Os impasses vividos pelos países latino-americanos, expostos por meio de um olhar que remonta ao processo histórico de colonização, motivam a peça A Tragédia e Comédia Latino-americana, um dos destaques do 25º Porto Alege Em Cena. A produção da companhia Ultralíricos será apresentada nesta quinta (13) e sexta (14), às 21h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), com ingressos entre R$ 20 e R$ 80 (veja detalhes no roteiro da página 6). O espetáculo tem direção de Felipe Hirsch, conhecido do público gaúcho pelos espetáculos Trilhas Sonoras de Amor Perdidas (2011), Thom Pain/Lady Gray (2006) e A Vida É Cheia de Som e Fúria (2000), entre outras produções da Sutil Companhia.
O trabalho que chega agora à Capital, com três horas de duração, é a junção de duas peças estreadas em 2016 que formavam um díptico: A Tragédia Latino-americana e A Comédia Latino-americana. A primeira valeu a Hirsch o Prêmio Shell de São Paulo de melhor direção, além de ter oportunizado indicações a Arthur de Faria pela direção musical e a Daniela Thomas e Felipe Tassara pelo cenário, composto por grandes blocos de isopor que se desgastam durante a ação, deixando um rastro de bolinhas brancas que ornam o palco.
Os textos falados em cena foram garimpados nas obras de escritores latino-americanos como Glauco Mattoso, Lima Barreto, Augusto de Campos, Roberto Bolaño e Cabrera Infante, além de nomes menos celebrados no Brasil, como os argentinos J.R. Wilcock e Salvador Benesdra e o mexicano Gerardo Arana.
A presença das obras destes autores conecta uma espécie de elo perdido do Brasil com os países vizinhos, cujas literaturas e culturas muitas vezes são conhecidas por meio da mediação ou da legitimação do mercado de língua inglesa.
"O espetáculo desvia da expectativa de acolhimento ao boom latino-americano que, nos anos 1960 e 1970, representou tomada de consciência e afirmação identitária em países subdesenvolvidos", escreveu o crítico Valmir Santos, do site Teatrojornal, sobre A Tragédia. "Em vez de saudar o realismo mágico (...), o palco irradia vozes de escritores convictamente marginais e esteticamente radicais, a maioria de gerações posteriores."
Para apresentar estas cenas de colonização, injustiça e marginalidade, a montagem escala um elenco numeroso: Caco Ciocler, Camila Márdila, Danilo Grangheia, Georgette Fadel, Javier Drolas, Julia Lemmertz, Magali Biff, Manuela Martelli, Nataly Rocha e Pedro Wagner. Sublinhando o elemento musical sempre potente nas encenações de Hirsch, a trilha sonora é executada pela Ultralíricos Arkestra, com direção e arranjos de Arthur de Faria.