselha, digo "meu amigo, é a partir da groselha que se fazem outros drinques".
O que aprendi sendo xingado na internet
Leonardo Sakamoto
LeYa, 160 págs., R$ 29,90.
Encontro com o autor nesta sexta-feira, às 17h, no Auditório Barbosa Lessa.
Sessão de autógrafos hoje, às 19h, na Praça de Autógrafos.