Ingmar Bergman era tão obcecado pela história de seus pais que escreveu três livros sobre eles, tendo resultado em adaptações cinematográficas dirigidas por outras pessoas. Depois da morte de sua mãe, o cineasta sueco encontrou os diários em que ela relatava ter tido um relacionamento extraconjugal com um homem mais jovem do que seu marido.
O imbróglio é contado no romance Conversações Privadas, que foi levado às telas em 1996 por Liv Ullmann, atriz de diversos clássicos de Bergman e com quem ele teve um relacionamento de cinco anos, além de uma filha. Liv também adaptou o roteiro para o teatro.
Uma trama de solidão, religião e culpa, Conversações Privadas é a base da peça A Bergman Affair, que a companhia The Wild Donkeys apresenta nesta quarta (12) e quinta (13), às 21h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), dentro da programação do 25º Porto Alegre Em Cena.
Não se preocupe se você jamais ouviu falar da Wild Donkeys: é um novo projeto criado pelo diretor francês Serge Nicolaï, do Théâtre du Soleil, e pela atriz italiana Olivia Corsini, com passagem pelo Soleil e atualmente trabalhando com Romeo Castellucci.
O casal teve sua vida retratada no documentário Olmo e a Gaivota (2015), da brasileira Petra Costa e da dinamarquesa Lea Glob, que mostra a gravidez de Olivia. O longa-metragem, por sinal, será exibido nesta quarta (12), às 20h, e no dia 22, às 18h, na Cinemateca Capitólio, na mostra de filmes paralela ao Em Cena.
A Bergman Affair chega ao Brasil no ano em que é celebrado o centenário de nascimento do cineasta. A coincidência de datas não foi proposital, como conta Nicolaï em entrevista em inglês a Zero Hora. Ele se diz, entretanto, honrado em poder prestar homenagem ao cineasta nesse momento:
– Eu estava pensando na forma de um novo espetáculo e procurava um texto. Há muito tempo, Olivia me falava sobre Bergman. Quando entendi que o texto não viria de mim mesmo, resolvi ler o livro que ela indicou. E realmente foi uma conexão perfeita entre o autor, o romance e a situação política da mulher no mundo.
Do particular ao universal
Na peça, Anna (papel de Olivia) é uma mulher na faixa dos 40 anos presa em um casamento apático com o pastor Henrik (Stephen Szekely) e mãe de três filhos que se envolve com o jovem estudante Tomas (Andrea Romano). Ao procurar o experiente pastor Jacob (Gerard Hardy) para confessar sua situação, Anna é aconselhada a revelar a verdade ao marido.
O espetáculo consiste em quatro conversas da protagonista: com o pastor, com o marido, com o amante e com a mãe. Uma singularidade desta montagem é que, durante a ação, dois bailarinos manipulam os atores como se fossem bonecos, uma técnica inspirada pelo teatro de marionetes japonês Bunraku.
Para Nicolaï, o fato de trabalhar com uma história baseada na vivência familiar de Bergman não é o principal do espetáculo:
– No livro, Bergman fala sobre sua mãe e seu pai, mas isso não foi importante para mim. Tentei ser universal porque fui tocado pela história. É uma reflexão sobre como encontrar ou não soluções para problemas humanos.
Sobre os planos da nova companhia teatral, o diretor adianta que tem desejo de montar Os Justos, de Albert Camus, e Nelson Rodrigues. Mas por enquanto o foco está em A Bergman Affair:
– É o começo do nosso desejo de criar um mundo teatral. Queremos falar sobre como se defender contra tudo o que está fazendo o mundo não funcionar bem como deveria. Defendemos um mundo bom.
A BERGMAN AFFAIR
Nesta quarta (12) e quinta (13), às 21h.
Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 80. À venda no site uhuu.com/poa-em-cena (com taxa) e na bilheteria oficial no BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300, de segunda a sábado, das 13h às 22h), sem taxa.