Um trem desgovernado leva passageiros por uma paisagem de inverno a um destino ignorado. Um homem e uma mulher chineses tentam a vida na Itália, mas encontram mais trabalho precário em uma fábrica de tecidos. Em outra situação, um homem está no hospital para ver o pai, que sofreu queimaduras depois de uma tentativa de suicídio. Esses três eixos — histórias sem aparente relação que podem ser associadas pela reflexão do espectador — constituem a peça jogar paraíso, de Thomas Köck.
Empregando as metáforas do gelo e do fogo para abordar temas como a mudança climática e as condições de trabalho, o texto do jovem dramaturgo austríaco radicado na Alemanha foi escolhido para a terceira edição do projeto Transit, do Instituto Goethe de Porto Alegre, que a cada ano seleciona dois grupos teatrais gaúchos para montar, separadamente, espetáculos a partir de uma mesma peça escrita por autor de língua alemã, traduzida para o português.
Os resultados poderão ser vistos na programação do Festival Palco Giratório Sesc/POA por meio de duas das mais inventivas companhias teatrais do Rio Grande do Sul: a Cia. Espaço em Branco encena Tocar Paraíso nesta quinta (16) e sexta (17), às 20h, no Auditório do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112), enquanto a ATO Cia. Cênica mostra Expresso Paraíso nos dias 21 e 22, no mesmo horário e local. Depois da sessão do dia 21, haverá debate com o próprio Köck, o crítico Valmir Santos e os editores do site Agora Crítica Teatral, Michele Rolim e Renato Mendonça, que acompanharam o processo de criação dos grupos.
Discurso vira ação política
Para transformar o discurso crítico ao consumismo em ação, a Cia. Espaço em Branco não adquiriu produtos industriais para criar Tocar Paraíso. O cenário tem lâmpadas reutilizadas do Instituto Goethe. O diretor João de Ricardo explica que o recurso criou dificuldades técnicas, uma vez que as lâmpadas antigas requerem reatores e muita fiação:
— É para que o processo de trabalho seja condizente com o que estamos dizendo. Nosso trabalho é artesanal, e a artesania vai contra a produção industrial. Isso dá um norte ético ao trabalho, que é extremamente político.
O palco nu é uma constante nas produções da companhia, estética que remete tanto à cena contemporânea quanto ao passado, como no teatro elisabetano.
— Desde o começo, a companhia dá importância à capacidade dos atores distorcerem e criarem tempo e espaço. Costumamos trabalhar sem cenário, dando importância para a iluminação e para a fisicalidade das atuações — diz o diretor, que estará em cena ao lado de Anildo Böes, Eduardo d'Avila, Evelyn Ligocki, Fernanda Carvalho Leite e Iandra Cattani.
Também a ATO Cia. Cênica exibirá, em Expresso Paraíso, diferentes características que puderam ser vistas em suas produções anteriores, como adianta o diretor Maurício Casiraghi:
— Estarão presentes a velocidade da encenação, vista no primeiro espetáculo da cia, O Feio; a utilização de vídeo, frequente nas nossas montagens; o estilo de atuação, que visa à perspectiva da palavra, como no espetáculo O Casal Palavrakis; e a troca entre as gerações de artistas, uma busca desde a montagem de Mameloschn.
As experientes atrizes Arlete Cunha e Mirna Spritzer dividirão a cena com a nova geração de Danuta Zaghetto, Marcelo Mertins, Mariana Rosa, Paulo Roberto Farias e Rossendo Rodrigues.
— As duas, assim como todo elenco, embarcaram nessa viagem do processo, e o grupo se tornou coeso e franco, fazendo com que os encontros sejam sempre de muito aprendizado e troca de experiências — diz Casiraghi.
PROJETO TRANSIT NO 14º FESTIVAL PALCO GIRATÓRIO SESC/POA
Tocar Paraíso, com a Cia. Espaço em Branco
Duração: 120 min. Classificação: 16 anos.
Nesta quinta (16) e sexta-feira (17), às 20h.
Teatro do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112), em Porto Alegre.
Expresso Paraíso, com a ATO Cia. Cênica
Duração: 90 min. Classificação: livre.
Dias 21 e 22 de maio, às 20h.
Teatro do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112), em Porto Alegre.
Após a sessão do dia 21, haverá debate com o dramaturgo Thomas Köck, o crítico Valmir Santos e os editores do site Agora Crítica Teatral, Michele Rolim e Renato Mendonça, que acompanharam o processo de criação dos grupos.
Ingressos para cada peça: R$ 15 (cartão Sesc/Senac de Comércio e Serviços, empresários, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos) e R$ 30 (público geral). À venda no Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), de segunda a sexta, das 8h às 19h45 (ou até as 15h para as apresentações do dia); sábado, das 8h às 13h; e domingo, das 15h às 19h. Ou na bilheteria do Teatro do Goethe 1h antes de cada sessão. Venda online (com taxa) pelo site do festival.