— Revisitar Elis Regina é revisitar a história do Brasil — afirma a atriz Laila Garin, que interpreta a cantora gaúcha no espetáculo Elis, a Musical.
Traçando paralelos entre a biografia da pimentinha e a realidade do país, sempre ancorada na música, a obra fincou seu nome entre os mais aclamados musicais brasileiros. Desde a estreia, em 2013, foram cerca de 325 mil espectadores, 360 apresentações e algumas das principais distinções do teatro brasileiro. Números impressionantes, celebrados agora na turnê alusiva aos 10 anos do espetáculo, que chega a Porto Alegre nesta sexta, sábado e domingo para sessões no Theatro São Pedro. Os ingressos estão esgotados.
Atriz principal desde a estreia, Laila Garin destaca que, para além da efeméride, não faltam razões pelas quais comemorar:
— Acho que a maior comemoração é por estarmos vivos depois dessa pandemia, com uma gestão de saúde leviana. Também, por estarmos fazendo teatro ainda, após um tempo de perseguição aos artistas e de tentativas de desmonte da cultura. E temos que celebrar a democracia, celebrar a Elis, celebrar esse espetáculo que realmente mudou a minha vida.
Com texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade e direção assinada por Dennis Carvalho, o musical repassa a vida e a obra de Elis Regina ao longo de mais de 50 números musicais, apresentados em 2h15min. Estão representados os principais momentos da carreira da artista, mas também pontos da vida pessoal dela.
Entram no roteiro o tumultuado relacionamento de Elis com Ronaldo Bôscoli (Flavio Tolezani), o casamento com César Camargo Mariano (Claudio Lins) e as experiências da maternidade. Já no panorama artístico, o musical aborda o início da carreira de Elis, ainda em Porto Alegre, e marcos como o show Falso Brilhante e a gravação do disco com Tom Jobim (Santiago Villalba).
O público também pode esperar reencontrar grandes clássicos de Elis como Fascinação, O Bêbado e o Equilibrista, Alô, Alô, Marciano, Como Nossos Pais e Madalena, entre outros que serão apresentados ao vivo pelos atores do musical, com banda e coro sobre o palco.
— Dennis Carvalho sempre brincou que dirigir esse espetáculo é como ser técnico da Seleção Brasileira, pois todo mundo tem uma opinião sobre como deve ser, as músicas que deveriam entrar — conta Laila Garin que, na Capital, sobe ao palco do Theatro São Pedro na sexta e no domingo. As sessões de sábado terão a atriz Lílian Menezes como Elis Regina. As duas revezam o papel desde 2013.
— Não há como incluir todas as músicas que marcaram todas as pessoas, mas as canções e os momentos mais importantes estão ali. Fazemos o espetáculo para quem já a conhece Elis e quer celebrá-la, mas também para as novas gerações que porventura não têm a dimensão do que foi Elis Regina. A gente quer contar e celebrar a história dela mesmo —adianta.
Vestida de dentro para fora
Laila Garin revela se emocionar a cada nova apresentação de Elis, a Musical, mesmo após 10 anos. O papel foi responsável por projetá-la ao país e rendeu prêmios importantes. É claro que isso traz um certo conforto. Agora, segunda ela, o teor da emoção de subir ao palco para interpretar Elis é diferente, muito mais prazerosa do que há uma década.
— Há um relaxamento maior, porque sinto que o público já me acolheu como Elis, já topou essa brincadeira comigo. E há um relaxamento que vem da experiência, pois fiz muitos trabalhos ao longo desses 10 anos, aprendi muitas coisas, inclusive tecnicamente — analisa Laila. — Acho que hoje sinto muito mais prazer, mas sempre rola um frio na barriga. Quando eu parar de sentir frio na barriga, eu me aposento, porque não terá mais sentido.
À época da estreia, a atriz surpreendeu público e crítica por sua interpretação de Elis. Laila não possui qualquer semelhança física com a artista gaúcha, mas nem precisa. O trabalho de caracterização contorna muito bem o quesito, porém, este nunca foi o foco do espetáculo.
A atriz defende uma interpretação da essência de Elis Regina, com quem diz se identificar pela coragem de ir atrás de seu lugar ao Sol e também o gênio forte.
— Representar a Elis me permite ser eu mesma, pois ela é tão autêntica, que preciso estar muito inteira. É como me vestir de dentro para fora de uma mulher muito provocadora, muito intensa e muito verdadeira — reflete a atriz, que também já interpretou personalidades como Clara Nunes, Carmen Miranda e Edith Piaf.
— Neste tipo de papel, não adianta você imitar a forma, sabe? Vale muito mais como você apreende a energia, o que te toca daquela pessoa. Pode parecer uma coisa abstrata, mas entendo que é essa coisa de vibração mesmo. No caso da Elis, há aquela força imensa dela.
A volta do musical a Porto Alegre, uma década após a estreia, vem acompanhada da certeza de que, como cantou Elis, "amor não tem que se acabar".
— Estou indo sem medo, porque há 10 anos já fui muito bem recebida como Elis, com muito amor. Os gaúchos já aceitaram essa baiana fazendo a gaúcha deles (risos) — brinca Laila Garin.
Elis, A Musical
- Sexta, às 21h; sábado, às 17h e 21h; e domingo, às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
- Ingressos esgotados.