Com mais de uma centena de atrações, como decidir o que ver no Porto Verão Alegre 2019? A equipe de GaúchaZH separou alguns dos principais espetáculos do festival em categorias para facilitar a sua escolha. A programação completa, com datas e horários, pode ser consultada no site portoveraoalegre.com.br – ou diariamente, a partir de amanhã, no roteiro do Segundo Caderno.
MULHERES NO PALCO
A programação do festival traz duas visões contrastantes a partir das mulheres: peças que falam sobre empoderamento e outras que lançam um olhar debochado para as coisas da vida. Na primeira categoria está o espetáculo Mulheragem, dirigido por Guadalupe Casal, com sete cenas curtas sobre mulheres de importância histórica e como lutaram para encontrar seu espaço.
Duas das atrizes do elenco, Iassanã Martins e Juçara Gaspar, também estão em Todas Nós, que aborda a violência contra as mulheres a partir de histórias reais. Juçara ainda vive Frida em Frida Kahlo, à Revolução!, que completa 10 anos em cartaz. Mais densa e experimental, A Fome traz a atriz Sissi Venturin na figura de uma “pós-mulher” que rememora seus relacionamentos afetivos.
Partindo para a comédia, o Porto Verão ainda reserva espaço para espetáculos que buscam o lado divertido das vivências e relacionamentos. É o caso dos sucessos de público Se Meu Ponto G Falasse, Manual Prático da Mulher Moderna e Inimigas Íntimas.
DRAMAS INSPIRADORES
Também faz parte do teatro a tarefa de apresentar personagens motivadores. Um Certo Capitão Fernando é a visão do diretor Bob Bahlis sobre a vida de Fernandão, ex-jogador do Inter. Divaldo Franco: O Semeador de Estrelas é a homenagem de Renato Prieto ao médium que dá título à peça. Em Ícaro, o ator Luciano Mallmann inspira-se em sua vida e na de outros cadeirantes para refletir sobre sua condição. E Lembranças no Lago Dourado aborda a amizade na velhice.
MÚSICA
Nem só de teatro vive o Porto Verão Alegre. Há shows dos mais diferentes gêneros. O Renato Borghetti Quarteto confere virtuosismo à música brasileira e platina no show Gaita na Fábrica, enquanto o grupo Canto Livre celebra sua trajetória em Vida. Ainda na seara regional, Causos do Coronel mistura teatro, música e dança para contar histórias escritas por Luiz Coronel. Há também homenagens aos grandes da MPB. Antônio Carlos Falcão incorpora Maria Bethânia em A Doce Bárbara, e Vinicius de Moraes inspira duas atrações: As Tias de Vinicius é uma comédia musical baseada em suas canções, que também são lembradas no Sarau Voador. Em formato de trio, Pedrinho Figueiredo toca clássicos da “batida diferente” no show O Movimento da Bossa Nova. Ritual - Tempo Negro é um espetáculo a partir do cancioneiro afro-americano, e Beatles em Concerto apresenta releituras em formato flauta-violão-violoncelo. Quem prefere um suingue vai curtir o show da banda Trabalhos Espaciais Manuais, que combina samba, funk, jazz e afrobeat.
DRAMATURGIA ALEMÃ
Peças de autores de língua alemã estão tão presentes que merecem uma categoria à parte. Tremor é a montagem da Cia. Rústica do texto da jovem Maria Milisavljevic, apresentando vozes sobre impasses geopolíticos e sociais da atualidade. Também de um autor contemporâneo, Jürgen Berger, é a peça Pátria Estrangeira, da ATO Cia. Cênica, em que atores de ascendência germânica no Rio Grande do Sul investigam suas identidades. A mesma companhia apresenta o elogiado O Feio, com a história de um homem que se torna bem-sucedido ao fazer uma cirurgia plástica. Já Falk Richter é o autor de Deus É um DJ, dirigida por Alexandre Dill, sobre um casal de artistas que expõe a sua vida em suas criações.
COMÉDIAS POPULARES
Não tem como pensar no Porto Verão Alegre sem elas, as comédias que sempre conquistam novos públicos. Não por acaso, o festival tem esse nome porque no início era dedicado ao gênero. Clássico do teatro gaúcho, Bailei na Curva conquistou gerações retratando um grupo de crianças durante a ditadura militar. Pois É, Vizinha... é uma comédia com Deborah Finocchiaro que aos poucos revela uma história séria de abuso. Homens de Perto – Desgovernados é outro trabalho que recorre ao humor para falar de um tema atual, no caso as pequenas e grandes corrupções nossas de cada dia – este é o terceiro espetáculo com os personagens. Despretensioso, mas não menos engraçado, o Guri de Uruguaiana participa com dois espetáculos: Guri de Uruguaiana 2 – A Missão e Os Causos do Guri. Também são diversão garantida os espetáculos da Macarenando Dance Concept que coreografam as letras de célebres canções: Abobrinhas Recheadas – Rei Roberto e Dance a Letra – Caetano.
PARA VER COM AS CRIANÇAS
Em uma era hiperconectada, nada melhor do que tirar as crianças da frente das telas para ver um espetáculo ao vivo. O Porto Verão reserva atrações baseadas em narrativas célebres. Flamenco Imaginário é um espetáculo da Cia. de Flamenco Del Puerto a partir de O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo (livro que inspirou o desenho animado da Disney). A Del Puerto também apresenta o espetáculo adulto A’gusto. Caravana da Fantasia Conta o Patinho Feio é uma recriação dos dramaturgos Ronald Radde e Reissoli Moreira para a célebre história de Hans Christian Andersen. Homenageando os antigos disquinhos de vinil coloridos, os atores Gabriel Guimard e Nora Prado recontam História da Baratinha, A Festa no Céu e Chapeuzinho Vermelho em Tem Gato na Tuba. Guimard também está em Proezas de Extrabão, com esquetes de mímica. Era Uma Vez: Contos, Lendas e Cantigas fala de Nossa Senhora Aparecida e do Negrinho do Pastoreio, enquanto João e Maria encena o conto coletado pelos Irmãos Grimm.
PEÇAS BASEADAS EM CLÁSSICOS
Um clássico pode ser antigo ou moderno. No primeiro grupo está, claro, Shakespeare, autor de A Comédia dos Erros, presente no Porto Verão na longeva e prestigiada montagem da Cia. Stravaganza. E Carlo Goldoni, dramaturgo italiano do século 18 que escreveu a também comédia Os Dois Gêmeos Venezianos, encenada por Suzi Martinez. Já o ator Tonico Pereira interpreta Sócrates em sua defesa conforme narrada por Platão em O Julgamento de Sócrates. Falando agora de clássicos modernos, o Depósito de Teatro apresenta seu cultuado espetáculo Bukowski – Histórias da Vida Subterrânea, com Roberto Oliveira no papel do próprio; a atriz Deborah Finocchiaro e o diretor Luís Artur Nunes mergulham na obra de Caio Fernando Abreu em Caio do Céu; o diretor Fernando Kike Barbosa e a atriz Nina Eick inspiram-se em Guimarães Rosa para criar O Sertão em Mim e o IN-Coletivo Cênico traz Metamorphosis, a partir da obra do checo Franz Kafka.
HISTÓRIAS SOMBRIAS
A arte é feita de bons e maus sentimentos, pois assim é o ser humano. Goela Abaixo ou Por que Tu Não Bebes?, da Cia. Teatro ao Quadrado, mostra um diálogo absurdo e às vezes engraçado em uma opressiva cervejaria do Leste Europeu nos anos 1970. Da mesma companhia, Os Homens do Triângulo Rosa retrata a perseguição aos homossexuais durante o nazismo. Em outra perspectiva sobra a barbárie, O Anexo Secreto encena o diário de Anne Frank, a respeito da família judia que se refugiou em uma casa em Amsterdã. Metáfora da ditadura, a comédia Apareceu a Margarida leva à cena uma professora tirana, vivida por Renato Del Campão, que se dirige aos espectadores como se fossem seus alunos. Campão também está em Carrie, a Histérica, ao lado de Zé Adão Barbosa, paródia do filme Carrie, a Estranha, e em Cabaré Veneno, celebração da trajetória da Cia. Teatrofídico. Já O Mal-entendido é uma excelente montagem da peça de Albert Camus sobre um homem que se reencontra com a mãe e a irmã depois de muito tempo em uma misteriosa hospedaria.
TEATRO CONTEMPORÂNEO
Quem disse que o contemporâneo precisa ser hermético? Muito do teatro produzido hoje é interessante, conta uma boa história (mesmo que desconstruída) e pode ser até divertido de uma forma inteligente. Estreia do festival, Lilás reúne duas peças do dramaturgo norueguês Jon Fosse (Lilás e Guitar Man), com direção de Luciano Alabarse, que retrata as vidas e os conflitos de um grupo de músicos. Outro contemporâneo prestigiado é o romeno naturalizado francês Matéi Visniec, que escreveu Pequeno Trabalho para Velhos Palhaços, sobre três clowns que se reencontram em uma entrevista de emprego. Colagem de textos de diferentes autores, Arena Selvagem é uma reunião de cenas que exploram a animalidade no ser humano pelo olhar do Grupo Cerco. Enquanto isso, o ator Daniel Colin busca na obra de Chuck Palahniuk (autor de Clube da Luta) os personagens que interpreta no solo Viral.
AMOR E SEXO
Relações afetivas nunca foram um negócio muito fácil. Melhor para o teatro. Pq Casamos?! traz os atores Rogério Beretta e Suzi Martinez misturando ficção e realidade na pele de um casal que descobre incompatibilidades em uma peça escrita por Vitório Beretta, filho de Rogério e Suzi. Ainda na comédia, Fui – A Peça da Separação traz um casal de homens, vividos por Leonardo Barison e Eduardo Mendonça, que remexe mágoas do passado, em uma história de autoria de Claudia Tajes. Há quase 14 anos em cartaz, Como Emagrecer Fazendo Sexo imagina o revolucionário tratamento descrito no título da peça, de autoria de Claudio Benevenga, também ator do elenco. Já Um Corpo Estranho Entre Nós é uma montagem do diretor José Ronaldo Faleiro da única peça escrita por Josué Guimarães, a respeito de um triângulo amoroso.