Há poucos dias chegou na redação um álbum de quadrinhos de capa dura, com uma acertada harmonia de cores e em grande formato – na verdade, verticalmente ainda maior que os costumeiros álbuns de grande formato que chegam ao mercado. "Coisa de quem sabe o que está fazendo", pensei. E deve saber mesmo: o responsável pela edição é o artista gráfico gaúcho Rodrigo Rosa, que assina adaptações literárias para os quadrinhos e cursou mestrado em Edição Literária em Barcelona.
Pois o álbum em questão é Sharaz-De: contos de As mil e uma noites, do italiano Sergio Toppi (1932 – 2012), e é apenas o primeiro de uma nova iniciativa do mercado editorial de Porto Alegre. A publicação é a estreia da editora Figura, que Rosa dirige com a mulher, Ivette Giraldo. O lançamento do livro será neste sábado, às 18h30min, na Galeria Hipotética, com um painel de Rosa sobre o autor.
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Stout Club, Avec, 8Graphics e, agora, a Figura: nos últimos dois anos, tem multiplicado no Estado o número de selos que se dedicam, entre outros projetos, à publicação de quadrinhos. Intrigada com a multiplicação, a coluna foi apurar suas causas. Entre os principais palpites, estão a tradição do RS no cartum, mas as mudanças tecnológicas das últimas décadas são fundamentais para esse processo.
Além de ser berço de quadrinistas de dimensão nacional, como Adão Iturrusgarai, Allan Sieber e Chiquinha, o Estado também conta com o exemplo da L&PM, casa editorial que, há mais de 40 anos, faz circular nomes do underground e do mainstream das HQs nacionais e internacionais. É o próprio Ivan Pinheiro Machado, o "PM" do selo, que aponta como a tecnologia facilitou a edição dos livros que abusam de recursos gráficos:
– Hoje, é muito mais fácil devido à tecnologia e à internet, que é um grande meio de divulgação. Quando começamos, um álbum a cores era inviável para tiragens menores que 30 mil exemplares.
Quatro décadas depois, Sharaz-De, por exemplo, consegue ser viabilizado com suas exuberantes cores um uma tiragem de apenas mil unidades. A 8Graphics ainda revela que não trabalha com tiragens maiores que 2 mil exemplares. Editar álbuns importados também ficou mais fácil e barato, já que não é mais preciso receber os pesados fotolitos pelo correio – tudo hoje chega digitalmente.
A distância de Porto Alegre das principais capitais do país também é amenizada com as novas possibilidades da comunicação digital, mas segue apontada como a grande dificuldade dos editores.
– Ficamos longe do principal centro de consumidores, que é o eixo Rio-SP, onde ficam também as sedes das grandes redes de livrarias – diz Artur Vecchi, da Avec.
No entanto, para quem não tem grandes pretensões mercadológicas, nada disso assusta.
– Quero publicar coisas de que eu gosto, que fazem falta no nosso mercado, até porque não há ideia de transformar a Figura em um grande editora. É um projeto romântico, de quem é apaixonado pelo que faz – explica Rosa.
A comunidade de leitores de quadrinhos comemora o romantismo.
Sharaz-de
De Sergio Toppi
Quadrinhos, Figura, 160 páginas, R$ 79,90.
Lançamento com painel de Rodrigo Rosa sobre o autor neste sábado, às 18h30min, na Galeria Hipotética (Visconde do Rio Branco, 431), em Porto Alegre.
(Texto de Alexandre Lucchese. Colaborou Henrique Coradini)
FICHA DE LEITURA
A Já Editores está colocando em circulação Woodstock em Porto Alegre, livro no qual o escritor e compositor Rogério Ratner recupera a importância do radialista Júlio Fürst para a criação de uma cena roqueira na Porto Alegre dos anos 1970. Fürst, hoje locutor da Itapema FM, encarnava na época, na rádio Continental AM, o personagem Mr. Lee, que deu espaço ao nascente movimento da música independente local em Porto Alegre, com grupos como Almôndegas, Utopia, Byzarro e Afrosul, além de compositores como Nelson Coelho de Castro e Hermes Aquino. O sucesso do programa deu origem a festivais ao vivo que marcaram o panorama musical da Capital. O livro custa R$ 15 e está sendo vendido no site da editora, no link: zhora.co/livrowoodstock.
Uma das grandes tradutoras brasileiras, que já verteu para o português livros de Balzac, Mircea Eliade e Roland Barthes, entre muitos outros, Ivone Benedetti estreou na literatura em 2010 com o bem recebido romance Immaculada, editado pela Record e finalista do Prêmio São Paulo daquele ano. Agora por outra editora, a Boitempo, ela apresenta sua segunda narrativa longa, Cabo de guerra. Um lançamento com timing oportuno, dado que muito se discutiram, nos últimos meses, tentativas de relativização dos horrores da ditadura militar. Cabo de guerra (304 páginas, R$ 59) aborda os anos de chumbo pelo ponto de vista de um jovem que, de início simpatizante das organizações esquerdista, é capturado pela repressão e transformado em um infiltrado nas organizações guerrilheiras.
O Clube dos Editores do Rio Grande do Sul realiza na próxima sexta-feira, dia 17, no Goethe-Institut Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112, bairro Moinhos de Vento), a oitava edição do seminário O Negócio do Livro. O evento anual, promovido pela entidade que congrega as editoras sediadas no Estado, debate desafios e questões do meio editorial, e terá neste ano entre os convidados o presidente da editora Sextante, Marcos da Veiga Pereira, e o diretor da distribuidora de e-books Bookwire Brasil, Marcelo Gioia. O encontro será realizado das 8h30 às 18h30. As inscrições custam R$ 80 e podem ser feitas pelo site do evento.
Gaúcho de Taquara e hoje radicado no interior de São Paulo, o escritor Menalton Braff passou os últimos 10 anos dedicado à narrativa longa, com obras como A muralha de Adriano (2007) e Moça com chapéu de palha (2009). Agora, volta ao conto, gênero que o consagrou com um Jabuti em 2000, por sua coletânea À sombra do cipreste. O novo livro reúne 18 narrativas que alegorizam os embates sociais do Brasil contemporâneo e se chama O peso da gravata (176 páginas, R$ 24,90). Está saindo pela paulista Primavera Editorial.
Uma das personagens mais fascinantes da história cultural brasileira, Adalgisa Nery foi poeta, jornalista, política, escritora e musa de artistas como o pintor modernista Ismael Nery (seu primeiro marido) e o poeta Carlos Drummond de Andrade. Ainda assim, tanto sua biografia como seus livros estavam fora de catálogo nas últimas décadas. No ano passado, a editora José Olympio recolocou nas livrarias uma nova edição de seu romance autobiográfico A imaginária, de 1957, e agora prossegue na reedição da obra da autora com Neblina, seu segundo romance, publicado originalmente em 1972. Na narrativa, uma mulher em seu leito de morte, vegetativa após uma complicação cirúrgica, entrega-se a um fluxo de consciência que recupera os momentos definidores de sua vida em um surreal diálogo com uma segunda cabeça que, em seu delírio, ela enxerga projetada de seu ombro.